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"Sing Street" começa por parecer um filme politico, mas ao fim de 15 minutos já percebemos que não haverá outro "Sunday Bloody Sunday". Então, perguntamos-nos se poderá ser outro "The Commitments", mas mesmo essa expectativa fica gorada ao fim de mais 10 minutos. Este é - ou deveria ser - mais um "rapaz conhece rapariga", coisa que está bem escrita na capa, portanto só é enganado quem quer.
A primeira coisa que salta à vista é o extremo cuidado que o realizador John Carney colocou na reconstituição da época, nas roupas, nos carros (o Golf GTI Cabrio continua lindo!...) e, principalmente, na música - que, aliás, é o tema central do filme, restando apenas saber se é mais ou menos importante que a história de amor entre Conor (Ferdia Walsh-Peelo) e Raphina (Lucy Boynton).
É preciso deixar um aviso aos mais distraídos: "Sing Street" não é uma comédia ligeirinha. É um drama intenso, sobre pessoas intensas, a passarem momentos intensos. Nem por isso deixa de fazer rir, é verdade, mas o divertimento aqui é circunstancial, deve-se a momentos pontuais bem conseguidos, e talvez sejam esses pequenos instantes de leveza, que retiram peso ao conjunto.
Num ano em que outro musical anda nas bocas do mundo, "Sing Street" vem equilibrar a balança para um cinema mais adulto, embora protagonizado por adolescentes, também estes atrás dum sonho de fama e sucesso, apesar de confinados a uma cidade provinciana e que não lhes oferece grande futuro. Este é um filme sobre música e com música, uma história de amor com todos os clichés das histórias de amor. Só que vem apresentado com a habitual excelência da filmografia das ilhas britânicas, com atores competentes e uma direção exemplar.
Raphina diz que o amor é "triste-feliz" e na verdade os anos 80 deram Duran Duran, The Cure, Guns n'Roses, mas também deram Ian Curties, Bon Scott, Cliff Burton. É desta dualidade entre a vida e a morte, a felicidade e a tristeza, que é feito "Sing Street". Tal como uma grande canção, que gostaríamos nunca acabasse, este filme termina demasiado depressa, quando desejávamos que ele continuasse para sempre.
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