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Mateo Gil é co-argumentista de "Abre Los Ojos" - o original do qual "Vanilla Sky" é uma pálida imagem -, um dos mais fantásticos romances que nos pode ser dado assistir. Este "Realive" (ou "Proyecto Lázaru") vai buscar muito do fascínio do primeiro, na forma como explora a angústia da vida humana, frágil e dramática, mas acrescenta-lhe a própria direção de Mateo, tão seguro atrás das câmaras como na escrita de histórias.
Talvez este "Realive" tenha mais a ver com "Mar Adentro" (outro co-argumento de Mateo Gil), no sentido em que procura projetar a vida para além das possibilidades físicas do corpo, quer dizer, existe realmente um espírito que pode permanecer vivo, depois da degradação material da carne? Ao contrário do Ramón Sampedro de "Mar Adentro", este Marc Jarvis (Tom Hughes) quer, pelo contrário, prolongar a vida além da morte, o que - à primeira vista, e só à primeira vista - o coloca nos antípodas do paraplégico Ramón, que se quer suicidar.
A história do filme pode ser resumida com facilidade: depois de ser diagnosticado com uma doença grave, Marc Jarvis decide congelar-se para num futuro, próximo ou não, poder ser reanimado numa época em que haja cura para o seu mal. Para trás fica a grande paixão da sua vida, Naomi (Oona Chaplin), que sem ninguém o suspeitar, toma uma importante decisão.
Dito assim, parece um enorme dejà vu e até pode afastar alguns espetadores mais desconfiados. Mas a realidade é que o filme apresenta-nos um drama que ultrapassa em muito o cliché do "viver para sempre", ideia que desaparecerá muito depressa da cabeça de alguns, depois de assistirem a "Realive". Quem quer viver para sempre? Ou, dito de outra forma, a eternidade valerá realmente a pena, se as memórias nos colocarem exatamente no momento em que já não podemos estar nunca mais?
Mateo Gil é um argumentista dum talento ímpar, e até pode ser que a sua realização não consiga captar a profundidade da história. Talvez... Mas a verdade é que "Realive" deve ser um dos melhores filmes de ficção científica ou um dos melhores romances - cada um que decida por si -, dos últimos tempos. Uma viagem entre um laboratório que é uma obra-prima da ciência médica de 2084 e uma casa à beira mar (o filme não indica onde, mas pode ser qualquer cidade costeira, tipo Los Angeles) de 2015.
"Realive" pode partir de uma premissa simples: em principio, todos nós desejaríamos viver para sempre. No entanto, desconstrói o problema da eternidade de tal forma, levando o desespero duma existência sem momentos concretos ao limite do insuportável. No final, os espetadores mais atentos, ou mais sensíveis a estes problemas do "tempo" e da "morte", vão agradecer por a vida ser efémera e a eternidade ser impossível.
Este filme não tem momentos de suspense tradicionais, não tem aventuras amorosas tal como as entendemos no cinema habitual. É apenas a história de um personagem que rejeita a imortalidade, que pensou desejar antes de a possuir. Tão simples quanto isso. E não é preciso nada mais, para fazer um drama interessante, uma história de vai prender a plateia ao ecrã até ao fim.
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