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"Sexdoll" (ou "Amoureux Solitaires"), a última aventura da realizadora e argumentista Sylvie Verheyde, corre o risco de ir para o baú dos esquecidos, o que será uma tremenda injustiça para uma obra intensa, bem filmada, bem interpretada, mas que fica numa "terra de ninguém" entre um documentário sobre o tráfico humano, um policial e um romance. No fundo, é tudo isso. De forma consistente e sem preconceitos de ser classificado em qualquer gaveta.
A bela Hafsia Herzi interpreta Virgine, uma prostituta escravizada por uma rede de trafico humano, que em certa altura se cruza com Rupert (Ash Stymest). Entre ambos vai nascer a história habitual do rapaz conhece rapariga, mas sem nada dos contornos habituais. Na verdade o filme é muito mais uma "boneca russa" que uma "boneca sexual", já que a ação se vai tirando unidade a unidade, como descascar uma cebola camada a camada.
A intriga policial é mais pressentida que óbvia e a tensão nasce muito mais do que poderá acontecer do que acontece realmente. Nesse aspeto, Sylvie concentra-se principalmente na relação entre os personagens principais. A intensidade resulta da situação envolvente e conforme o filme vai avançando, há cada vez menos thriller e cada vez mais romance.
"Sexdoll" não quer incomodar ninguém. Não explora o lado sexual da prostituição, não tem nus desnecessários nem dramas lamechas sobre as coitadas das prostitutas. Nesse aspeto vai-se esvaziado como um balão ao longo da hora e meia, podendo deixar aquela sensação estranha no espetador que, devido ao título, ia à espera de mais carne exposta. Oohh... Afinal, é apenas um romance!...
É precisamente quando deixamos de lado a possibilidade de ser um thriller, que também pode ser, mas sem muita convicção, e assumimos a única possibilidade de ser mais um romance, uma simples história de amor, que o filme ganha uma nova dimensão. Enquanto drama romântico, "Sexdoll" é original; basta apenas que o espetador compreenda que as espetativas não passavam de fantasias suas, privadas, às quais o filme é realmente alheio.
Este filme não tem uma intenção moral, não quer expor a degradação do tráfico de mulheres, não tem pena das prostitutas, embora tudo isso possa estar nas entrelinhas do título. "Sexdoll" é um romance tenso entre uma rapariga e um rapaz - que tanto pode ser a sua salvação como a sua perdição. Olhado nessa perspetiva simples, é uma excelente, credível e bem construída tarde de cinema. Sem arrependimentos.
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