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Pegar num filme baseado numa obra da rainha do mistério Daphne Du Maurier, remete-nos imeditamente para Hitchcock - "Os Pássaros" ou "Rebecca" - ou para "Aquele Inverno em Veneza" de Nicolas Roeg; ao mesmo tempo, pegar num filme de Roger Michell, remete-nos para a brilhante comédia "Nothing Hill". Com a fasquia colocada tão alto, é uma pena que "My Cousin Rachel" seja um enorme trambolhão.
Nem o mais desastrado conseguiria fugir à tensão que a história quer colocar entre os dois protagonistas, Rachel (Rachel Weisz) e Philip (Sam Claflin), mas depois os actores que interpretam os personagens não têm faisca que justifique os sentimentos que Roger Michell pretende filmar. Limitam-se a fazer o seu papel de forma competente, quando o tipo de suspense que Du Maurier pretende é muito mais psicológico que físico, muito mais subentendido que presente.
Como de costume, a reprodução da época, a encenação, toda a filmografia, remete constantemente para a perfeição inglesa. Mas para um apreciador de mistérios e de suspense, tudo começa e acaba aí. Um filme exemplarmente bem feito, mas com uma exasperante falta de tensão; bem construído, mas com demasiados andares para depois não se desmoronar. Sobe-se uma escada a pique por antecipação e, depois, dá-se uma queda do primeiro degrau, apenas porque a escada acaba exactamente lá.
Embora o espectador se possa esquecer disso ao longo do filme, "My Cousin Rachel" é um thriller. Um filme de mistério e vingança, onde o amor vem colocar um grão de poeira nas intenções do protagonista. Também é verdade que esta mesma história já tinha sido levada ao cinema em 1952 por Henry Coster, com Olivia de Havilland e Richard Burton como protagonistas, e, nessa altura, a própria autora teceu duras criticas ao filme. Será, então, problema do livro original, que deve ficar encerrado nas páginas escritas?
Ver um filme inglês nunca é totalmente uma perca de tempo. "My Cousin Rachel" é um drama de época cozido em banho-Maria, que faz um uso desadequado das potencialidades de que dispõe, não conseguindo desatar completamente o nó do envolvimento emocional e do perfil psicológico dos personagens. Por outro lado, tem algumas performances de registar, com Rachel Weisz à cabeça, embora o envolvimento com Sam Claflin seja pobre.
Conheço pelo menos uma pessoa para quem este é um dos livros da sua vida. Certamente irá ficar tão desiludida com esta produção, como ficou quando assistimos ao filme de 1952. A intensidade da obra original parece ficar sempre perdida algures num limbo sem direcção. Hitchcock e Roeg conseguiram captar a intensidade de Daphne Du Maurier como ninguém mais, antes e depois deles. É uma pena. Esta autora merecia muito mais.
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