segunda-feira, fevereiro 01, 2016

TANGO(S) ARGENTINO(S)




Há filmes que nos caiem no colo por acaso e depois nunca mais saiem. Foi o caso de "El Secreto de Sus Ojos", que fez parte da sessão da noite de sábado, na televisão.


O filme nunca precisa de ganhar muita velocidade para manter o espetador interessado. Vai com calma, colecionando dramas. tanto podendo ser um romance tradicional como um policial simples. Há crime e mistério, há tensão jurídica, mas há também paixão e amizade. Tudo na medida certa.


É verdade que sendo um filme de baixo orçamento - pelo menos para os padrões hollywoodescos - não tem a agilidade contabilística das grandes produções americanas. Mas isso nunca lhe retira interesse e, num certo ponto de vista, dá-lhe consistência emocional, já que não desperdiça recursos, concentrando toda a energia no que é importante.


Às vezes pode parecer que não tem o golpe de rins de outros filmes para surpreender e fazer reviravoltas de argumento, mas na verdade tem a inocência, o que acaba por lhe conferir toda a credibilidade.


Não é só um grande filme, bem realizado e bem interpretado. É um tango argentino ao nível do melhor Astor Piazzolla, que nos faz dançar com o par mais bonito da sala.

domingo, janeiro 24, 2016

POSSIBILIDADES DE IR, MAS FICAR.



Vamos já esclarecer uma coisa: ficar duas horas a olhar para a Jennifer Lawrece, nunca fez mal a ninguém. E, na verdade, ela é a dona do ecrã em "Joy". Se é suficiente para ganhar a estatueta de 2015, isso já é outra história.


Vamos então ao filme: com um elenco como este (Robert De Niro, Isabella Rossellini, Bradley Cooper, Diane Ladd...) as expectativas são sempre muito altas. O que acontece em Joy, é que elas nunca se concretizam.
Imagino que deve ser difícil fazer um filme sobre a invenção da esfregona, não é propriamente - pelo menos à partida - o mais interessante dos temas. Mas a verdade é que o filme também nunca faz muito para sair do limiar das possibilidades.


O filme tem a possibilidade de ser uma excelente comédia, mas nunca consegue mais que uma gargalhada tímida, pouco convincente; o filme tem a possibilidade de ser um excelente drama familiar, mas pouco mais consegue que uma lágrimasinha perdida; o filme tem a possibilidade de ser um excelente panfleto sobre a luta pelo sucesso, mas vai pouco mais longe que um anuncio de televisão.


 Joy é apenas metade do que podia ser, em todas as perspetivas que se queira olhar para ele. David O. Russel não deixa de lhe conferir alguma competência, mas é uma mera possibilidade. No fim fica sempre um certo sabor amargo, daquilo que o filme tinha possibilidade de atingir.

segunda-feira, janeiro 11, 2016

12 RAZÕES PARA CONHECER BOWIE


Não vão faltar rapidamente coletâneas, reedições e homenagens. A minha pergunta aqui é simples: se os meus netos me perguntarem quem foi David Bowie, o que é que eu posso responder?

Space Odity (Space Odity, 1969)


Life on Mars (Hunky Dory, 1971)


Rock'n'Roll Suicide (The Rise and Fall Of Ziggy Stardust and The Spiders from Mars, 1972)


Rebel Rebel (Diamond Dogs, 1974)


Young Americans (Young Americans, 1975)



Heroes (Heroes, 1978)


Scary Monsters (And Super Creeps) (Scary Monsters... And Super Creeps, 1980)



Let's Dance (Let's Dance, 1983)



Blue Jean (Tonight, 1984)


I'm Afraid of Americans ft. Nine Inch Nails (Earthling, 1997)



Thursday's Child (Hours, 1999)



Lazarus (Blackstar, 2016)



sábado, janeiro 09, 2016

E DEPOIS ENTRANHA-SE...



Nas de qualquer outro que não fossem Yorgos Lanthimos e Efthymis Filippou, "The Lobster" certamente descambaria em algo incompreensível e intragável.


Primeiro estranha-se: é ficção cientifica? É político?... Depois a pouco e pouco, entranha-se e cola-se à pele. É a altura em que já não conseguimos tirar os olhos do ecrã.


É uma comédia!... Ou parece ser. Só que este humor "tipo inglês", que nunca nos deixa rir às gargalhadas, não é nem óbvio nem fácil.


É certamente um romance. Mas, em certas alturas, até a memória de "Stalker" de Andrei Tarkovsky me veio à cabeça.


É daqueles filmes que têm de ser visto, nem que seja para o recusar completamente. Vai demorar tempo a entrar, mas depois vai ser difícil sair!

sexta-feira, janeiro 01, 2016

HITCHCOCK JANTA COM DOSTOIÉVSKI




É gratificante quando podemos ter um romance que não seja uma colagem de clichés. É verdade que Woody Allen não é consensual e, principalmente, é uma montanha russa, capaz do melhor e do pior nun curto espaço de tempo. Aquelas viagens pelas capitais europeias, deixaram "Match Point" e pouco mais.


 "Irrational Man" tem Kant, Kierkgaard, Heidegeer e, de repente, tem Hitchcock e Patricia Highsmith no "Desconhecido do Norte Expesso". E tem crime e tem castigo. Um cocktail de moral, imperativo categórico e Dostoiévski.


É um filme para quem gosta de ler e de ouvir. Woody Allen não abdica dos diálogos longos e dos planos fixos em travelings lentos, enquanto os personagens debitam ideias cruzadas, que vão discutindo ao longo de caminhadas (aparentemente) infindáveis, embora aqui não chegue aos extremos de "Comédia Sexual Numa Noite de Verão"


E depois tem o regresso da adolescente apetecível - um fetiche que só Woody Allen consegue manter sem parecer ridículo -, só que Jill (Emma Stone) não anda perdida em "Manhattan", nem tem a candura e a inocência virginal de Mariel Hemingway.


Há uma coisa que posso garantir: não é um filme que irá rebentar com as bilheteiras, nem fazer o grupo sair do cinema com as ideias consensuais. Mas há outra coisa: não há nada melhor que possam fazer hoje, do que enfiarem-se num cinema a ver "Irrational Man", para curar a ressaca da noite de passagem de ano.

quinta-feira, dezembro 31, 2015

E MARTE É MESMO AQUI



Há um conjunto de filmes que todos os cinefilos devem ver, quando o tema é ficção cientifica. Consigo lembrar-me, de repente, de quatro - "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Alien, o Oitavo Passageiro", "Blade Runner" e a trilogia "Matrix" -, mas vou ser acusado de me esquecer de algum.



"The Martian" podia ter seguido vários caminhos, e escolheu não seguir nenhum. Ridley Scott é demasiado competente para deixar o filme perder-se - basta reparar-mos que, dos quatro filmes lá acima, dois são dele! -, mas parece que quem se prende nas malhas da indecisão, é ele próprio.


Podia explorar o tema da solidão, o drama de Mark Watney (Matt Damon) sozinho durante dois anos em Marte; podia explorar o drama do salvamento, quer dos cientistas na NASA na Terra, quer da equipa de astronautas que continuou a missão sem ele.


Afinal, nem uma coisa nem outra. The Martian é muito mais um filme sobre Física que sobre ficção cientifica, mas numa perspectiva infantil, como aquelas festas para crianças com vulcõesinhos e bombinhas. Nada é levado muito a sério e o filme não passa duma aventurasinha divertida, mas que parece nunca ser levado muito a sério.



Acredito que ninguém se vai aborrecer a ver o filme. Tem ritmo e está filmado com competência, mas depois, puf! Não sobra grande coisa. O que é pena: a história tinha grandes possibilidades!

segunda-feira, novembro 23, 2015

O KANT DA NATUREZA



Um filósofo brasileiro diz que Kant é o Evereste da Filosofia e que a dificuldade de "chegar lá a cima" é proporcional ao prazer da descoberta. O que "Everest" nos revela é que chegar ao topo é apenas metade da história.


O filme parece começar onde a escalada acaba e com o elenco disponível podia ser inesquecível. Mas depois algo falha na história, Nem se assume como um drama familiar, nem como um filme-catástrofe. Fica-se por metade de ambos.


Subir ao Evereste é de extrema dificuldade, mas descer para contar parece ser pior. Essa é a história central no filme e, nesse aspeto, o filme até é original: dá a impressão de começar onde os outros acabam.


Não deixam de ser duas horas bem passadas numa aventura. Mas não há empatia com os personagens, o que anula alguma da emoção possível e isto considerando que a história está repleta de atores que já deram outras provas de profissionalismo e competência.


O mais interessante do filme é que, tal como em Kant, não basta ler para perceber, é preciso compreender; no Evereste não basta subir para conquistar a montanha, é preciso descer.

sexta-feira, outubro 23, 2015

BONECAS POUCO INSUFLÁVEIS


A história do fetiche com bonecas, namoradas-zombi, necrofilia e outras fantasias sexuais é velha no cinema. Hollywood vai dando uma espreitadela ao assunto, mas, por questões comerciais, mantém-se no politicamente correto, nunca saindo duma espécie de faz-de-conta.


"Hello My Dolly Girlfriend" vem da Coreia e isso faz toda a diferença! O cinema coreano não tem meio termo, não disfarça o óbvio. O filme é uma sucessão de cenas sangrentas por um lado e de desvios eróticos por outro, sem medo das consequências e sem contemplações com o espetador.


Claro que muitos vão recusar assistir a tremendo festival de depravação, digno das mais profundas sessões de psicanálise. Um banquete de sangue e sexo ao melhor nível coreano e japonês. Para os estômagos que aguentem, é o Sétimo Céu.

quarta-feira, outubro 21, 2015

COLEÇÃO DE MOMENTOS

"A vida é uma coleção de momentos. O objetivo é conseguir a maior quantidade possível de bons momentos."



Interessante, divertido e atrativo. O que se pode esperar mais dum filme?


"5 to 7" podia descambar num dramalhão sem ponta por onde se pegasse, mas Victor Levin faz deste filme um belo pedaço de arte de cinema.


Os atores fazem o que lhes compete na perfeição e quando tudo funciona no mesmo sentido, o filme só pode correr bem. Fica a ganhar o espetador. Uma hora e meia do melhor!

sábado, outubro 17, 2015

GERIR O SILÊNCIO



Não é por mais de metade do filme ser passado no exterior, que a claustrofobia desaparece em "Z for Zachariah" (Os Últimos Dias na Terra). O filme alimenta uma tensão que se vai acumulando com o desenrolar do drama e o que mais fascina é a gestão dos silêncios que Craig Zobel consegue fazer ao longo de toda a história, alimentando o suspense, que é mais previsto que visto.


Os personagens parecem alimentar-se da energia uns dos outros e, sendo uma história aparentemente simples, o espetador acaba sempre por ficar em suspenso da próxima cena, que pode, ou não, ser o que se supõe que irá ser.
Há inúmeros filmes sobre o fim da humanidade, sobre a vida num suposto pós-apocalipse. Em Z for Zachariah não sabemos o que aconteceu, nem isso interessa. Sabemos que há uma sobrevivente, a quem, ao longo do filme, se junta mais um e mais outro. O resto é previsível, não é?


Três atores, três personagens, dirigidos com sabedoria - mas, ao mesmo tempo, com descrição. A câmara funciona apenas como mais um espetador, sem se intrometer demasiado no drama. É verdade que eu não tinha quaisquer expectativas acerca do filme, o que pode ter alguma influência na apreciação, mas reconheço que não vai ser um filme consensual: não faz perguntas, não procura respostas, não adianta soluções. É apenas um drama, nada mais, e em certos momentos, muitos dirão que é chato.

terça-feira, outubro 06, 2015

CLICHÉS DE PAPEL


O pouco que é proposto ao personagem principal de Paper Towns - sair da sua zona de conforto - é precisamente aquilo que o filme não faz.


A história do rapaz-conhece-rapariga está contada de todas as formas possíveis e imaginarias  e este Paper Towns é apenas mais uma, que se vai arrastando de cliché em cliché, até ao cliché final.


Durante quase duas horas vamos andando por cenas previsíveis, decalcadas de outras cenas já mais que vistas em outros tantos filmes do género.


Não é, necessariamente, um filme chato. Pelo contrário, vai correndo ligeiro. Mas, no fim, não sobra nada e, pelo meio, nada ficou.

segunda-feira, outubro 05, 2015

LAMBER O TACHO

Os portugueses decidiram dar ao PS a hipótese de lamber o tacho da coligação PSD/CDS.

Mas como não são totalmente parvos, decidiram também meter o Bloco de Esquerda a servir de "4º árbitro", que é aquele gajo lá atrás da baliza, mas que na realidade não serve para nada.


Das duas, uma: ou a coligação PSD/CDS se entende com o PS - coisa que não me parece muito difícil, já que todos eles estão desejosos de ser importantes e irão, certamente, encontrar uma plataforma de entendimento que permita a todos chuchar -, ou o PS decide que tem mais de fazer à vida do que dar uma voltinha pela direita e decide derrubar o governo, provocando outras eleições - que se sujeita a perder por margem mais significativa, que o pessoal já não anda para aturar birrinhas do Costa.

Em todos os casos, vai tudo resumir-se à quantidade de restos que a coligação PSD/CDS vai decidir dar ao PS. É verdade que os socialistas teem a mania que são grandes e vão começar por exigir muito, mas com calma, vai bastar uma colherinha de rapar o tacho - ou aquele instrumento de borracha que a minha avó usava... Salazar, não era!...


Quanto ao "povo" propriamente dito, de 9 milhões e meio de inscritos, 4 milhões decidiram que o melhor era mesmo ficar em casa e dos outros, quase 200 mil decidiram que as propostas impressas no boletim eram desinteressantes. Resumindo: os que realmente votaram nos partidos, foram pouco ou nada mais que os primeiros, os que não levantaram o rabo do sofá!

sexta-feira, agosto 28, 2015

SUPER PODERES

"- Normalmente sou eu o esquisito.
- Pois, mas aqui estás entre iguais. És estupidamente normal!"

(A Brillant Young Mind)
O autismo incomoda-me; a Matemática avançada incomoda-me. Em ambos os casos são necessários super poderes, para comunicar consigo próprio e para entender o mundo como uma sequência lógica de números.


Fazer um bom romance é muito mais que por o rapaz e a rapariga em "situações", como fazer um bom filme de ação é muito mais que por bombas a explodir em cada canto. É por isso que "Titanic" é um bom romance e "Exterminador Implacável" é um bom filme de ação.


Um bom romance tem que ser imprevisível a caminho do fim previsível e não basta ao atores estarem ali à conversa e aos beijos. Tem de haver química, a matemática da relação tem de fazer sentido. Lembram-se de "Words and Pictures" ou de "Mr. Morgan's Last Love", apenas como exemplo? É por isso, pela "química", que são grandes filmes.


E é também por isso que "X+Y" é um grande filme, para além do facto de os ingleses terem aquele habitual rigor na reconstrução dos ambientes e das épocas, de serem profundos conhecedores da arte da dramatização e de saberem escolher os atores certos para os papeis certos.


Tudo aqui funciona na perfeição, no tempo certo e no ritmo adequado, a caminho do final, sem deixar de passar pelas pequenas surpresas que tornam a previsibilidade do fim num momento totalmente imprevisível.


Posso garantir-vos que, este fim de semana, podem tirar uma noite para ir ao cinema. Dá tempo do mergulho, para depois acabar o dia com uma das melhores hora-e-meia de cinema que o ano vai ter até ao fim.