"Carol" não é filme para quem não gosta de cinema que arde em lume brando. No entanto, ao contrário do que disse aqui acerca de "A Kind of Murder", isto é tudo o que uma história de Patricia Highsmith deve ser: intensa mas dramaticamente lenta, com um cuidado exemplar na composição psicológica dos personagens, com a ação a avançar devidamente para um epilogo final, que, pode ou não, ser o que se imagina.
Os espetadores mais atentos vão encontrar muitas referência a Hitchcock, na forma como Todd Hynes filma gestos, expressões, pequenos movimentos de câmara. Mas nada retira ao filme a sua beleza dramática. Esta é uma obra triste, desenvolvida lentamente numa novela que, para a época, foi revolucionária e provocadora.
Se hoje em dia o tema da homossexualidade feminina é uma banalidade, nos anos 50 - quando a novela foi escrita -, Patricia Highsmith meteu-se por caminhos inexplorados e atreveu-se a mexer num tema (ainda) tabu. Todd Hynes e as sua atrizes Cate Blanchett (Carol) e Rooney Mara (Therese) parecem respeitar esse compromisso da obra original e tratam o tema com respeito e empenhamento.
Tudo em "Carol" é suberbamente equilibrado e feito de tal forma que cada coisa se encaixa na perfeição, extamente no lugar em que tem de estar. Como disse no inicio, é um filme que corre devagar, arde, é verdade, mas é um fogo que não espalha brasas, antes fervilha em banho-maria. Queima, mas só depois de ser tarde demais.
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