É fantástico quando um romance consegue utilizar todos os clichés do género de forma tão original, quase invertendo a lógica da normalidade, como "Touched With Fire". É verdade que os temas psiquiátricos, psicanalíticos e outros "psis" me fascinam, mas este filme consegue fazer algo mais: transformar banalidades em momentos interessantes.
"Touched With Fire" é um "rapaz conhece rapariga" como todos os outros, com os momentos chave do encontro, do enamoramento, do drama e da reconciliação, muito bem definidos. Mas toda essa vulgaridade vem embrulhada num papel de luxo, luminoso e original, para o qual contribui as fantásticas interpretações de Katie Holmes (Carla) e Luke Kirby (Marco).
Paul Dalio tem uma realização honesta - mais do que brilhante -, num filme que, por vezes, é de cortar a respiração. O tema central vagueia entre a doença e o romance, sem nunca se conseguir decidir. Essa é uma das criticas que lhe podemos fazer. Mas a simplicidade com que assume essa bipolaridade, só faz com que o espetador seja cúmplice da indecisão.
Carla e Marco são doentes. É através da doença - e por causa dela - que se encontram e se desencontram; é por causa dela que se juntam e separam, que saboreiam a loucura da paixão e sofrem o drama da separação. Mas em momento algum o filme tem uma atitude paternalista ou de os tratar como coitadinhos infelizes. A poesia brota tanto das suas palavras como da forma como são seguidos na sua loucura. Não são vitimas das circunstancias, são agentes da ação.
Paul Dalio também é doente bipolar - no final homenageia uma serie de bipolares que, duma maneira ou de outra, mudaram a história da humanidade: Edgar Allan Poe, Jackson Pollock, Tchaikovsky... A lista é longa e não está lá Fernando Pessoa, talvez por esquecimento ou por desconhecimento -, e isso só faz com que esta sua primeira longa metragem seja tanto feita com a razão, como com o coração. Estamos tão saturados de romances vazios, que um romance com sumo faz-nos subir ao sétimo céu.
Sem comentários:
Enviar um comentário