quinta-feira, abril 09, 2020

ENTRE A RAZÃO E O CORAÇÃO


Dá Tempo ao Tempo: CRÉDITOS COMPLETOS

Todos os argumentos de Richard Curtis são como um apertado abraço ao nosso melhor amigo. Escreveu  “Quatro Casamentos e Um Funeral”, “Nothing Hill”, ou o primeiro “O Diário de Bridget Jones”, apenas como exemplo, e realizou o fantástico “O Amor Acontece”. Todos eles têm em comum uma coisa: a estranha capacidade de libertar um vírus do prazer que infecta o espectador.


Tudo o que vão dizer acerca deste “About Time” é verdade: nenhum pai é tão porreiro como o de Tim (Domhnail Gleeson), interpretado por Bill Nighy, nem nenhum casal pode ser tão feliz como Tim e Mary (Rachel McAdams). Mas este filme é para espectadores que se deixam levar mais pelo coração que pela razão. Funciona como se nós fossemos um gato a ronronar de prazer com as festinhas nas orelhas, deitados no colo do dono.


Depois, tem todo o rigor daquela filmografia inglesa, com os actores certos no lugar certo e um rigoroso “mise en scène”.  Apesar de, se olhado racionalmente, ser um desfilar de clichés das comédias românticas, o realizador e os intérpretes apelam muito mais ao coração da plateia, que se derrete enquanto as imagens ganham vida no ecrã.


Quando faz 21 anos, Tim é informado que os homens da sua família têm o estranho poder de viajar no tempo. Enquanto vai e vem, entre aventuras e desventuras, o que o jovem acaba por descobrir é que o verdadeiro valor do tempo é ser vivido tal como é. Nada mais. Apenas uma espécie de “O Feitiço do Tempo” à inglesa, só que sem a exuberância de Bill Murray nem a beleza estonteante de Andie MacDowell.


O brilhantismo duma estreia na realização como “O Amor Acontece” dificilmente seria igualada, muito menos ultrapassada. Mas este “About Time” fica a dever muito pouco ao primeiro, no que diz respeito à satisfação que o espectador vai sentido ao longo da hora e meia do filme. Está aqui tudo o que Richard Curtis costuma colocar nas suas histórias: um apelo infinito ao prazer de ver cinema, só porque sim, mesmo que tudo seja apenas mais uma comédia romântica.


Eu tenho um problema, que é apaixonar-me loucamente pelos filmes de Richard Curtis, pelo menos por todos os que fui citando ao longo desta crónica. Não quero saber que a minha cabeça me sussurre que tudo não passa de mais um romance de fantasias só possíveis no cinema, o meu coração obriga-me a ficar colado ao ecrã, derretido de prazer e satisfação. E, pela reacção da minha companhia no final, não sou o único!

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