Dá Tempo ao Tempo: CRÉDITOS COMPLETOS |
Todos os argumentos de Richard Curtis são como um apertado
abraço ao nosso melhor amigo. Escreveu “Quatro
Casamentos e Um Funeral”, “Nothing Hill”, ou o primeiro “O Diário de Bridget
Jones”, apenas como exemplo, e realizou o fantástico “O Amor Acontece”. Todos
eles têm em comum uma coisa: a estranha capacidade de libertar um vírus do
prazer que infecta o espectador.
Tudo o que vão dizer acerca deste “About Time” é verdade:
nenhum pai é tão porreiro como o de Tim (Domhnail Gleeson), interpretado por
Bill Nighy, nem nenhum casal pode ser tão feliz como Tim e Mary (Rachel
McAdams). Mas este filme é para espectadores que se deixam levar mais pelo
coração que pela razão. Funciona como se nós fossemos um gato a ronronar de
prazer com as festinhas nas orelhas, deitados no colo do dono.
Depois, tem todo o rigor daquela filmografia inglesa, com os
actores certos no lugar certo e um rigoroso “mise en scène”. Apesar de, se olhado racionalmente, ser um
desfilar de clichés das comédias românticas, o realizador e os intérpretes
apelam muito mais ao coração da plateia, que se derrete enquanto as imagens
ganham vida no ecrã.
Quando faz 21 anos, Tim é informado que os homens da sua
família têm o estranho poder de viajar no tempo. Enquanto vai e vem, entre
aventuras e desventuras, o que o jovem acaba por descobrir é que o verdadeiro
valor do tempo é ser vivido tal como é. Nada mais. Apenas uma espécie de “O
Feitiço do Tempo” à inglesa, só que sem a exuberância de Bill Murray nem a
beleza estonteante de Andie MacDowell.
O brilhantismo duma estreia na realização como “O Amor
Acontece” dificilmente seria igualada, muito menos ultrapassada. Mas este “About
Time” fica a dever muito pouco ao primeiro, no que diz respeito à satisfação
que o espectador vai sentido ao longo da hora e meia do filme. Está aqui tudo o
que Richard Curtis costuma colocar nas suas histórias: um apelo infinito ao
prazer de ver cinema, só porque sim, mesmo que tudo seja apenas mais uma
comédia romântica.
Eu tenho um problema, que é apaixonar-me loucamente pelos
filmes de Richard Curtis, pelo menos por todos os que fui citando ao longo
desta crónica. Não quero saber que a minha cabeça me sussurre que tudo não
passa de mais um romance de fantasias só possíveis no cinema, o meu coração
obriga-me a ficar colado ao ecrã, derretido de prazer e satisfação. E, pela
reacção da minha companhia no final, não sou o único!
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