É preciso (muito) cuidado, quando se pega num filme com - ou "sobre" - tubarões. O mercado está repleto de lixo e desde "Jaws" - ou, se calhar, ainda antes - o melhor que se consegue são alguns documentários e, mesmo esses, muitas vezes mais preocupados com o espetáculo, que com a ecologia.
É por isso que "In The Deep" nos surpreende. Lembram-se o que escrevi aqui sobre "The Martian"? Este "In The Deep" é o oposto, criando potencialidades onde a história não tem. Simples, direto, sem pretenções, o filme corre ligeiro, com suspense e intensidade.
Os tubarões aqui são secundários, e a aventura não sofreria qualquer alteração se fossem peixinhos de aquário. O drama centra-se na sobrevivência, na resistência e no engenho para sair de situações difíceis - um pouco como o tal marciano, que se perde em infantilidades.
Não se iludam: "In The Deep" não é uma obra prima e a primeira qualidade que tem é, precisamente, não querer ser. A simplicidade é o grande trunfo do filme. Concentra-se na história - que pode ser escrita em duas ou três linhas - e guarda para o fim a surpresa que vai espantar o espetador. Não desilude em nenhum momento, porque, na verdade, não cria ilusões.
Esta película fez-me lembrar "Em Águas Profundas", onde o coitado do tubarão é ali metido sem ser chamado à confusão, o que, como disse no inicio, até pode ser prejudicial, afastando espetadores que poderiam interessar-se pelo filme, que, afinal, merece.
Não se acanhem pela capa. Este filme vale a pena, é um bom entretenimento de aventura, bem filmado e com uma agradável surpresa final. É uma hora e meia bem passada, para quem gosta de suspense. Ninguém sairá arrependido do cinema.
Em "Os Condenados de Shawshank", juntam-se uma coleção de pequenas coisa que, todas juntas, fazem um dos melhores filmes de todos os tempos. Não conheço o conto original de Stephen King, mas se colarmos este argumento e a realização de Frank Darabont, com as interpretações esmagadoras de Tim Robbins e Morgan Freeeman, não há como largar os olhos do ecrã durante estas duas horas.
Um filme tem de ser uma sucessão de coisas que devem funcionar juntas e fazer sentido no fim, embora na realidade, sejam quase coisas independentes que se colam: realização, interpretação, produção, edição... Tudo tem de ter um propósito no objeto final.
O que acontece em "Os Condenados de Shawshank", é que se atingiu um nível de perfeição, que dificilmente poderá ser superado. Isto porque nada está a mais ou a menos neste filme. Atrás da realização de Darabont a das interpretações de Robbins e Freeman, vêm Bob Gunton ou Clancy Brown, vem a música de Thomas Newman ou a direção artística de Peter Landsdown Smith.
Este filme não tem aquilo a que geralmente se chama "acção". Não tem efeitos especiais, não tem perseguições de automóveis nem aventuras mirabolantes. Trata-se (apenas) de um grupo de homens, fachados numa prisão e da forma como se afetam uns aos outros e de como o seu quotidiano se desenrola.
"Os Condenados de Shawshank" não é um filme para ver descansado com a família, principalmente se tiverem filhos pequenos. É um filme adulto, sobre um tema adulto e com cenas violentas, pode mesmo dizer-se, de uma violência atroz. No entanto, é um dos 5 ou 6 melhores filmes da minha vida. Há quem diga que "Casablanca" é o melhor filme de todos os tempos - nem sequer me vou dar ao trabalho de contestar!; pois bem, tem aqui uma séria concorrência para esse estatuto.
Em "Fome de Viver" ("The Hunger") tudo conspira para o prazer supremo do cinema: a banda sonora, a sensualidade, o erotismo. Tony Scott pegou num triângulo amoroso entre vampiros e fez um filme a meio caminho entre o terror e o romance. Mas, neste caso especifico, o "meio caminho" é exatamente a estrada que tem de se percorrer.
Embora tenha sangue em quantidade suficiente, "Fome de Viver" não é um filme de terror, apesar de ser um filme com muitas cenas horrorosas. A (excelente, diga-se) novela de Whitley Streiber, é transformada em algo totalmente novo, deixando para trás a sua origem, sem, contudo, nunca a renunciar.
A abertura de "Bela Lugisi's Dead" dos Bauhaus é apenas o principio para duas horas do melhor gótico que Hollywood tem para nos oferecer, e depois, a Miriam Blaylock, composta por Catherine Deneuve, ou a doutora Sarah Roberts de Susan Saradon, fazem o resto, com o John Blaylock de David Bowie a compor toda a trilogia.
A direção artística de Clinton Cravers (sim, sim, o mesmo de "Pink Floyd: The Wall" de Alan Parker) acaba com quaisquer duvidas que ainda houvesse. Ver "Fome de Viver" transforma-se numa experiência única para qualquer cinéfilo, pela atmosfera, pelo estilo, erótico e sangrento.
Não é um filme para uma tarde de domingo em família. É um filme adulto, visualmente agressivo e filmado de forma dramática, sem tentar esconder nada. Ao lado de "Drácula de Bram Stoker" é um filme sobre o drama da imortalidade, mais do que sobre o prazer de matar por sede de sangue. Estes vampiros são humanos: apaixonam-se e sofrem com a angústia da eternidade.
"Twin Peaks" foi uma série de televisão - nome pomposo para "telenovela", mas em formado intelectualoide - que mudou a face do chamado "horário nobre" da televisão em todo o mundo, logo no inicio da década de 90. Tudo começa (literalmente) com a morte de Laura Palmer - cujo corpo é encontrado logo no primeiro episódio, 5 minutos após acabar o genérico -, mas cedo se percebe que a descoberta do assassino é o menor dos interesses de "Twin Peaks". Então, o que é que isto pode interessar a uma geração do século XXI, que se dedica à caça de Pokemons?
Diz o cartaz, que Twin Peaks tem 50 e não sei quantos mil habitantes, e nós vamos entrar na vida privada de alguns deles, e quando revemos, hoje, a série, percebemos que, há 20 anos atrás, conhecemos muitas das personagens mais icónicas da televisão: um tal gravador chamado "Diane", para onde Cooper, o detetive do FBI, dita o seu diário; Lucy Moran, a assistente e telefonista da esquadra de policia, viciada em passar as noites a cozinhar donuts para oferecer à equipa policial; Andy, agente de policia que chora a cada crime que ocorre; Margaret, a "Senhora do Tronco", que só fala através de um tronco de árvore que carrega constantemente consigo...
Até à data, "Twin Peaks" é composto de duas séries, a primeira de 10 episódios e a segunda de 22. Segundo parece, a Showtime prepara a terceira série para 2017. Na primeira série, andamos às voltas com os personagens da cidade, a complexidade das suas relações, e o assassino de Laura palmer fica (quase) esquecido, embora o detetive Dale Cooper (Kyle MacLachlan - sim, esse mesmo de "Blue Velvet"! - vá resolvendo o crime... Em sonhos, onde aparece um anão a dançar rock'n'roll, um maneta e a própria Laura, que vai revelando pormenores do crime.
A segunda série é, ao mesmo tempo, mais linear e mais labiríntica. Finalmente, lá por volta do episódio 10, sabemos "quem matou Laura Palmer?", mas, nessa altura, outros dramas já se avolumaram na história. Afinal, o assassino é, realmente, o menos importante da série e o que podemos esperar dos 12 episódios seguintes? É que saber a resposta á (menos) importante pergunta, não ata nenhuma das pontas soltas que foram sendo apresentadas.
O que mais chama a atenção em "Twin Peaks" é que não deixa, em momento nenhum, de ser David Lych no sei melhor: a banda sonora de Angelo Badalamenti - que, em certo ponto da série, se torna psicótica para o espetador; a história em zig-zag, escrita por Lynch e Mark Frost, povoada de personagens insólitos e inesperados; mulheres sexy, que não precisam de nudez para se tornarem atraentes até à exaustão...
Não sabemos o que poderemos esperar da terceira série que se aproxima, vamos ver se David Lynch mantém a sua tradição de nos surpreender, mas certamente que esta nova geração de apreciadores de cinema, irá procurar no passado uma das melhores séries de televisão já produzidas e que, vendo bem as coisas, mudou a maneira como todos nós olhávamos para o que se chamavam "soaps" de TV.
À primeira vista, parece não haver dúvidas da paternidade do coreano "A Tale Of Two Sisters" sobre o americano "The Uninvited", mas a verdade é que o segundo tenta desesperadamente libertar-se das suas origens e acaba por merecer um estatuto próprio.
Então, o que é que une e separa estes dois filmes? Para já, "A Tale Of Two Sisters" não está acorrentado à necessidade de parecer o que não é. E depois, "The Uninvited" é (apenas) mais um thriller psicológico, que no universo hollywoodesco já deu maravilhas, o que coloca a fasquia demasiado alta para poder ser ultrapassada assim, sem mais nem menos.
"A Tale Of two Sisters" não tem contemplações, exige do espetador toda a atenção e empenho. Tem uma história labiríntica, contada como um labirinto e assume o seu lado gore com orgulho. Em contrapartida, "The Uninvited" é linear, fácil e onde, na Coreia, se espalha sangue pelo chão, de forma ostensiva e delirante, na América põe-se paninhos quentes.
São ambos filmes cativantes, por razões diferentes. "A Tale Of Two Sisters" e intelectualmente sedutor, requer atenção e concentração, não deixa o espetador descansar; "The Uninvited" é fácil e entretenimento puro. Enquanto o primeiro é duro, o segundo é mole; enquanto o primeiro é exigente, o segundo é encantador.
"A Tale Of Two Sisters" é um filme misterioso, "The Uninvited" é um filme acerca dum mistério. Pode parecer pouco, mas faz toda a diferença!
"Womb" é maravilhosamente interessante e interessantemente maravilhoso. Vocês sabem como eu sou fanático por um bom romance, mas também sabem como sou esquisito com eles. Não basta por um rapaz e uma rapariga, arranjar-lhes uma serie de situações, criar uma relação, para termos uma boa história de amor. É preciso muito mais, é preciso saber filmar borboletas no estomago e é preciso que os personagens sejam convictos no que estão a fazer.
Este não é um filme para quem gosta de velocidade, ação e aventura. O realizador Benedek Fliegauf demora o seu tempo a construir as relações e os atores demoram o tempo que for preciso para explicar, bem explicadinho, o que os move para o clímax ético que é proposto. Nada acontece por acaso.
Não é um filme feliz nem entusiasma o espetador com um fogo de artificio esplendoroso. É um drama intenso, filmado com intensidade, em que cada pormenor contribui com o seu pequeno pedaço para o todo. A determinada altura, parece que já sabemos tudo, mas o filme funciona como um azol que nos prende em definitivo.
À superfície é um filme também sobre a atração e como ela pode ser tão inexplicável, que se pode tornar (quase) irracional. Ou, visto por outro prisma, é um filme sobre como o amor é de tal forma possessivo, que a racionalidade se torna egoísta às ultimas consequências. Só que "Womb" nunca fica pela superfície e leva tudo às ultimas consequências.
Os cenários são nus e simples, os diálogos minimalistas, tudo para deixar o espetador ser esmagado pelo superior interesse do contexto. Eva Green (Rebecca) brilha até ofuscar e Matt Smith (Thomas) acompanha-a numa parceria de fazer inveja a outros pares famosos do cinema. "Womb" é um dos mais fantásticos e surpreendentes filmes que podemos ver.
À primeira vista, "Solace" não tem nada de especial, sem sequer é muito original: alguém com poderes psíquicos a quem o FBI recorre para ajudar a capturar um serial killer. Sim, "The Cell" e "Dead Zone", por exemplo, vêem-nos logo à cabeça, ambos filmes acima da média, por uma razão ou por outra.
Então, o que é que faz de "Solace" um filme tão interessante? Pode ser o despretensiosismo, a simplicidade com que não quer parecer mais do que aquilo que é: entretenimento puro e simples, filmado com competência e interpretado com convicção.
Claro que ter Anthony Hopkins e Colin Farrell ajuda. Mas o resto do elenco faz o seu papel e o realizador Afonso Poyart dirige-os com competência. Se é verdade que a história é previsível, deve-se a Poyart o facto de, na verdade, ainda podermos ser surpreendidos com coisas que já sabemos. O script "já visto" podia destruir um filme que, afinal, se torna interessante, com pequeninas surpresas pelo caminho.
"Solace" é surpreendentemente cativante, refrescante e original, não só por não aborrecer nem um segundo, mas porque se desenrola em crescendo, com as emoções despoletadas na altura certa e pelos motivos certos. Prende-nos, mental e visualmente.
Talvez o facto de eu não esperar nada de especial do filme, ajude a ser surpreendido com mais facilidade. Mas a fasquia vai ficando cada vez mais alta, conforme o filme se vai desenrolando e isso só pode ser um bom motivo de regozijo. Este é um daqueles filmes que merece ser visto.
Há discos de que só nós mesmos é que gostamos. Pequenos monumentos, guardados no canto da prateleira, dos quais desfrutamos num prazer só nosso, silencioso e solitário.
São assim como uma coleção privada de prazeres obscuros, tão incompreendidos ao longo do tempo que, por mais anos que passem, serão sempre exclusivamente nossos.
Billy Idol, "Cyberpunk" (1993)
Billy Idol é um colecionador de hits, mas nunca foi um homem de grandes álbuns. Colocava canções avulso nos top's, mas parecia falhar sempre quando arriscava trabalhos de fundo. "White Wedding", "Eyes Without A Face", "Dancing With Myself", sei lá, a coleção é tão vasta, que nem vale a pena falar nisso, porque muitas destas músicas ainda nos martelam nos ouvidos, nas noites perdidas em discotecas e bares.
"Cyberpunk" é uma exceção. Não teve nenhum hit de remonta. Se calhar, é por isso que ninguém se lembra dele, lançado em 1993 já numa época decrescente para a notoriedade de Billy Idol. No final, é um disco bem mais homogéneo que os outros do cantor, sem a montanha russa dos sobes e desces.
E depois, tem uma versão de "Heroin" - sim, essa dos Velvet Underground -, que certamente Lou Reed gostaria de ter escrito, em vez da original.
Pink Floyd, "The Final Cut" (1983)
Seria possível ir mais longe que o "tour de force" anterior? A opinião de Roger Waters foi acabar com tudo e seguir o seu caminho. Para isso, sob o nome do coletivo Pink Floyd, acabou a psicanálise que tinha começado em "The Wall" e, ainda com as crianças de "Another Brick In The Wall II" a martelarem na cabeça. fez este "The Final Cut".
Este disco foi completamente abandonado pelos fãs da banda. Hoje, ouvido com atenção e sem preconceitos, é um grande disco.
Genesis, "A Trick Of The Tail" (1976)
Genesis, "Wind & Wuthering"
Os Genesis a digerir a saída de Peter Gabriel, ainda sem assumirem o formato pop que viria a marcar os últimos discos, a balançar entre a antiga escrita mitológica - que tinha no ex-vocalista a sua alma - e aquele som rendilhado que estava destinado a terminar.
Foram os dois discos de transição entre o velho e o novo. Funcionam como se fossem dois de um só, não como as duas faces de uma moeda, que se opõem, mas como o mesmo lado partido ao meio e que se completam.
Metallica, "Load" (1996)
"Load" é um disco fantástico, sucessor do mítico "black album". É também um disco de rutura, com a editora e com os admiradores do passado. Todo os disco balança entre um som quase herético para o metal - repleto de musicas lentas e baixos que fariam Cliff Burton dar voltas na campa - e as habituais letras negras e deprimentes da banda.
Os anteriores apaixonados da banda, odeiam este disco, porque é feito para recolher um público não habitual nos Metallica; os novos admiradores, amealhados com o disco anterior, não encontram nada parecido com "Nothing Else Matters" e desistem de "Load".
Quaisquer deles fazem mal. O tempo veio provar que este disco é Metallica completo e no seu melhor.
Soft Machine, "Softs" (1976)
Entre os psicadélicos, "Softs" foi engolido por "Wish You Were Here" dos Pink Floyd; entre os apreciadores de jazz, foi engolido pela sua matriz assumidamente psicadélica. Uma contradição, porque, em ambos os casos, este disco deveria figurar como a maior fusão entre free-jazz, jazz-psicadélico, jazz-rock, o que quiserem. É uma viagem alucinada a novos sons e a ideias musicas totalmente originais.
Yes, "Tormato" (1978)
Os Yes nunca foram uma banda que estivesse no topo para as gerações atuais. Embora muitas das suas músicas aparecerem com frequência nos samplers das bandas de jovens, os discos dos Yes não passam de coisas redondas na prateleira dos pais, de quem, mesmo estes, já só se lembram muito raramente.
"Tormato" foi mais uma tentativa dos Yes sinfónicos fazerem um disco mais próximo dos tops, com canções mais curtas. Ficou entalado entre a primeira tentativa "Going For The One" e o falhado "Drama", este sim, assumidamente mais pop que sinfónico.
"Tormato" é bem mais consistente que o seu precedente e que o seu sucessor. Se os Yes quisessem deixar as suas sinfonias de 30 ou 40 minutos, teria mesmo de ser assim.
Os cinéfilos não podem deixar de gostar dum bom arrepio. O género de "terror" (não confundir com "gore", embora se cruzem em determinados momentos) é dos maiores sucessos de bilheteira, porque as pessoas adoram um bom arrepio, pagam para se assustar.
A ordem dos filmes que se seguem, é meramente cronológica e não representa qualquer critério de avaliação.
A partir de um conto de Daphne Du Maurier - que já tinha adaptado em "Rebecca" -, que, no original, não deve ter mais de meia dúzia de páginas, Alfred Hitchcock cria um festival de violência, fisica e psicológica, que se tornou um icon do cinema.
O filme começa numa loja de animais, onde Melanie Daniels (Tippi Hedren) compra um casal de piriquitos (que, em inglês, se diz "lovebirds"). Desde estes "pássaros do amor" (ou "pássaros de amor") até ao final enigmático e tenso, "o mestre" - talvez o maior realizador de todos os tempos -, brinca tanto com os personagens como com os espetadores.
Há filmes perfeitos? Se a resposta é afirmativa, então foi o que Roman Polanski conseguiu com Rosemary's Baby.
Tudo neste filme é de tal modo proporcional, que nada está a mais e nada poderia ser retirado. Cada voz, cada silêncio, cada ruído de fundo, tudo se combina de forma exemplar para o resultado final.
George A. Romero sabe muito bem o que se pode fazer com pouco dinheiro. E o que se pode fazer, é criar o maior monumento aos filme de zombies, que atualmente parecem estar tanto na moda. Há algures uma história: um satélite caído, radiações e uma doença. Nada de novo. Depois é uma sinfonia de carne podre e suspense, tudo levado ás ultimas consequência, sem a mínima contemplação pelo espetador.
Quando William Friedkin criou The Exorcist, nunca pensou ser engolido pela fama que Linda Blair iria ganhar, na interpretação da adolescente Regan, o que não deixa de ser uma enorme injustiça, já que a pequena jovem nunca teria brilhado sem o talento do realizador.
A propaganda dizia que era "o filme mais assustador de sempre", o que, à primeira vista, pode parecer um exagero publicitário. Mas a verdade é que, quem viu este filme, nunca mais o esqueceu.
Quando Steven Spielberg filmou "Jaws", ainda não era o "monstro sagrado" da atualidade, mas não há dúvida que já se anunciavam muitos "encontros imediatos" e muitos "E.T.'s". Considerando que "Firelight" é um filme perdido, esta é a segunda longa metragem da carreira do realizador e a cena de abertura permanece, ainda hoje, como das mais icónicas do cinema.
Misturando um certo sentido de comédia com um suspense exemplar, "O Tubarão" de Spielberg é o mais próximo daquilo que podemos chamar "terror para a família".
Duas ou três notas de música e está feito o filme com que John Carpenter assustou toda uma geração e com que a geração seguinte se apaixonou pela moda americana de festejar o dia dos mortos - uma celebração muito cristã e respeitável, transformada num monte de abóboras brilhantes.
"Halloween" (em Portugal, estupidamente chamado "O Regresso do mal"), é um filme de baixo orçamento, filmado como só os mestres do pouco dinheiro sabem fazer. E a verdade é que, sempre que Carpenter teve orçamentos de rico, nunca passou muito da mediocridade.
"Halloween" não tem nada de medíocre. É uma lição de terror puro e duro.
O monstro de Alien tornou-se uma das mais rentáveis imagens de terror de Hollywood, mas nada disso seria possível sem a mestria de Rideley Scott - sim, esse mesmo, de "Blade Runner" e "Thelma e Louise". Em "Alien" o realizador consegue tudo aquilo de que se faz um filme de terror e suspense perfeito. Gore, intenso, assustador, claustrofóbico, tudo embrulhado num ambiente gótico como nunca ninguém tinha conseguido antes e nunca mais ninguém conseguiu depois.
Desde o inicio, a atmosfera indica-nos que "algo está errado" e depois, é tudo menos "humano" e "civilizado". Tudo isso faz de "Alien" um filme de terror absolutamente genial. E esse terror não está só na criatura extraterrestre, mas em toda a atmosfera que envolve o filme. Pode não ter a ação de outros congéneres, mas leva o conceito de sufoco a um novo nível.
Ainda estamos para perceber se "Shining" é mais Stanley Kubrick ou mais Jack Nicholson. Em qualquer dos casos, nada seria possível sem os dois.
Baseado numa história de Stephen King - o tal que inventa terror até de contas do supermercado -, "Shining" é um grande filme muito mais pela realização de Kubrick e pela interpretação de Nicholson, que pela velha história das casa assombradas. Sangue a sair de elevadores e machados a voar, são pormenores secundários.
Esta não é a história de um cientista louco que se transforma numa mosca. O que David Cronenberg nos mostra não é mais que um acidente de trabalho num laboratório de investigação e Seth Brundle (Jeff Goldblum) nunca perde a sua mente analítica, mesmo quando é ele o objeto de estudo.
Salvo em um ou dois momentos específicos, nada neste filme é feito para assustar. O espetador é levado para o drama - porque tudo é mais "dramático" que "horrível" -, com a mesma sensatez com que Brundle é arrastado para a sua situação.
Não me entendam mal: vão ter medo; muito medo!
Francis Ford Coppola deixou-se de histórias e colocou o Conde Vlad no sitio certo. Dracula não é um principe de dentinhos afiados, mas um guerreiro implacável em busca do amor eterno. Erótico até mais não, "Dracula de Bram Stocker" vai à fonte - que é como quem diz, ao original de Bram Stocker - e transforma-se num filme memorável.
Para isso, ajuda um elenco fantástico, onde brilham Gary Oldman, Winona Ryder, Anthony Hopkins ou Keanu Reeves. Mas a lista do casting, só serve para dar ainda mais consistência a todos os momentos sangrentos e horríveis que se aproximam. Talvez "o amor nunca morra", como diz a publicidade, mas o que não morre mesmo é o nosso fascinio por este filme.