Qualquer história de Patricia Highsmith é um bom motivo para ir ao cinema, o que Hitchcock percebeu muito bem, quando adaptou "O Desconhecido do Norte-Expresso". Foi principalmente por causa dela que peguei neste "A Kind of Murder".
O que salta logo à vista é o extremo cuidado na imagem e na reconstituição da época, um colorido impecável e um guarda-roupa de excelência. Mas com o desenrolar do filme, percebemos que todo este design serve apenas para distrair do mais importante: o filme é desinteressante e todo o suspense da escrita de Patricia Highsmith é esbanjado sem qualidade.
A adaptação da estreante Susan Boyd não passa de uma esboço da história e todo o ambiente negro e dramático da autora original, perde-se numa sucessão de personagens sem interesse e sem empatia, quer uns com os outros, que com a audiência. Salva-se, talvez, Ellie (Haley Bennett), apanhada naquele turbilhão, sem perceber bem como.
Patricia Highsmith - a rainha do suspense literário - merecia melhor, o que o realizador Andy Goddard - talvez demasiado viciado no ritmo da TV - nunca parece perceber, incapaz de dirigir um grupo de atores que já deu provas anteriores de poder fazer melhor, dando a impressão que estão ali como se estivessem noutro filme qualquer.
"A Kind of Murder" tenta distinguir-se de outros filmes policiais, através duma abordagem cuidada na imagem, mas acaba por não passar disso. Falta-lhe interesse, drama, enfim, falta-lhe tudo, desde os personagens à realização. Mas acima de tudo, falta-lhe o aproveitamento da fantástica escrita de Patricia Highsmith, que consegue meter o leitor de cabelos em pé, da primeira à ultima página.
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