domingo, maio 11, 2014

NAMORADA(S) EX-MACHINE

A ficção cientifica tem tomado, nos últimos tempo, direções bem diferentes dos sonhos de conquista espacial que fizeram as delicias dos amantes do género nos anos 50 e 60. Se o Universo já não encerra tantos segredos como antigamente, se as viagens no espaço são muito mais que um sonho de loucos, se a velocidade da luz deixou de ser uma ilusão, os autores de fantástico teem-se virado bem para dentro do nosso mundo para explorar novos rumos.


Num curto espaço de tempo, vi três filmes (quase) sobre o mesmo tema: a interferência das máquinas no nosso quotidiano. Nem sequer é um tema novo se nos lembrarmos de "2001: Uma Odisseia no Espaço" de Stanley Kubrik, "Blade Runner" de Ridley Scott ou "Extreminador Implacável" de James Cameron. Mas se o Hall 9000 já não mete medo a ninguém e os andróides de Philip K. Dick acabaram mais humanos que os humanos, o tema, agora, é a confusão: a impossibilidade de distinguir a pessoa da máquina, a consciência - enquanto atributo exclusivamente humano e que, em "Blade Runner" confundia a criação com o criador -, a memória e os sentimentos.



O primeiro desses filmes for "Her" e não vou perder muito tempo a falar nele. A minha maior surpresa foi o barulho que se fez à volta desta mediocridade, entediante e chata. O filme dá um trambolhão ao fim de 15 minutos - embora não seja uma queda muito grande porque, na verdade, ele nunca subiu muito alto - e arrasta-se durante duas horas, sem interesse, sem ritmo, à volta dum coitado deprimido pelo divórcio, que se apaixona por uma voz (???!!!).


O segundo filme foi "The Machine". Conta a história de um projeto militar secreto, que cria super soldados a partir de mutilados da guerra. Claro que o projeto corre mal e o cientista acaba por o usar para recriar a namorada por quem se apaixonou entretanto e, mais tarde, para recuperar a filha que morreu de uma doença grave, nunca totalmente esclarecida.


Só que a namorada não é a namorada, é uma cópia informática, e a coisa descamba numa luta entre bons e maus, entre militares - que não abrem mão da sua investigação bélica - e o pobre cientista que só quer ir para a cama com o boneco animado, que, por acaso, é também uma máquina de matar, capaz de segurar em metralhadoras como se estivesse a fazer croché.


O terceiro foi "Transcendência", uma cópia do anterior, só que com Johny Depp, sexualmente inverso - quer dizer, é uma cientista a recriar o companheiro, também cientista, morto por um grupo radical anti-tecnologia. A coisa acaba numa confusão tipo "tiro neles" com explosões e metralhada.


O problema destes três filmes parece ser sempre o mesmo: a impossibilidade de resolverem a questão filosófica por trás da questão. As eternas perguntas sobre a consciência, os sentimentos e, em última análise, a resolução do desespero pela perca do objeto do amor.


E é onde "Blade Runner" arriscava e dava um passo em frente - mesmo que fosse para o desconhecido -, que estes filmes param e desistem; onde "2001: Uma Odisseia no Espaço" ou "Extreminador Implacável" partiam para aventuras mais ou menos alucinadas, estes filmes decidem que o melhor é acabar com a coisa.


Podemos dizer que o brilhantismo de "Matrix" começa precisamente no ponto em que "The Machine" ou "Transcendência" terminam ou, se quiserem, de onde "Her" nunca arranca.