sábado, julho 23, 2016

O RENASCIMENTO DE LAURA PALMER





"Twin Peaks" foi uma série de televisão - nome pomposo para "telenovela", mas em formado intelectualoide - que mudou a face do chamado "horário nobre" da televisão em todo o mundo, logo no inicio da década de 90. Tudo começa (literalmente) com a morte de Laura Palmer - cujo corpo é encontrado logo no primeiro episódio, 5 minutos após acabar o genérico -, mas cedo se percebe que a descoberta do assassino é o menor dos interesses de "Twin Peaks". Então, o que é que isto pode interessar a uma geração do século XXI, que se dedica à caça de Pokemons?



Diz o cartaz, que Twin Peaks tem 50 e não sei quantos mil habitantes, e nós vamos entrar na vida privada de alguns deles, e quando revemos, hoje, a série, percebemos que, há 20 anos atrás, conhecemos muitas das personagens mais icónicas da televisão: um tal gravador chamado "Diane", para onde Cooper, o detetive do FBI, dita o seu diário; Lucy Moran, a assistente e telefonista da esquadra de policia, viciada em passar as noites a cozinhar donuts para oferecer à equipa policial; Andy, agente de policia que chora a cada crime que ocorre; Margaret, a "Senhora do Tronco", que só fala através de um tronco de árvore que carrega constantemente consigo...


 Até à data, "Twin Peaks" é composto de duas séries, a primeira de 10 episódios e a segunda de 22. Segundo parece, a Showtime prepara a terceira série para 2017. Na primeira série, andamos às voltas com os personagens da cidade, a complexidade das suas relações, e o assassino de Laura palmer fica (quase) esquecido, embora o detetive Dale Cooper (Kyle MacLachlan - sim, esse mesmo de "Blue Velvet"! - vá resolvendo o crime... Em sonhos, onde aparece um anão a dançar rock'n'roll, um maneta e a própria Laura, que vai revelando pormenores do crime.

 A segunda série é, ao mesmo tempo, mais linear e mais labiríntica. Finalmente, lá por volta do episódio 10,  sabemos "quem matou Laura Palmer?", mas, nessa altura, outros dramas já se avolumaram na história. Afinal, o assassino é, realmente, o menos importante da série e o que podemos esperar dos 12 episódios seguintes? É que saber a resposta á (menos) importante pergunta, não ata nenhuma das pontas soltas que foram sendo apresentadas.


O que mais chama a atenção em "Twin Peaks" é que não deixa, em momento nenhum, de ser David Lych no sei melhor: a banda sonora de Angelo Badalamenti - que, em certo ponto da série, se torna psicótica para o espetador; a história em zig-zag, escrita por Lynch e Mark Frost, povoada de personagens insólitos e inesperados; mulheres sexy, que não precisam de nudez para se tornarem atraentes até à exaustão... 


Não sabemos o que poderemos esperar da terceira série que se aproxima, vamos ver se David Lynch mantém a sua tradição de nos surpreender, mas certamente que esta nova geração de apreciadores de cinema, irá procurar no passado uma das melhores séries de televisão já produzidas e que, vendo bem as coisas, mudou a maneira como todos nós olhávamos para o que se chamavam "soaps" de TV.