Qualquer cinéfilo que leia esta crónica, vai estranhar algumas ausência e algumas inclusões. Mas tal como na crónica anterior, onde o conceito de "musical" foi muito alargado, também aqui o conceito de "mistério" foi muito alargado, e por isso se incluíram comédias, ficção-científica, filme negro, suspense.
Qualquer crónica deste género, será sempre uma escolha pessoal e esta é a minha, não porque sejam "os melhores", mas porque serão os mais divertidos neste momento. De qualquer maneira, para fazer o que já foi feito, não vale a pena meter as teclas ao trabalho, não é?
FRENZY - Perigo na Noite (1972)
“Frenzy” é o primeiro filme inglês de Hitchcock, depois de ter ido para Hollywood em 1939 – onde frabricou os seus grandes clássicos. Este filme tem uma particularidade: é um único filme do realizador que contêm nudez explicita.Alfred Hitchcock tem cerca de 60 filmes na carreira e, pelo menos, aí uma dezena são considerados obras-primas do cinema. “Frenzy” não é um deles, mas tem lá tudo: o humor negro, horror, suspense... E o principio de uma tradição que vai criar psicopatas assassinos e senhoras em perigo, estranguladas sem dó nem piedade.
Mais do que ser um filme de Roman Polanski, “Chinatown” é um filme de Jack Nicholson e Faye Dunaway. Tudo o resto é secundário.
Quando o detective J. J. Gittes (Jack Nicholson) aceitou expor o adultério da fascinante Evelyn Mulwray (Faye Dunaway), não fazia a mais pequena ideia da espiral de crime e mistério em que se ia meter. Mas enquanto ele resvala para o abismo do inferno, nós, espectadores, deleitamos-nos de prazer cinéfilo.
CAPRICORN ONE - CAPRICÓRNIO UM (1977)
“Capricorn One” deve ser o pai de todas as teorias da conspiração, antes de haver teorias da conspiração. É, ao mesmo tempo, um thriller magistralmente filmado por Peter Hyams – que viria mais tarde a filmar “2010: O Ano do Contacto”.
Se são aquele género de pessoas que gostam de inventar histórias sobre a História, “Capricorn One” é o filme perfeito, para além de ser um excelente thriller, com ritmo, suspense, perigo ao virar da esquina.
BLOW OUT – Explosão (1981)
Por puro preconceito, “Blow Out” é colocado de lado pela maioria dos cinéfilos. Preconceito acerca de Brian de Palma – que, sejamos sinceros, nunca foi levado muito a sério – e preconceito acerca de John Travolta – que nunca se libertou do cliché do dancarino “disco”.
Jack (John Travolta) é um técnico de som e enquanto anda a captar sons aleatórios, assiste a um acidente, onde consegue salvar Sally (Nancy Allen), Só que na audição da fita, vão aparecer segredos que não deviam ser revelados e as peças do mistério vão-se juntando a pouco e pouco, mantendo o espectador tão surpreendido como Jack.
DESPERATLY SEEKING SUSAN - DESESPERADAMENTE PROCURANDO SUSANA (1985)
“Desperatly Seeking Susan” tanto pode ser uma comédia como um filme de troca de identidades.
Com um emaranhado de desentendidos, Madonna faz de Madonna (com o nome “Susan”), Rosanna Arquette é Roberta Glass, a entediada esposa dos subúrbios, fascinada pela rebelde sem causa, Aidan Quinn é Dez, o namorado perdido. e Mark Blum é Gary Glass, o marido confuso que não percebe nada do de está a acontecer. Entre os quatro vai desenvolver-se uma sucessão de trocas e confusões, que irão alterar de forma radical as suas vidas.
Pelo meio, há um blusão e criminosos à
procura dele e de quem o usar.
SPOORLOOS – O HOMEM QUE QUERIA SABER (1988)
Sob pena de estragar o melhor que este filme tem (a surpresa e o medo, muito medo), pouca coisa se pode adiantar sobre “Spoorloos” – a não ser que não vale mesmo a pena verem o remake hollywoodesco, que dá pelo nome de “The Vanishing”.
O final vai deixar-vos com pesadelos por muitas noites.
Como li algures, há 2 regras para ver este filme – para além da anterior, de esquecerem a péssima adaptação americana: a primeira, é não verem este filme, se forem pessoas facilmente impressionáveis; a segunda, não saberem nada sobre o que vão encontrar.
Para mim, é um dos melhores thrillers de todos os tempos, certamente um Top10. Dito isto, estão por vossa conta e risco.
GHOST – Espírito do Amor (1990)
Para além duna das mais sexy cenas de Hollywood, que mete argila e a música “UnchainedMelody” dos Righteous Brothers, “Ghost” vai passando duma comédia romântica para um filme de crime, sem que o espectador perca o sentido amoroso da história.
Uma Demi Moore absolutamente arrasadora e um Patrick Swayze de partir corações, que se juntam ao melhor que Woopi Goldberg alguma vez conseguiu, fazem o resto, para além dum Jerry Zucker com um sentido exemplar de ritmo e de narrativa.
“Ghost” é o thriller perfeito: os maus são castigados e os bons ficam felizes para sempre. O que se quer mais?
BOUND – SEM LIMITES (1996)
“Bound” não é para meninos. É um filme intenso, sobre violência e sexo. E tem de ambos. Com 2 milhões de dólares pelo meio.
As irmãs Lana e Lilly Wachowski não se poupam a esforços, enquanto magicam nas suas cabeças o inexcedível “Matrix”, que há-de ver a luz 3 anos depois.
Com um orçamento reduzido, locais escolhidos a dedo para não arrasar a tesouraria, “Bound” tem tudo dum policial de série “B”, mas com bónus: duas mulheres-fatais em vez de uma - Jennifer Tilly (Violet, a esposa traidora) e Gina Gershon (Corky, a ex-condenada), que arrasam de sexualidade e malvadez.
“Bound” subiu nas tabelas devido a “Matrix”, mas merece uma espreitadela independente.
THEBRAVE ONE – A ESTRANHA EM MIM (2007)
Vamos já esclarecer duas coisas: Jodie Foster é uma das minhas actrizes preferidas – senão “a” minha actriz preferida - e não me lembro de não gostar de nada que vi de Neil Jordan – sem qualquer pretensão de ter visto tudo.
Agora, que já não me podem acusar de nada, vamos a “The Brave One”, que tanto é uma história de vingança, como uma história de descoberta pessoal. Embora emocionalmente destruída pelo assassínio do noivo – consequência do qual, ela própria fica em coma por 3 meses -, é com o tenente Mercer (Terrence Howard) que a luctora de rádio Erica Bain (Jodie Foster) vai estabelecer uma relação de proximidade.
Não há aqui segredos: o primeiro, investiga os crimes que a segunda comete. O espectador sabe, a assassina sabe, e Mercer vai sabendo a pouco e pouco. Mas o facto de não haver segredos, não significa que não haja mistério.
Talvez alguns acusem o filme de ter um final demasiado apressado – para dizer o mínimo – em relação às expectativas que vai criando durante as duas horas que dura. Aceito. Mas – em minha opinião, note-se -, isso é um problema que eu consigo encontrar em quase todos os filmes de Neil Jordan. Já não é um defeito, é um feitio!
BOKEH (2017)
Já aqui falei de “Bokeh” e não vou adiantar muito mais. Muitos perguntar-se-ão, o que faz aqui um filme que tanto pode ser um romance, como um filme de ficção-científica, ou nenhum dos dois.
O que “Bokeh” tem mais, é mistério. Se sabemos “onde”, não sabemos “quando”, nem “porquê”. No fundo, não sabemos nada. Como todo o filme parece ser sobre nada. E, como diria Pascal, “porque é que tem de haver algo, se o nada é o mais fácil”, não é?