Cloud Atlas: CRÉDITOS COMPLETOS |
Logo desde a estreia em 1996, com "Sem Limites" ("Bound") se percebeu que da cabeça das manas Wachowski não sairia nada de normal. Depois, em 1999, "Matrix" confirmou os piores receios: The Wachowski Brothers (Lilly e Lana Wachowski) estavam aí para arrasar o cinema convencional. A trilogia de Matrix acabou por tornar-se o paradigma do cinema de aventuras, o filme que todos os outros passaram a tentar imitar - o que, como quase sempre nas imitações, salvo raras exceções, dá no ridículo.
Entre 2003, o ano do último Matrix, e 2012, o ano deste "Cloud Atlas", as manas estiveram ocupadas com jogos de computador e alguns argumentos para filmes de terceiros, como "V de Vingança" de James McTeigue. Mas como aquelas cabecinhas não param, o interregno serviu para marinar um novo argumento de tal forma complexo, com uma tremendo emaranhado de personagens em tempos diferentes e em situações que, que repente, se cruzam na mais improvável das probabilidades.
Tudo tem um preço, parece ser a premissa de "Cloud Atlas". E o preço do espectador, por ter entrado no cinema, é ter de voltar atrás e começar tudo de novo, numa tentativa desesperada de por ordem nas ideias. O filme funciona como a escrita de Kant, por exemplo, em que o fim é apenas a compreensão de que o leitor não percebeu nada e o melhor é voltar ao principio para se organizar. A saída do labirinto esta em voltar a fazer o percurso todo de novo.
Numa contagem nada exaustiva, encontrei setenta e tal personagens - mas garanto que são muitos mais, talvez o dobro -, divididos por diferentes épocas, diferentes localizações, em mundos paralelos e em mundos reais. De tal forma que, ou se vão encontrar algures, ou cometem, cometeram ou hão-de cometer, acções que interferem e influenciam todos e cada um, incluindo a si próprios - noutro mundo ou noutra dimensão!...
Como devem perceber, não vale a pena tentar resumir o argumento. Há o diário de um viajante, há cartas de um música para o amante, há uma conspiração nuclear, há uma tribo pós-apocaliptica... E, acima de tudo, há uma espécie de "efeito borboleta", de tal forma que ninguém é inocente aqui, pelo que se passa ali, ou além. Mesmo que cada um seja estranho ao seu vizinho, o destino está tão ligado aos desconhecidos, que os conhecidos são cartas fora do baralho nas mãos das três tecedeiras Moiras.
Para dar corpo - e alma - a esta fantasia, as irmãs Wachowski foram buscar um elenco digno do Olimpo, cada um deles devidamente envolvido em diversos personagens: Tom Hanks, Halle Berry, Jim Sturgess, Susan Saradon, Hugh Grant... Uns com aparições (aparentemente) menores, mas, como já vimos, todos de importância vital para o longo manto que as Parcas tecem, quer para os deuses, quer para os humanos. Nada é obra do acaso.
"Cloud Atlas" tem um excelente trabalho de filmografia e de imagem, e é emocional e intelectualmente envolvente. O espectador está constantemente a ser chamado - puxado? obrigado? - a tentar identificar o ator por trás da máscara - em personagens que vão da Europa à Ásia, do passado ao futuro, até de homem a mulher.
"Esmagador" foi a primeira palavra que me veio à cabeça depois de ver "Cloud Atlas", pelo menos enquanto a minha cabeça rodopiava a tentar encontrar um ponto de apoio, mas depois lembrei-me também de "impressionante". E referia-me principalmente à capacidade das irmãs Wachowski de criarem histórias fantásticas, neste caso especifico com a ajuda de Tom Tykwer e a partir de um livro de David Mitchell - que não conheço, mas que vinha rotulado como impossível de filmar! "Impossível" é, portanto, a palavra definitiva para esta produção internacional, mas que, no fim, tem um enorme sentido de unidade no seu todo.