"Nocturnal Animals" vai certamente deixar um sabor estranho na boca de muitos espetadores. Primeiro, é um filme visualmente cuidado, ou não tivesse Tom Ford começado por ser estilista de roupa; segundo, é um filme duma extrema violência, explicita e implícita, o que faz com que nunca saibamos se é um romance, um thriller, um drama psicológico... Ainda porque contêm várias histórias dentro da história, sem nunca parecer querer evidenciar nenhuma.
O filme conta com a participação dum elenco de luxo, mas principalmente conta com a fascinante meio-loura-meio-ruiva Amy Adams (Susan Morrow, a depositária da novela central), que espalha uma beleza ofuscante por toda a película.
A sequência do gato e do rato na autoestrada é excelente, tensa e dramática, o que prova que Tom Ford sabe filmar acção quando quer, isto apesar de todo o filme ter tendência para ser densamente inativo, mesmo que, como já disse, faça uso duma violência invulgar. Uma (um várias) fábula(s) sobre o amor, a vingânça e a linha que separa a vida e a morte. Enquanto Susan Morrow lê, Tony Hastings (Jake Gyllemhaal) - que também pode ser Edward Sheffield, o ex-marido da própria leitora Susan - desespera, sangra, literal e metaforicamente.
Vencedor do Prémio do Júri em Veneza, "Nocturnal Animals" é um thriller psicológico, ou um drama romântico? Não sei. Mas sei que é portador duma tensão arrebatadora, que explora a ténue linha que separa o amor do ódio, a vingança da crueldade, a perdição da salvação. É um filme sobre a descoberta de verdades escondidas, aquelas que todos nós queremos manter ocultas no mais fundo de nós próprios.
Não vai ser um filme consensual. Muitos vão achá-lo doce, outros amargo; muitos, simplesmente, não vão aceitar que um desenhador de moda, muito preocupado com o estilo, seja capaz de fazer uma obra intensa. De qualquer maneira, é uma película que tem de ser vista por quem gosta de cinema, puro e simples, feito com cuidado e com versatilidade - que vai, precisamente, do sal ao açúcar, do amor ao ódio.