"Johnny Got His Gun" estreou em Portugal com o título "E Deram-lhe Uma Espingarda", o que, vendo bem, tem tudo a ver com o tema. Foi filmado em 1971, tem 45 anos e continua exatamente igual. Tem lá dentro o Woodstock, o Maio de '68, o "flower power" e faz parte daquele conjunto de filmes ati-guerra, onde a própria guerra é o assunto principal mas, ao mesmo tempo, secundária. Junta-se a "O Caçador", "O Regresso dos Heróis", "Nascido a 4 de Julho", "Jardins de Pedra"...
Não se iludam: "E Deram-lhe Uma Espingarda" não é um filme para brincadeiras. É um filme deprimente, demolidor, arrasta o espetador para um abismo negro e tortuoso. Usa o preto e branco de forma exemplar, para criar sombras escuras e momentos de escuridão emocional, fazendo com que aquela lista lá atrás, de nomes bem mais populares, não passem de fogo de artificio, alegres e festivaleiros, comparados com esta depressão.
Poucos filmes me impressionaram tanto como este. Escrito e realizado por Dalton Trumbo, baseado numa história dele próprio, "E Deram-lhe Uma Espingarda" conta uma história de amor em tempo de guerra ou, se quiserem, uma guerra que se meteu no meio de uma história de amor. Seja qual for a perspetiva, este filme é uma verdadeira obra-prima, uma experiência inesquecível.
Só pelo facto de o espetador estar quase duas horas intrigado por uma figura desconhecida, envolta em lençóis, mantendo-se suspenso em todos os minutos, testemunha a genialidade deste filme. Muita gente irá reconhecer o teledisco dos Matallica, mas é uma injustiça para o filme, que vai muito mais longe e mais profundo.
Poderia acabar dizendo, como de costume, que são duas horas bem passadas. Mas não são! São duas horas dramáticas, obsessivas e deprimentes. Tudo aquilo que faz os filmes inesquecíveis. Talvez muita gente desista, talvez muita gente não tenha estômago para ir cavando cada vez mais fundo no drama de Joe Bonham. Os que decidirem ir até ao fim, nunca se arrependerão; os outros, irão perder um drama para toda a vida.