Uma Outra Educação: CRÉDITOS COMPLETOS |
Vamos já esclarecer uma coisa: eu sou um apaixonado de Carey Mulligan, desde que vi "Nunca Me Deixes", um filme tão intenso, dramático e misterioso, cuja impressão em mim foi tão poderosa, que nunca mais lhe consegui pegar, apesar ter ter planos para o fazer mais tarde ou mais cedo. Foi só por ela que peguei neste "An Education" de 2009, ela e a habitual relação aleatória do IMdB, que me levou de "Heróis da Nação", também de Lone Scherfig, para aqui.
Quando escrevi a crónica de "Heróis da Nação" já tinha dito que Lone Schefig não é a mais exuberante das realizadoras e que o estilo tem muito mais de competente que de espetacular. E este "An Education" é exatamente isso: pouco expansivo, sem correrias, mas intenso e dramático. Uma história que incomoda, seja qual for o ponto de vista que se olhe: a relação dum homem de meia idade - Danny (Dominic Cooper) - com uma rapariga de 16 anos - coisa que, reconheçamos, Carey Mulligan está longe de parecer, por muita maquilhagem que a cubra -, Jenny, sem que isso envolva o que habitualmente se chama de abuso - no sentido em que a jovem está envolvida na situação em consciência e de livre vontade, sabendo ao que vai.
Muitos irão acusar "An Education" de falta de ritmo. O filme parece lento e enrolado, mas essa é quase como a marca de água de Scherfig. Nos três filmes que vi da realizadora - "One Day" de 2011 (de que falarei aqui brevemente), este de 2009 e "Heróis da Nação" de 2016 - a realizadora demonstra não ter pressa na descrição das cenas, demora o tempo que for necessário para que o espetador se aperceba do que está em causa e para que os atores saboreiem o seu personagem na situação em que foi colocado.
Mesmo quando tenta o mais próximo que sabe da comédia romântica - o caso de "One Day" -, Lone Scherfig prefere que o riso e a comicidade resultem por a situação ser saboreada como um rebuçado que se derrete lentamente. Afinal, em certo sentido, todos os filmes aqui referidos não deixam de ser romances, embora as situações dramáticas se acumulem, de forma a criar um todo mais próximo do drama que do romance. O espetador fica sempre intrigado sobre o que realmente foi ver ao cinema.
Este "An Education" sofre do mesmo mal - se é que é um mal! - de todos os filmes de Scherfig que falo aqui: tem à sua disposição material de primeira qualidade (a história, os atores, a cenografia, a sonoplastia...) mas depois, a forma como transforma as peças soltas numa máquina completa, parece sempre ter um grão de areia a emperrar a engrenagem. Nenhuma destas obras é má - muito pelo contrário -, mas todas elas são potencialmente excelentes e tropeçam algures, ficando-se a meio caminho entre o suficiente-mais e o bom-menos.