As Vidas dos Outros: CRÉDITOS COMPLETOS |
O muro que dividiu Berlim até 1989 é uma excelente metáfora para este "Das Leben der Anderen", um filme com 12 anos, que não cabe na luta de bilheteiras das produções Nexflix e Amazon. Esta é uma obra que joga noutro campeonato, que se cola à pele do espectador para toda a vida, vinda das mãos de Florian Henckel von Donnersmarck, que depois de aliciado por Hollywood, nos trouxe um dos mais interessantes (não necessariamente "melhores") "tiro neles" dos últimos tempos: "O Turista", com Angelina Jolie e Johnny Depp.
Vencedor do Óscar para melhor filme estrangeiro e nomeado para os Globos de Ouro em 2007 e vencedor do Prémio de Cinema Europeu em 2006, "Das Leben der Anderen" coloca o espectador na posição de espreitar pela fechadura da intimidade dos outros, como uma criança, como "O Vigilante" de Francis Ford Coppola ou "Blow Out - Explosão" de Brian De Palma só que enquanto Harry, do primeiro, e Jack, do segundo, tinham um propósito concreto, o agente Wiesler (Ulrich Mühe) de Donnersmarck deixa-se envolver numa teia de voyerismo (quase) sem sentido.
Na Alemanha Democrática de 1984, o escritor Georg Dreyman (Sebastian Koch) é alvo de vigilância discreta mas apertada da Stasi. Essa vigilância, liderada pelo competente agente Gerd Wiesler, vai acabar por obcecar o investigador, não necessariamente pelos motivos inicialmente previstos, mas porque alguém sem vida se intrometeu na vida de alguém com existência - se é que me faço perceber...
"Das Leben der Anderen" é ao mesmo tempo feroz e glamoroso, negro e luminoso, feliz e infeliz. Uma experiência que se pode contrapor ao sorridente "Adeus, Lenin!" de Wolfgang Becker. Será sentimentalista? Será humanista? Seja como for, é uma luz ao fundo do túnel, no sentido em que, mesmo sob os regimes mais rigorosos, o mais tecnocrata dos cidadãos pode revelar pequenas centelhas de rebelião e emocionar-se com um sussurro de prazer.