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"The Transfiguration" corre o risco de não agradar a gregos e troianos, o que é uma pena porque é um daqueles filmes obrigatórios para os amantes de cinema com significado. Se é verdade que George A. Romero e os seus "horror-movies" estão presentes em referências directas e indirectas, também é verdade que esta é tudo menos uma história de terror, muito menos de vampiros.
Agredido pelos vizinhos e negligenciado pela família, o adolescente Milo (Eric Ruffin) gosta de filmes de vampiros. Um dia conhece Sophie (Chloe Levigne), mais velha mas nem por isso menos conturbada. Ele é mais sanguinário, prefere "Martin" de George A. Romero, ela é mais romântica, prefere "Twilight" a obra de Stephenie Meyer. Os espectadores vão ficar confusos: uns dirão que, para vampiros, tem muito romance; outros dirão que, para romance, tem muito sangue.
A verdade é que, em minha opinião, nem uns nem outros têm razão. O vampirismo e o romance são apenas a caixa onde se guarda uma profunda reflexão sobre o drama da adolescência, sobre a solidão humana, sobre como duas almas perdidas procuram desesperadamente um tronco flutuante na tempestade da vida, de forma a não se afogarem no turbilhão das águas revoltas da existência.
"The Transfiguration" tem sangue suficiente para poder ser considerado um filme de terror - ou, se quiserem, de horror -, mas isso funciona apenas como a sombra do Lucky Lucke, que vai mais lenta que o corpo que a projecta. É um filme arrastado para um banho de sangue, como Milo, apenas como um acto de auto-mutilação, como Sophie.
Só para acabar, em modo de aviso à navegação: esta é uma obra contemplativa, sem diálogos a mais e sem cenas que não façam sentido; os personagens não perdem tempo a dizer coisas que não tenham significado e a realização não perde tempo com acontecimentos que não encaixem no todo. É por isso que, no fim, o espectador se sente um grão poeira no drama a que assistiu. Provavelmente, para a maioria, nada mais será como dantes...