domingo, fevereiro 07, 2016

MIGALHAS DE PERFEIÇÃO



 "Bridge of Spies" junta migalhas do que Hollywood tem de melhor: Steven Spielberg e Tom Hanks. Não é a primeira vez que o primeiro se mete no mundo da espionagem (lembram-se de "Munique"?); nem é a primeira vez que o segundo faz de negociador implacável (lembram-se de "Jogos de Poder"?). Não é a primeira vez que trabalham juntos (lembram-se de "Terminal"?) e, esperemos, não será a última.


Ao contrário de "Munique", em "Bridge of Spies" marca-se uma linha clara entre bons e maus e nunca são confundidos, nos métodos e nas intenções. Há os que lutam pela justiça e pela liberdade e há os outros, os que estão contra o mundo ocidental e representam todos os ideais a que temos de nos opor. Mas nem isto é novo em Steven Spielberg. As coisas devem ser claras e devemos sempre saber de que lado estamos.


Mas o advogado James B. Donovan (Tom Hanks) está longe de ser um Indiana Jones da guerra fria. Se as circunstâncias merecem métodos menos ortodoxos, pois que sejam usados! E o facto de o filme ser baseado numa história verídica, confere-lhe alguma credibilidade, mesmo nos momentos mais improváveis.


"Bridge of Spies" tem Spilberg ao nível do melhor "Cavalo de Guerra" e Hanks ao nível do melhor "Cast Away", por isso está tão perto da perfeição que até doí! O realizador faz o que sabe melhor: dramatizar, impor o ritmo; o actor faz o que sabe melhor: representar. O filme tem o peso e a medida perfeitas, onde cada um sabe a parte que lhe compete e ninguém interfere com o trabalho do outro.


Salvo algumas raras exceções, nem Spielberg nem Hanks são gente sem sal. "Bridge of Spies" é um filme bem temperado, com a dose certa de açúcar e pimenta. Nem enjoa de tanto doce, nem incomoda de tanto picante. A guerra fria já lá vai há décadas e os inimigos agora são outros. É maravilhoso recordar os tempos em que as coisas eram bem mais claras e as linhas estavam bem mais definidas.