Inquietos: CRÉDITOS COMPLETOS |
Gus Van Sant dá-nos em "Restless" um dos mais fantásticos pedaços de cinema desde há muito tempo. Duma simplicidade desconcertante, este filme é uma facada nas costas a todos os dramas sobre a morte e a vida com prazo de validade. É a demonstração óbvia de que não é preciso levar pacotes de lenços, para assistir a um drama sobre a impossibilidade do amor eterno.
Enoch (Henry Hopper), que perdeu os pais, vive com a tia, tem como amigo imaginário o fantasma de um kamikaze japonês (Ryo Kase) e gosta de assistir a funerais de desconhecidos. É aí que conhece Annabel (Mia Wasikowska) e "Restless" vai seguir o percurso destes dois adolescentes durante três curtos meses. Como e porquê se relacionam, as suas ambições e os seus dramas.
Como não se metem em aventuras rocambolescas, a realização, tocante e sensível, funciona apenas como um terceiro no meio das deambulações dos protagonistas, sem interferir, sem influenciar, sem manipular, apenas um mero ponto de vista sobre as idas e vindas dos personagens, que são absolutamente convincentes.
O argumento de Jason Lew não deixa de ser inquietante. A morte é uma presença central, uma espada colocada sobre as cabeças dos personagens, de tal forma, que influencia o espetador, transmitindo-lhe uma pressão quase insuportável sobre o olhar. São Enoch e Annabel que dão à plateia uma leveza insustentável, mas sem nunca conseguirem verdadeiramente fazer esquecer o centro do vulcão.
"Restless" tem de ser um filme obrigatório para todos os que gostam de dramas, românticos ou não, realizado por um dos filhos favoritos de Cannes. É um filme sobre a obsessão da morte, retratada por Enoch, e a obsessão da vida, retratada por Annabel. É um filme quase convencional, é certo, mas de uma beleza simples e sem sofisticação, o que lhe confere uma honestidade cativante.