segunda-feira, outubro 31, 2016

TEMPO DE VOLTAR PARA CASA


Sejamos claros: "Halloween" - o primeiro, o original - tem 38 anos. Sim, leram bem, não é engano: trinta e oito! Então, pergunto eu, o que faz dele um dos filmes de culto de maior sucesso do cinema, colocando-o numa pequena lista de obras, que mais do criarem uma legião de seguidores, criaram, acima de tudo, uma página brilhante no cinema de Hollywood?




John Carpenter nunca foi um realizador de grandes orçamentos e, para sermos verdadeiros, sempre que lidou com algum dinheiro, pouco passou da mediocridade. Pelo contrário, quando foi obrigado a fazer piruetas com os poucos dolares que tinha à disposição, criou filmes absolutamente geniais, e a lista não é pequena.


"Holloween" parece um filme que podíamos fazer em casa, usando o piano da avó para a banda sonora e as divisões da habitação para a ação, com algumas (poucas) saídas até ao quintal, para dar uma ideia de "exterior". O resto, quase poderia ser filmado com uma velhinha Super 8, usando os corredores, a cozinha e os quartos, de uma qualquer vivenda comum. Meia dúzia de amigos a fazer de atores (guardando as devidas distâncias para Jamie Lee Curties e Donald Pleasance) e pouco mais.



"Halloween" (que, por alguma estúpida razão, foi traduzido para português como "O Regresso do Mal") é o avô de todos os "slasher movies" - o "padrinho", esse, continuará sempre a ser "Psycho" de Hitchcock -, onde meninas inocentes, mais ou menos despidas ou em vias disso, são retalhadas à facada, para satisfação mórbida duma plateia meio aterrorizada, meio divertida, mas sempre totalmente rendida.


O problema, é que este profícuo subgénero hollywoodesco, está repleto de lixo, de tal forma que os filmes realmente interessantes se perdem no emaranhado de material acumulado no lixão do videoclube. A "Halloween" junta-se uma pequena - muito pequena, em minha opinião - lista de obras que incluem o primeiro "Sexta-feira 13", o primeiro "Pesadelo em Elm Street" e o primeiro "Massacre no Texas". Posso ser acusado de me esquecer de um ou outro, mas duvido...


O que John Carpenter conseguiu, foi pegar numa história direta (escrita a meias com Debra Hill), simples e eficaz, compor uma música de três ou quatro notas - nunca esquecendo que esta banda sonora claustrofóbica, é um elemento chave de todo o filme -, juntar meia dúzia de euros e criar uma obra prima do cinema de horror, atormentando, a partir daí, várias gerações de amantes do "gore". Tal como Hitchcock tinha ensinado, o que aterroriza mais, não é o que acontece, mas aquilo que a audiência imagina que pode acontecer.