segunda-feira, abril 09, 2018

MESTRIA NARRATIVA

CRÉDITOS COMPLETOS

Brilhante, concreto e exemplar. "The Post" até pode parecer mais um duma longa tradição cinematográfica, em que o tema é o jornalismo, os jornalistas e as notícias, só que desta vez está nas mão de três monstros sagrados de Hollywood: Steven Spielberg, Tom Hanks e Maryl Streep. Parecendo que não, isto faz toda a diferença no produto final e o filme sai devidamente valorizado.


Não é de todo descabida a comparação que se vive no momento actual, com as sucessivas tentativas de desacreditação da imprensa por parte de dirigentes políticos. O jornalismo e os jornalistas mexem multidões, formas opiniões, influenciam as massas e isso é um poder que faz tremar as esferas onde se movem os candidatos. "The Post", embora passado nos anos 70, tem tudo a ver com a nossa época, tem tudo a ver com todas as épocas.


Kay Graham (Maryl Streep) foi a primeira mulher proprietária de um jornal, neste caso o The Washington Post, que, de repente, se vê envolvida numa guerra editorial com o seu concorrente The New York Times, envolvendo documentos secretos sobre a guerra do Vietname. Mais uma vez, o que salta à vista logo de imediato, é a capacidade da actriz de recriar grandes mulheres - coisa que já sabíamos com a composição de Margaret Thatcher em "A Dama de Ferro", mas que aqui repete de forma absolutamente brilhante.


À superficie, "The Post" é um thriller político, baseado em factos verídicos, na sequência - ou melhor, na antecipação - da obra-prima de Alan J. Pakula, "Os Homens do Presidente". Mas na realidade, é sobre as notícias que o poder não quer que sejam publicadas, aquelas noticias que realmente importa para a opinião publica e que têm influencia quando se trata de colocar os votos na ranhura da urna.


Steven Spielberg não se faz rogado e vai buscar para argumentistas Liz Hannah e Josh Singer - que, em conjunto ou separado, têm nas mãos vários episódios da série "Fringe" ou outro filme sobre jornalismo de investigação: "O Caso Spotlight". Todo este conjunto de actores de eleição, um realizador sóbrio e um argumento de qualidade, transformam "The Post" num momento de cinema único e absolutamente excepcional.


Só para terminar, "The Post" é também um filme feminista, no sentido em que conta a história duma mulher que assume de forma decisiva o papel de um homem, na direcção e orientação de um negócio - sim, porque um jornal não deixa de ser um negócio. Numa época em que as mulheres eram vistas como donas de casa pela generalidade da sociedade, incluindo elas próprias, Kay Graham assume o papel de líder contra a desconfiança e o preconceito.


Maryl Streep, Tom Hanks e Steven Spielberg, só podia funcionar bem, nem que fosse a filmagem de uma ida ao supermercado. O nível técnico e a mestria narrativa do realizador, juntam-se aqui a desempenhos exemplares e esmagadores. Tal como os seus protagonistas, "The Post" é um filme corajoso e motivador.