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O cinema está repleto de vingadores, de Charles Bronson a Jodie Foster e Natalia Leite sabia bem que não tinha muito de novo para apresentar. Por isso decidiu-se pelo mais simples, contar a história sem grandes piruetas, ir pela estrada mais curta sem se meter em atalhos. É por isso que o filme ganha uma dimensão avassaladora, investe em profundidade, como uma pintura que ganha uma nova perspectiva com as sombras e a luz, que transformam em 3 dimensões um quadro que, na realidade, só tem duas.
Noelle (Francesca Eastwood), tímida estudante de arte, é violada numa festa. A partir daí, transformada numa nova mulher e numa nova artista, inicia uma implacável vingança, sabendo que o silêncio e a hipocrisia fazem parte da vida académica, quando se trata de esconder e calar casos semelhantes. "M.F.A." é, logo à partida, um grito contra um status quo instalado na vida universitária, que reprime as vitimas, salvaguardando os agressores.
Natalia Leite afirmou numa entrevista que ela própria foi estudante de arte e ela própria foi vitima de violação, sofrendo na pele o silêncio dos que a rodeavam. Talvez por isso o filme tenha uma carga emocional tão poderosa. À superfície de um thriller de "série B", esconde-se um grito de censura às autoridades académicas e policiais, que tratam com ligeireza e desdém casos frequentes de violência sexual entre estudantes, com a desculpa de proteger o bom nome de instituições e de alunos.
"M.F.A.", apesar das expectativas, é um filme para se ver com atenção, descomplicado, directo, bem dirigido e bem interpretado. Um thriller pontuado pelos habituais clichés do género, sem nada de novo ao primeiro olhar, mas com ritmo, sem tempo perdido a fazer-se passar pelo que não é, e com orçamento obviamente limitado mas com todos os cêntimos gastos com critério e no lugar e no tempo certos.
O que começou por ser uma tarde de tédio, acabou num excelente exemplo de cinema. Num ano em que se gastaram milhões em guerras nas estrelas ou em planetas fantásticos - alguns com evidente desperdício de recursos e de criatividade -, "M.F.A." levanta bem alto o sangue quente da cinefilia de excelência, aquela que conta para uma tarde bem passada no escurinho do cinema.