sexta-feira, fevereiro 24, 2017

E SE OS DURAN DURAN FOSSEM DO I.R.A.?

CRÉDITOS COMPLETOS


"Sing Street" começa por parecer um filme politico, mas ao fim de 15 minutos já percebemos que não haverá outro "Sunday Bloody Sunday". Então, perguntamos-nos se poderá ser outro "The Commitments", mas mesmo essa expectativa fica gorada ao fim de mais 10 minutos. Este é - ou deveria ser - mais um "rapaz conhece rapariga", coisa que está bem escrita na capa, portanto só é enganado quem quer.

A primeira coisa que salta à vista é o extremo cuidado que o realizador John Carney colocou na reconstituição da época, nas roupas, nos carros (o Golf GTI Cabrio continua lindo!...) e, principalmente, na música - que, aliás, é o tema central do filme, restando apenas saber se é mais ou menos importante que a história de amor entre Conor (Ferdia Walsh-Peelo) e Raphina (Lucy Boynton).


É preciso deixar um aviso aos mais distraídos: "Sing Street" não é uma comédia ligeirinha. É um drama intenso, sobre pessoas intensas, a passarem momentos intensos. Nem por isso deixa de fazer rir, é verdade, mas o divertimento aqui é circunstancial, deve-se a momentos pontuais bem conseguidos, e talvez sejam esses pequenos instantes de leveza, que retiram peso ao conjunto.


Num ano em que outro musical anda nas bocas do mundo, "Sing Street" vem equilibrar a balança para um cinema mais adulto, embora protagonizado por adolescentes, também estes atrás dum sonho de fama e sucesso, apesar de confinados a uma cidade provinciana e que não lhes oferece grande futuro. Este é um filme sobre música e com música, uma história de amor com todos os clichés das histórias de amor. Só que vem apresentado com a habitual excelência da filmografia das ilhas britânicas, com atores competentes e uma direção exemplar.


Raphina diz que o amor é "triste-feliz" e na verdade os anos 80 deram Duran Duran, The Cure, Guns n'Roses,  mas também deram Ian Curties, Bon Scott, Cliff Burton. É desta dualidade entre a vida e a morte, a felicidade e a tristeza, que é feito "Sing Street". Tal como uma grande canção, que gostaríamos nunca acabasse, este filme termina demasiado depressa, quando desejávamos que ele continuasse para sempre.