O verdadeiro Eddie Edwards foi um perdedor (desportivamente falando) o que é completamente diferente de ser um falhado. Participou pela Inglaterra nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1988, e ficou em último lugar, quer na rampa de 70 metros, com 20 metros a menos que o penúltimo, quer na rampa dos 90 metros, a 30 metros do primeiro. No entanto... Foi recordista inglês... Porque não havia saltadores de ski em Inglaterra...
Pergunta: porquê fazer um filme sobre Eddie Edwards? Afinal, "Eddie The Eagle" é sobre quê exatamente? Sobre a habitual sede de vitória, que leva um perdedor nato a um determinado momento de glória? Não. Sobre a vontade de vencer? Também não, que o nosso herói sabe, à partida, que não pode ir longe. Então, sobre que é o filme, no seu sentido mais lato?
A resposta é dada no fim, nas palavras do próprio Pierre Coubertin - considerado o "pai" dos jogos olímpicos da era moderna: "O importante na vida não é a vitória mas a luta por ela; o essencial não é a conquista, mas ter realmente tentado". Ou, dito por outras palavras, "ganhar ou perder, tudo é desporto", o que mete qualquer (verdadeiro) atleta de alta competição de cabelos em pé!
Já várias vezes aqui elogiei a filmografia inglesa, pela sua enorme excelência de encenação, quer em tragédias quer em comédias, fazendo uso duma dramatização e dum ritmo próximos da perfeição. Só que o cinema inglês - como o europeu em geral - não usa a lágrima fácil nem a gargalhada sonora. Este é um excelente motivo para gostar de "Eddie The Eagle". A inteligência para criar um drama que é, em certo sentido, uma comédia de vida.
Eddie, o verdadeiro, saiu de Calgary, no Canadá, sem medalhas, mas saiu também em glória. Recordista inglês do salto de ski e admirado pelo público que, acima de tudo, valoriza o "tentar realmente". "Eddie The Eagle" é um filme de que se gosta sem dificuldade e tem muitos motivos para que isso aconteça: uma banda sonora inteligente, colocada no momento certo e fazendo uso de exitos conhecidos e fáceis de agaradar; e alguns planos deslumbrantes, que ficam a ganhar com o ecrã grande.
O filme é como o próprio Eddie Edwards: despretensioso mas convicto; humilde mas decidido. Tudo características que ficam bem num cinema que se quer mais virado para o espetador que para a bilheteira. E o público sabe reconhecer o despretensiosismo e a humildade, e valoriza a convicção e a honestidade Vai ser o "filme das nossas vidas"? Não, certamente. Mas vai ser um filme que vale a pena ser visto.