sábado, fevereiro 25, 2017

QUERER, QUERIA...

Os Olhos da Minha Mãe: CRÉDITOS COMPLETOS

Queria muito gostar deste filme, primeiro porque tem como atriz principal a portuguesa Kika Magalhães (Francisca), segundo porque tem Amália Rodrigues, terceiro porque tem inúmeras referências a Portugal, principalmente através da mãe de Francisca (Diana Agostini) e ainda, porque tem várias conversas em português, entre mãe e filha principalmente, embora seja aquele português manhoso, falado por americanos a tentar imitar brasileiro.

Por isso, exactamente porque queria gostar de "The Eyes Of My Mother", vou começar pelas partes boas. O filme é dum preto e branco impecável intensificado por takes longos e composições de câmara estáticas, que servem para acentuar a intensidade dramática da ação. Nicolas Pesce - que se estreia aqui como realizador - não se poupa a esforços cinematográficos, para esmagar o espetador e consegue-o muitas vezes.


Francisca, representada por Olivia Bond enquanto criança e por Kika Magalhães na adolescência, é afectada pela morte dos seus pais e a solidão que daí resulta, interfere com a forma como se relaciona com o mundo e com os outros. Esta parece ser a história base do filme, mas o realizador nunca consegue definir um ponto de vista que faça o espetador perceber realmente o que comanda a ação. Será um desvio psicótico? Será uma transferência mãe-filha? Em ambos os casos, é frustrante a perspetiva vista da plateia.


O estilo adoptado por Pesce não é totalmente desinteressante, fazendo Francisca parecer sempre pequena, com planos altos ou distantes, onde a personagem se perde na paisagem imensa. O que falta realmente é um ponto de apoio, mesmo que seja para apoiar a ambiguidade. O realizador parece não querer criar uma história tradicional, com principio, meio e fim - e isso não é necessariamente mau -, mas precisava de ter um fio condutor, nem que fosse para a alma de Francisca. Só para se perceber!...


O filme pode ser considerado de horror, feito com um orçamento limitado, mas nem isso serve de desculpa, porque há pouco tempo já aqui tivemos outros que eram fantásticos (e estou a lembrar-me apenas de "The Autopsy Of Janne Doe", mas podia rolar aí para baixo e encontrar outros). Alguém disse algures que "se Ingmar Bergman tivesse filmado "O Massacre No Texas", seria "The Eyes Of My Mother"". Não discordo totalmente, só que o problema, em relação a essas referências, é que este filme parece nunca "estar lá" verdadeiramente.


Não queria terminar sem regressar às partes boas, porque queria mesmo gostar deste filme: "The Eyes Of My Mother" é perfeito para uma sessão de terror, nas meias-noites do cinema lá do bairro e quem for desprevenido vai realmente ficar soterrado pela tensão preto e branco e pela realização intensa. Os amantes de gore, podem arranjar já espaço na agenda.

HAMBÚRGUER GRUMET

CRÉDITOS COMPLETOS


Embora o personagem principal seja um chef, a comida é um prato secundário em "Frank And Lola". No final, estamos perante um filme grumet, com uma cinematografia cuidada, bem interpretado, mas que não é mais que um hambúrguer, difícil de classificar, sem se assumir verdadeiramente quer como thriller, quer como romance.


Muitos dos thrillers de baixo orçamento tentam chamar a atenção através dos velhos truques do cinema negro a preto e branco, mas "Frank And Lola" não cai nesse erro: é um romance honesto, que só vai onde pode e onde deve. O problema é aquela sensação de que, com um risco pequeno, poderia ir muito mais longe.


"Frank And Lola" demora a arrancar, perdendo algum tempo a retratar a relação algo estranha entre Frank (Michael Shannon) e Lola (Imogen Poots), ambos bastante competentes nos personagens tortuosos que compõem. Quando finalmente assenta os pés no chão, o espetador é levado  para uma história de vingança, que dá a sensação de ficar sempre aquém daquilo que poderia conseguir, apesar de todas as reviravoltas que tenta introduzir no argumento.


Matthew Ross tenta não se intrometer muito no desempenho dos atores, talvez por falta de confiança, talvez para deixar respirar a tensão da trama, mas acaba por deixar os personagens à deriva, pelo menos os dois principais. O filme, para ser um thriller, precisa de mais tensão, de outra banda sonora mais dramática, de uma edição mais convincente; para ser um romance, precisa de mais envolvimento entre os personagens, dos quais nunca se percebe bem o relacionamento, para além do facto de estarem juntos em determinado momento, que nunca se sabe onde começou e se realmente acabou.


Este não é um filme mexido como uma omelete, mas é um filme entretido. Não leva o espetador a nenhum sitio onde já não tenha estado - muitas vezes com mais interesse -, mas também não trai ninguém num qualquer beco escuro. Tem o defeito de nunca conseguir que a audiência se entusiasme realmente pela história que lhe é apresentada, como se o realizador quisesse fazer um puzzle e lhe faltasse sempre uma peça.


Os verdadeiros amantes de thrillers vão perceber que "Frank And Lola" pode parecer um restaurante de luxo por fora, mas a comida que apresenta não tem a qualidade da aparência. Pode não ser uma refeição congelada, aquecida à pressa no micro-ondas, mas passou pelas mãos dum cozinheiro que não soube tirar o melhor partido dos ingredientes.