domingo, dezembro 03, 2017

UM DÓLAR MAL GASTO

CRÉDITOS COMPLETOS


Não se deixem enganar pela multiplicidade de prémios conquistados por este filme. "1 Buck" tinha muitas possibilidades, entre um thriller policial ou um drama familiar, e desperdiça-as todas num dólar mal gasto. Nem sequer é muito original a história de seguir um objecto que vai influenciando a vida de várias pessoas, mas nem isso é o mais desinteressante.


O filme começa com um crime, mas em 15 minutos já temos um polícia deprimido, viciado em cocaína, uma família disfuncional e, finalmente, uma nota de dólar que começa a passar de mão em mão. O realizador e argumentista Fabien Dufils diz ter apenas colado várias histórias que foi ouvindo, mas a verdade é que usou cola pouco consistente.


"1 Buck" dá-se ares, quer parecer o que não é, e isso é o pior que pode acontecer a um filme que, ele próprio, não sabe o que é. O elenco parece pouco à vontade no que está a fazer e a realização é muito parecida com uma tese de final de curso, apresentada por um adolescente eufórico de tão pedrado, num qualquer curso de cinema.


Talvez distraia alguns espectadores que gostam de mulheres a mostrar os seios ou de violência sem sentido - não aquela simples e directa dos "séries B", onde as tripas e os miolos espalhados pela parede fazem sentido, por não fazerem sentido nenhum -, mas vai deixar muito frustrada uma plateia que sabe o que quer, que já viu a mesma história filmada com extrema qualidade - e, sem me preocupar muito, lembro-me logo, logo, da espingarda de "Babel", de Alejandro González Iñárritu.


Poderia haver alguma condescendência acerca do baixo orçamento, Fabien Dufils até consegue captar aquele ambiente negro da América profunda - os bares sujos, as prostitutas baratas, as famílias tradicionais -, mas depois não sabe o que há-de fazer com isso. Arranja uma nota de dólar e gasta-a mal gasta. Os espectadores vão ficar desiludidos, desinteressados e perdidos.