quinta-feira, junho 02, 2016

UMA CASSETE PARA VOCÊS OUVIREM


Apenas um aviso à navegação: os Talking Heads eram, para mim, a "melhor banda do mundo" nos idos anos 80/90. Dito isto, resta acrescentar que "Stop Making Sense" é filmado pelo multi-oscarizado Jonathan Demme ("Silêncio dos Inocentes" e "Forrest Gump") e isso faz toda a diferença na apreciação deste filme.


Registado em 1983 em Los Angeles, durante duas noites, a primeira impressão que fica do filme é o espírito anti-teledisco que Demme imprime ao ritmo da filmagem. Numa época em que os video-songs faziam furor, "Stop Making Sense" utiliza principalmente planos quase fixos e travelings longos, contrariando a técnica preferida da MTV.

Once In The Lifetime

Toda a despesa do movimento que se espera de uma banda rock, fica a cargo dos Talking Heads, com David Byrne no seu melhor, saltando, correndo, contorcendo-se, como uma marioneta louca - ou manipulada por um ator louco!

Life During Wartime

Os Talking Heads nunca foram uma banda consensual, estavam fora do movimento punk - que, dizem alguns, já tinha morrido na altura -, não se encaixavam no tradicional movimento pós-punk - na altura liderado pelos Joy Division, Bauhaus e companhia - e a sua new-wave estava contaminada com influências africanas explicitas (e implícitas) que os atirava para um canto muito pouco mainstream.


"Stop Making Sense" permanece com uma das melhores combinações entre cinema e música, para o que contribuiu a energia contagiosa dos Talking Heads e a técnica exemplar de Jonathan Demme. Mesmo quem não é especialmente apreciador da banda, não consegue deixar de entusiasmar-se com o divertimento que é oferecido no palco, ao mesmo tempo que não pode deixar de apreciar a competência com que o realizador apresenta o concerto.

Heaven

Tanto quanto sei, este filme nunca estreou em Portugal no (chamado) circuito comercial e teve uma primeira apresentação no extinto Rock Rendez Vous, como primeira parte do (fantástico, diga-se de passagem) concerto dos Heróis do Mar. Lembro-me de, mais tarde, ter passado na Cinemateca Portuguesa,  pelo que é, portanto, um privilégio de muito poucos, apesar de circular com facilidade em CD e DVD.