quinta-feira, maio 05, 2016

O QUE AMAMOS ODIAR


Quentin Tarantino é um homem de clichés.  Primeiro, os clichés que rouba a todos os filmes que gostamos, de "Saturday Night Fever" a "Rio Bravo", sem exceção nem pudor. Uma pilhagem descarada e indiscriminada a todo o cinema, de Leste a Oeste.
Segundo, os seus próprios clichés. Cenas que se parecem repetir de filme para filme e que nós sabemos que já lá estão, só não sabemos quando vão aparecer.


"Os Oito Odiados" não foge a nenhum dos clichés que amamos: o dos westerns e os do próprio Tarantino. E a mistura dos dois faz um cocktail dramático do melhor que se viu em 2015. Os espaços abertos dos cow-boys de John Ford e John Wayne e a tensão nervosa de "Cães Danados" ou "Django Libertado".


E Tarantino não se faz rogado. Vai buscar a velha Panavision e filma em 70 milímetros - coisa que a maior parte dos espetadores não verá, nos cinemas atuais -, e vai buscar o próprio Ennio Morricone para a banda sonora - o padrinho de todas as bandas sonoras e, provavelmente, o único homem à face da terra que sabe meter em música uma boa cóboiada!


Depois há a escolha dos atores. Se há alguém que sabe meter o homem certo no lugar certo é Tarantino e estamos cheios de exemplos que não mentem: o Vicent Vega de John Travolta, "A Noiva" de Uma Thurman ou o Coronel Hans Landa de Christoph Waltz. Quem mais poderia ser Daisy Domergue, para além de Jennifer Jason Leigh? Ou John Ruth, para além de Kurt Russell?


"Os Oito Odiados" é tudo o que se espera dum Tarantino, com a violência de Django, o nervosismo de "Cães Danados" e o humor de  "Sacanas Sem Lei". Tudo alargado em Panavision e com música celestial. Tal e qual como nos nossos tempos de criança, quando Sergio Leone atirava às feras um Clint Eastwood quase adolescente.