segunda-feira, novembro 09, 2020

SUBTILEZAS SUL-COREANAS

Parasita: FICHA TÈCNICA



Decidi-me finalmente a ver “Parasite”, o vencedor absoluto dos Óscars de 2020. Se estão a ler esta pequena crónica antes de terem visto o filme, aconselho vivamente a largarem o computador e correrem para o cinema. E depois, quando acabar, voltem ao principio e vejam outra vez. Este é um filme que merece ser rebobinado! 

“Parasite” é divertido sem ser cómico, é dramático sem ser triste. Começa como uma fábula social – veio-me logo à cabeça o “Feios, Porcos e Maus” de Ettore Scola -, transforma-se numa espécie de policial e acaba como um slasher de série “B”.

O filme é, ao mesmo tempo, fácil e difícil de sintetizar: duas famílias de meios económicos opostos, vão cruzar-se de forma radical. E é tudo o que é importante saber antecipadamente. O realizador Bong Joon-ho  não faz grandes segredos, leva o espectador pela mão com calma, com reviravoltas mas sem sobressaltos.

 À primeira vista, o filme não é de sustos, nem inesperados, nem surpresas. Como diz Ki Taek (Kang-ho Song) “não vale a pena fazer planos, que a vida acaba sempre por alterar o previsto”. É melhor deixar tudo seguir o seu curso e agir em conformidade em cada momento e, nessa perspectiva,   “Parasite” parece sempre ser de uma previsibilidade desconcertante. Quando não o é, o espectador acaba por ficar espantado com o facto de não ter previsto o que estava mesmo à vista que iria acontecer.

Ao contrário de outros filmes que já aqui falei, que tentam abordar tantos géneros diferentes, acabando numa salada desinteressante, “Parasite”  é várias coisas – de drama a thriller, de comédia e romance – acabando por ser exactamente isso que é.  

Como disse lá para trás, este filme vai pedir uma revisão. Repleto daquele tipo de surpresas, que só o são porque, de tão óbvias, o espectador se espanta por não as ter previsto. É, ao mesmo tempo, uma obra cheia de pequenas subtilezas que, no final, vamos querer rever, para tentar encontrar a ponta da meada, que nos fez perdê-las durante a primeira visualização.

“Parasite” vale a pena em todos os sentidos. Leva-nos pela mão com carinho, mantém-nos agarrados ao ecrã com o interesse sempre no pico, desperta-nos os sentidos para o pormenor e para o geral. Pode-se dizer que nada falha, nada está a mais, nada está a menos.





segunda-feira, outubro 19, 2020

O DRAMA DA FALTA DE COMPROMISSO

A Balada de Adam Henry: ELENCO COMPLETO

 


O que vou escrever a seguir, necessita que eu comece pelo fim: Fiona Maye (Emma Thompson), uma juíza do Supreme Court, está a ver o seu casamento com Jack (Stanley Tucci) desmoronar-se. Ao mesmo tempo, é chamada a decidir sobre um caso que opõe um hospital e os pais de um jovem (Fionn Whitehead) que recusam, por motivos religiosos, uma transfusão de sangue que lhe pode salvar a vida. O argumento é escrito por Ian McEwan, basedo no seu próprio livro - que eu não li, portanto não vou emitir opinião.

Vamos então ao que interessa: não é segredo para ninguém a minha admiração pelo cinema inglês. "The Children Act" não foge à regra. Servido por actores brilhantes, uma "mise-en-scène" perfeita, uma reconstrução cuidada dos ambientes e das situações, este filme tinha tudo para ser o drama de todos os dramas. Devia chamar o espectador a comprometer-se, devia explorar o assunto até à exaustão. Mas não o faz, e acaba por tornar-se um balão vazio.

Podia ser um grande filme a todos os títulos, até porque o realizador Richar Eyre - o mesmo de "Iris", por exemplo -, não estraga o que tem à mão. Aproveita o que de melhor os actores lha dão, retrata a história com sobriedade e leva o espectador com cuidado e sensibilidade. Não é por falta de competência que a coisa falha. É mesmo por querer fugir ao tema.

A vida de Fiona é dirigida com a mesma precisão com que dita leis no tribunal. A sua relação com o marido desfaz-se por falta de humanidade. "The Children Act" podia ser um grande drama romântico, mas o argumento parece fugir ao tema, a vida privada da juíza é tratada de forma tão superficial, que o próprio espectador parece ficar de fora do assunto, que, afinal, é um dos temas centrais. Poderá ela mudar a sua atitude em relação a Jack? Será ele capás de suportar as privações, devido à frieza e (aparente) desinteresse da esposa?

O filme podia também ser um excelente drama moral. Os argumentos de ambas as partes - quer do hospital, quer dos pais de Adam -, levantam questões importantes sobre a Lei, a Ética e a Fé. Mas, mais uma vez, o filme recusa-se a comprometer-se. Deixa o assunto nas mãos da juíza e parece que o assunto começa e acaba aí. Nunca o espectador é chamado a tomar posição e o tema acaba tão depressa como começa. Não há questões sobre a autoridade do Direito, da Religião ou da parentalidade. Nada é problematizado, apesar da urgência do tema. 

Apesar de ser agradável de ver, bem filmado e com ritmo, bem interpretado, tecnicamente competente, "The Children Act" é uma obra inócua, no sentido em que tudo não passa dum embrulho bonito, mas sem nada dentro. Não é um filme de tribunal - onde a legalidade da ciência sobre a fé podia ser esgrimida -, não é um drama - onde a relação de Fiona com Jack podia ser explorada. Não é nada e, afinal, tem todos os ingredientes para ser tudo.

domingo, setembro 20, 2020

A IMPERFEIÇÃO DO MEDO

CRÉDITOS COMPLETOS






Martha Marcy May Marlene” é um daqueles filmes tensos, que faz a plateia remexer-se na cadeira sob o peso da angústia. Não que daí advenha algo, mas porque o espectador está permanentemente a antecipar coisas que, podem ou não, vir a acontecer.  Não é o filme perfeito – muitos vão sentir-se desiludidos com o final -, mas é na sua imperfeição que reside a sua grandeza. Tanto o realizador e argumentista Sean  Durkin como a actriz Elizabeth Olsen dão-nos uma primeira obra de dimensão promissora.

Martha (Elizabeth Olsen) foge de uma seita onde viveu durante dois anos e que gira à volta do carismático Ptrick (John Hawkes). Sem sitio para onde ir, pede ajuda à sua irmã, em casa de quem vai viver. Desorientada no tempo e nas emoções,  o realizador empurra - tando metafórica como literalmente - o espectador para um rodopio entre o passado e o presente, fazendo que a desconexão da personagem se alastre pela plateia.

Com uma direcção segura, Sean Durkin leva Elizabeth Olsen a uma interpretação que não iremos esquecer tão facilmente.  A actriz desempenha de forma brilhante o papel duma Martha inadaptada, confusa e amedrontada, arrastando o espectador pelo buraco sem fim da angústia. A plateia é solidária, sentindo o peso insustentável do ar da sala a comprimir-lhe os nervos até ao limite do suportável. Esta Martha vai ficar na memória de muita gente.

“Martha” é nome de baptismo, “Marcy May” é o nome que lhe dão na seita e “Marlene” é o nome com que todas as jovens do  culto atendem o telefone. Se com tal título, o filme não haveria de ser simples, o argumento não exagera nas confusões, a história é perfeitamente legível na sua linha do tempo. O desenrolar da acção é claro e, ao contrário de Martha, o espectador sabe sempre de onde veio e onde está. O “para onde vai” já é mais complicado!...

Embora seja um filme de 2011, eu só o vi em 2020, o que faz dele um “filme do ano” para mim. Há uns meses disse aqui que tinha a impressão de “O Homem Invisível”,  de Leigh Whannell ,  poder vir a ser um dos melhores thrillers de suspense do ano, ainda longe de saber no que se tornaria devido ao vírus e a todas as limitações impostas. Depois de “Martha Marcy May Marlene”, já não sei não, a concorrência começa a ser séria!

domingo, setembro 06, 2020

ARAGEM FRESCA

A Mais Bonita: ELENCO COMPLETO

 

Este é um filme nitidamente feminino, não especialmente por ser escrito e realizado por uma mulher, mas principalmente porque um dedo masculino teria tendência para fazer mais comédia que drama. “The Pretty One” é certamente um romance, mas muito longe de ser um filme divertido ou exuberante. Apesar do inevitável final feliz, é uma obra dramática e sensível. 



E depois temos aquela Zoe Kazan a que nos temos vindo a habituar, a namorada imaginária de “Ruby Sparks – Uma Mulher de Sonho” ou a alma telepática de “In Your Eyes”. Por qualquer razão que não se entende à primeira vista, continua longe de um argumento ou de uma realização que a faça despertar para um estrelato que já merece há muito.

 

 

Laurel e Audrey (ambas Zoe Kazan) são irmãs gémeas. Uma incógnita e despercebida e outra fascinante e fantástica. Quando a segunda morre num acidente de viação e o hospital troca as identidades de ambas, a primeira vê uma excelente oportunidade de assumir a vida que sempre desejou, abandonando a casa de campo onde mora com o pai (John Carroll Lynch) e embrenhando-se na grande cidade, usufruindo do sucesso .

 Aquilo que podia escorregar para uma comédia brejeira, transforma-se, pela câmara da realizadora Jenée LaMarque e pela sensibilidade de Zoe Kazan, num drama pessoal de descoberta. Ao viver outra vida, Laurel descobre que afinal só quer a sua própria. Ao assumir o papel da segunda, a primeira encontra-se e percebe o que afinal não é seu nem é assim tão desejado.

                             

Zoe Kazan tem tido alguma dificuldade em encontrar papeis que valorizem o seu charme de “rapariga lá da rua”, aquele ar de ser uma pessoa que vai ao nosso lado no autocarro, sem que lhe prestemos a mais pequena atenção.  Neste “The Pretty One” não precisa de se esforçar em desdobramentos, porque a sua gémea morre em 15 minutos, pelo que a actriz regressa ao seu registo sóbrio, calmo e despercebido muito rapidamente. Mas não se enganem, é precisamente essa interpretação que não deixa o filme descambar num subproduto de comédia barata.

Se contarmos cuidadosamente, Zoe Kazan interpreta quatro papeis diferentes neste filme: a campestre Laurel, que nunca abandonou a casa rural do pai; faz, ao mesmo tempo, a fascinante e sofisticada irmã gémea Audrey; com a reviravolta do destino, faz da primeira a fazer da segunda e, finalmente, faz a verdadeira e reencontrada Laurel. Não sendo nada que o espectador vá recordar como um papel da Óscar, é certamente algo de notável, principalmente porque as alterações de um para o outro são subtis e (quase) imperceptíveis.

“The Pretty One” é um filme que merece alguma atenção, visto com olhos atentos. Uma obra sensível, filmada com precisão e com um excelente grupo de actores empenhados. Uma corrente de ar fresco num domingo quente de Verão. E, sejamos claros, qualquer filme que acabe com a fantástica Simone White a cantar “Bunny In A Bunny Suit”, só pode ser bom, não é?

quarta-feira, agosto 19, 2020

IR AO CHINÊS E COMER HAMBURGUER

Terra à Deriva: ELENCO COMPLETO


"The Wandering Earth" tem um problema: é um filme escrito e realizado por chineses, produzido por chineses, interpretado - e nada mal, diga-se - por chineses, mas no fim não tem qualquer identidade chinesa. É apenas mais um filme-catástrofe, exactamente igual a todas as produções americanas de Hollywood.

Num futuro mais ou menos próximo, o Sol desaparece, tornando a Terra gelada. As nações do mundo juntam-se e transformam a Terra numa espécie de nave à deriva pelo espaço, guiada por uma estação orbital internacional, à procura de um novo sistema solar, que permita manter o planeta habitável. Só que, a determinado momento da viagem, uma catástrofe aproxima-se, exigindo que um grupo de heróis se voluntarie para a salvação de todos.

"The Wandering Earth" tem tudo o que se espera nestas situações, já vistas noutros terremotos, noutras inundações, noutros desastres: pontes a cair, carros em alta velocidade a fugir de enormes rochas voadoras, pessoas esmagadas. Tudo a que temos direito quando pedimos um Big Mac no McDonald ou um Wooper no Burger King.

É preciso acrescentar que este filme não fica a dever nada às produções hollywoodescas, tem efeitos especiais, tem ritmo, segue a uma velocidade estonteante, não deixa o espectador distrair-se ou aborrecer-se. É uma produção cuidada, de quem parece saber bem do oficio. Nada a dizer quanto a isso. O facto de ser chinês, é totalmente secundário.

 

domingo, abril 26, 2020

DE SURPRESA EM SURPRESA

CRÉDITOS COMPLETOS


A certa altura, “Stray Dolls” parece não ser mais que um “Thelma & Louise” em versão “B”., mas  aí já o  espectador percebeu que está a ver um excelente thriller policial, com suspense, ritmo e drama. De surpresa em surpresa, estamos perante a melhor prova que não é preciso milhões para fazer um grande filme.


Como primeira obra, Sonejuhi Sinha consegue aquilo a que se pode chamar  um tiro na mouche. Sem compromissos com o mainstream nem com os grandes estúdios, o realizador dá largas a um certo amor por referências cinematográficas, desde as Cataratas do Niágara às duas heroínas em fuga, estilizando um conjunto de clichés de trillers e dramas.


Riz (Gaetanjali Thapa) é uma emigrante ilegal nos Estados Unidos, que trabalha num motel de beira da estrada, onde partilha quarto com Dallas (Olivia DeJonge), uma viciada, perita em esquemas e subterfúgios. Entre ambas vai-se desenvolver um plano para devolver a liberdade à primeira e alguma dignidade á segunda. Como seria de prever, nem tudo corre como planeado e ambas vão entrar numa espiral de crimes e violência.


O filme tem muitos sub-temas no interior, desde a emigração ilegal, a  prostituição, o trafico de drogas, todos eles tendo um papel relevante na acção. Afinal, é por motivos diferentes que Riz e Dallas se envolvem na aventura que planearam. Mas o centro do turbilhão é mesmo um drama policial envolvente, dinâmico e interessante.


Sonejuhi Sinha tem um excelente sentido do detalhe, sabe estar no interior e no exterior, sabe onde posicionar-se para que nada se perca na acção. Talvez devesse fugir a alguns pormenores demasiado vistos, mas não se poderia pedir muito mais à estreia. “Stray Dolls” é um  policial  puro e duro, com aquele sentido de humor muito ati-social – o caso da foto de João Paulo II na recepção, ou o poster de Dolly Parton no quarto de Dallas – que fará as delicias dos mais atentos.


Não podemos negar que este lado negro do “sonho americano” já foi filmado vezes sem conta,  mas “Stray Dolls” encontra sem dificuldade o seu cantinho próprio no saturado tema central, mais que não seja, pela forma como valoriza e venera a obra cinematográfica anterior.  

sábado, abril 25, 2020

QUASE PERFEITO

Encontros: CRÉDITOS COMPLETOS


Podia ser o romance perfeito, mas “Deux Moi” tem um pequeno problema que é a falta de ritmo. Move-se em círculos lentos, colocando o espectador numa situação estranha, sabendo, ao fim de 15 ou 20 minutos, onde tudo vai acabar, mas andando demasiado em solavancos que emperram o desenrolar da história. Esta é a pior parte. Agora vamos ao resto.


Rémy (François Civil) e Mélanie (Ana Girardot) vivem em Paris  em prédios contíguos. Não se conhecem embora se cruzem de vez em quando na mercearia ou na farmácia – onde vão, ele por dormir de menos, ela por dormir demais; ele alheio e desinteressado devido a um trabalho de que não gosta, ela deprimida devido ao fim dum relacionamento.


“Deux Mois” segue ambos nas suas deambulações desinteressadas através de diálogos inteligentes e interpretações competentes . O filme tem humor – não sendo exactamente uma comédia – e levanta o problema do alheamento provocado pelas cidades modernas, impessoais, onde a solidão impera, mesmo que superpovoadas.


O uso  da psicoterapia para ir revelando o caracter dos personagens pode parecer um cliché demasiado visto, mas o realizador Cédric Klapisch, juntamente com o co-argumentista Santiago Amigorena, conseguem, mesmo nesses momentos, criar algo original e o espectador não deixa de se divertir com as situações desenvolvidas.


“Deux Mois” é um filme extremamente competente em todos os sentidos. Um pouco melhor gestão do ritmo e seria um romance perfeito, mesmo que aqui e ali alguns “deja vu”  possam distrair o espectador.  É, no entanto, muito mais uma história sobre a solidão que sobre o amor, muito mais sobre desencontros que sobre encontros.


Este é um daqueles filmes que chamará o espectador a uma segunda visualização, porque acaba com aquela sensação que houve coisas que ficaram para trás. A melhor premissa do filme é que não se pode amar alguém sem nos amarmos a nós próprios  primeiro, a pior, já explorada até á exaustão, é que a vida urbana de hoje nos arrasta para uma solidão infinita.

sexta-feira, abril 24, 2020

ZOMBIES A 200 À HORA

CRÉDITOS COMPLETOS


A filmografia Sul Coreana é o paraíso para os amantes do terror, principalmente quando se trata de gore e sangue a correr pelas paredes.  Além disso,o realizador  Sang-ho Yeon  parece ser um profundo conhecedor da tradição de George A. Romero e outros especialistas do assunto, por isso, este “Train ToBusan” é um filme de cortar a respiração, com a acção a desenrolar-se no ecrã à própria velocidade dum TGV.


Sem tempos mortos, sem pausas para recuperar o folego, sem deixar o espectador sossegado por um minuto que seja , “Train To Busan” desenrola-se a uma velocidade de deixar qualquer aspirante a Ayrton Senna sem descanso, mesmo que não seja mais que  um filme de zombies, puro e simples, com mortos-vivos a rasgar gargantas de gente inocente e desprevenida. Só isso.


Seok-woo (Yoo Gong) é um pai ausente que tem, contra vontade, de levar a filha Soo-na (Su-na Kim) de Seul a Busan e para isso apanha o TGV.  Esse comboio acaba por ser invadido por um grupo de zombies, transformando a viagem num inferno de morte e sobrevivência, onde se vão cruzando personagens com diferentes níveis de moralidade, por quem a plateia vai ganhando também diferentes níveis de simpatia.


“Train To Busan” tem tanto de “The Host” como de “A Noite dos Mortos-Vivos” e Sang-ho Yeon não se coíbe de roubar tudo o que precisa a ambos e a outros como “World War Z” ou “O Renascer dos Mortos”, apenas como exemplo, só que este filme é bastante mais rápido que o primeiro e bastante mais assustador que o segundo, deixando-os para trás em todos os sentidos.


É verdade que o filme abranda um pouco ao fim de uma hora de elevada velocidade, mas depois volta a acelerar para um final simplesmente brilhante. Quaisquer que sejam as referências que possam ir buscar à vossa memória, de filmes com comboios ou com zombies, se são aquela espécie de pessoas que não passam sem um bom horror e  gore, então, não há como poderem ignorar este “Train To Busan”

quarta-feira, abril 15, 2020

APENAS MAIS UM, MAS ISSO BASTA

Um Dia de Chuva em Nova Iorque: CRÉDITOS COMPLETOS


Podia passar páginas a explicar a minha admiração pelos filmes de Woody Allen, mesmo quando ele nos apresenta uma obra menor – e apresenta muitas vezes. Aos 85 anos, continua a escrever e realizar uma média de um filme por ano, pelo que não se poderia esperar uma produção de obras-primas como contas de supermercado. Este “A Rainy Day In New York é isso mesmo: mais um Woody Allen, o que, só por si, para mim, quer dizer muito.


Woody Allen sabe como ninguém escolher actores que consigam desempenhar os seus papeis psicóticos e deprimentes. “A Rainy Day In New York” tem um conjunto de interpretes, que representam o melhor de cada geração, mesmo considerando a intromissão de Selena Gomez que, diga-se desde já, não se sai nada mal.


O resto, é o costume: diálogos intelectualizados, debitados à velocidade da luz, que obrigam o espectador a possuir uma certa bagagem cultural para não se perder no meio das referências a realizadores, pintores, filósofos, escritores e doenças, claro – o grande amor do realizador, principalmente as do foro psiquiátrico e psicanalítico.


Gatsby (Timothée Chalamet), estudante de não se sabe bem o quê, mas grande jogador de poker, e Ashleigh (Elle Fanning), estudante de jornalismo, são um casal de jovens que aproveita o facto de ela precisar de ir a Nova York entrevistar um estranho realizador para o jornal da universidade, para passar um fim-de-semana romântico, entre jantares em restaurantes caros e visitas a museus. Este fim-de-semana vai envolve-los em aventuras imprevistas e transportá-los a novas experiências, que os farão descobrir-se de novo e perceber o seu relacionamento,


O que mais salta à vista na forma como cada um desempenha o seu papel , é a transparência com que ambos interiorizam os personagens que se incumbiram de interpretar. Tanto Timothée Chalamet como Elle Fanning  são absolutamente honestos nos seus papeis, sempre à vontade e convincentes. Depois, à volta de Gatsby e Ashleigh flutuam um conjunto de personagens, todos eles interessantes e nunca supérfluos.


É verdade que “A Rainy Day In New York” não passa de mais um Woody Allen, um entre mais de 50, diria eu. Mas, para mim, isso é muito e basta. Quem for á procura duma obra-prima, coisa que pode sair da cabeça do realizador a qualquer momento, não vai ficar muito entusiasmado; mas quem for à procura dum romance inteligente, bem construído e divertido, então está no sitio certo.