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“Seven – 7 Pecados Mortais” ou “O Estranho Caso de Benjamim Button” podiam ser cartões de visita suficientes para Devid Fincher, mas, mesmo assim, o realizador faz questão de mostrar que está lá. Enquanto Chloé Zhao tenta passar despercebida em “Nomadland”, Finsher, pelo contrário, é exuberante em “Mank”. Se o primeiro é filigrana sensível, o segundo é pedra bruta partida à força de martelo pneumático.
“Mank” é um daqueles filmes em que ninguém passa despercebido, do director de fotografia aos actores, do sonoplasta ao realizador. Nitidamente feito para concorrer aos Óscars, com interpretações teatrais e jogos de câmara dinâmicos, nada nesta obra vai deixar o espectador indiferente.
Durante a grande depressão americana, com o Hitler a subir ao poder na Alemanha, Herman J. Mankiewicz (Gary Oldman), alcoólico mas, ao mesmo tempo, um argumentista brilhante, tem de escrever, em 60 dias, um guião para Orson Welles (Tom Burke), isto enquanto os estúdios lutam por dificuldades e o público está mais preocupado com a fome que com as fantasias da tela.
O principal defeito de “Mank” parece ser a luta de egos no seu interior, os jogos de câmara contra as interpretações teatrais, a iluminação ou o som contra a fotografia, onde cada um quer ganhar os louros que deviam ser atribuídos ao trabalho de equipa. No entanto, poucos filmes acerca de cinema atingem o nível de “Mank”, requintado e perfeccionista, onde nada é deixado ao caso, tudo tem um tempo e um objectivo – como a propaganda eleitoral.
Herman Mankiewicz escreveu mais de 60 guiões, muitos deles não creditados, entre “Os Homens Preferem as Loiras” ou “O Feiticeiro de Oz”. Em “Citizen Kane: O Mundo a Seus Pés” ainda está para se decidir qual a sua contribuição verdadeira, dividindo os louros com Orson Welles, mas “Mank” não é um filme sobre escritores, é um filme sobre uma América contaminada por “fake-news”, depressão económica e umas eleições, onde um socialista atemoriza os americanos.
Voltando à questão dos Óscars de 2021, afinal, o que nos trouxe até aqui, podemos concluir que “Nomadland” dá muitos de avanço. “Mank” é mais parra que uva. Tem um embrulho brilhante para envolver uma prenda cara, mas que custa muito mais do que realmente vale. No fundo, este filme tem um belo corpo, mas falta-lhe alma.