Eu perco-me por um bom thriller; e quando um bom thriller encontra um realizador como Mennan Yapo, estão é a felicidade total; e quando um bom thriller, bem realizado, tem atores que sabem interpretar o suspense da história, então é o Éden, antes do pecado original.
"Premonition" tem tudo isso, é como a alma gémea dos doidos por thrillers e suspense, género de cinema que é alimentado pela surpresa e pelo imprevisto, e para isso é preciso enganar o público. O espetador acredita no que não vê, mais do que no que vê, o que o faz supor o que não está lá. É aldrabado pelo que imagina, mais do que lhe é dado.
Mas como ninguém gosta de ser aldrabado, é preciso muita mestria na manipulação das imagens e da informação, para que o espetador consiga ter a sua imaginação enjaulada e a sua atenção devidamente direcionada. Os atores têm que desempenhar o seu papel de ilusionistas e a realização tem de guardar a informação de tal forma, que não destrua a história.
Há quem prefira ver à lupa algumas inconsistências do guião e, com isso, perder algum do divertimento da surpresa, que vem com a inconsistência seguinte. Brincar com a roda do tempo nem sempre necessita de alicerces sólidos. O próprio tempo é volátil e surpreende-nos a cada momento. Os pormenores podiam ter sido trabalhados à exaustão paranóica, mas isso talvez retirasse alguma fluidez ao ritmo e um filme é um filme, não um exercício de dedução lógica. Andar a saltar de dia para dia, não só fora da sequência tradicional mas com acontecimentos cruzados, é coisa para dar a volta à cabeça de qualquer um.
Também é verdade que "Premonition" vem embrulhado num elenco de luxo, mas já aqui escrevi sobre embrulhos dourados, que depois não tinham nada lá dentro. Se os nomes do casting ajudam a gostar do filme, é precisamente porque se esforçam e fazem o seu papel.