terça-feira, novembro 14, 2017

ENTRE A ESPADA E A PAREDE

Valerian e a Cidade dos Mil Planetas: CRÉDITOS COMPLETOS

"Valerian e a Cidade dos Mil Planetas" é um filme que está entre a espada e a parede, entalado contra os espectadores mais velhos que querem reviver as aventuras da banda desenhada da sua juventude, que Mézières e Christine desenharam de forma brilhante, e os mais novos, para quem não passa de mais um filme de aventuras espaciais.


A verdade é que a banda desenhada que tinha Valerian e Laurerine como heróis, era muito mais uma aventura filosoficamente metafórica, que uma simples aventura espacial e esse foi o primeiro dilema que Luc Besson teve de enfrentar: escolher entre o fascínio da história ou a beleza dos mundos criados. Escolheu o segundo. Se fez bem ou mal, cada um que fale por si.


Ao contrário de outros autores na época, como Bilal ou Druillet, Mézieres e Christine nunca foram de pintar grandes pranchas, usando a velha técnica do quadradinho simples, o que remetia o leitor para a importância da história, mais que para o esplendor dos cenários. Luc Besson preferiu o oposto e "Valerian e a Cidade dos Mil Planetas" é visualmente exuberante, o que faz o espectador esquecer-se da história em certos momentos.


Esse dilema fará com que uma plateia mais conservadora se sinta algo defraudada, enquanto os mais jovens, menos familiarizados com a banda desenhada original, se sintam atraídos por mundos fantásticos, personagens esplendorosos e um colorido fascinante. É como estar com a corda no pescoço, à espera da chegada do carrasco. Luc Besson tinha de fazer opções e fê-las, para o bem e para o mal.


A escolha dos actores Dane DeHaan (Major Valerian) e Cara Delevingne (Sargento Laureline) é, novamente, um dilema: os personagens originais são mais maduros, enquanto estes heróis se parecem mais com adolescentes a divertirem-se num jardim infantil. Não vão mal, é verdade, mas o sex-apeal da Laureline original não resultava da sua juventude, mas da sua irreverência perante o "segue as regras" do seu companheiro.


Olhado de mente aberta, este "Valerian e a Cidade dos Mil Planetas" tem muito mais qualidades que defeitos: visualmente exuberante, interpretado com competência q.b., é uma aventura de ficção cientifica digna dos melhores exemplares do género. Vai fazer alguns espectadores sonhar com os quadradinhos da infância, mas, por outro lado, vai fazer os mais jovens, que não conhecem a banda desenhada que serviu de base ao filme, correr à livraria, procurar as histórias originais.

sábado, novembro 11, 2017

ESTILO E SIMPLICIDADE

CRÉDITOS COMPLETOS

Sendo um apaixonado de thrillers e policiais, fico agradavelmente emocionado quando alguém se propõe fazer um drama que seja simplesmente uma história de crime e do desenrolar da investigação, sem complicar e sem querer fazer o que não deve. Um crime é um crime, um criminoso é um criminoso, e um filme policial deve começar no primeiro e explicar sem pretensões a forma como a policia chega ao segundo.


Neste sentido, "Wind River" é simples e tem estilo. Tomando a neve como um elemento essencial, um aliado e um inimigo ao mesmo tempo, conta a história de dois policias - Jane Banner (Elisabeth Olsen) e Cory Lambert (Jeremy Renner) - e da sua investigação acerca do assassínio duma jovem, numa perdida e gelada Reserva de Nativos Americanos.


Taylor Sheridan - mais conhecido como actor de televisão em "Sons of Anarchy" ou "C.S.I." - escreve e realiza um filme simples, directo e envolvente. Um policial sem nada a mais ou a menos, fazendo uso duma mão segura e duma escrita envolvente. Não há nada a inventar aqui: há um crime e tem de se descobrir o culpado. Sigamos em frente!


Na altura da revelação final, Sheridan usa o habitual flashback, contando a história sem interrupções e sem períodos de suspense desnecessário. Não se vão acumulando revelações indirectas nem pistas para colar, que noutros filmes do género poderiam ser consideradas essenciais para manter o espectador interessado. "Wind River" não precisa de truques ou subterfúgios. É um drama simples, que vive do que é importante.


Jane and Cory têm empatia e grande parte do drama assenta nos seus ombros e na forma como se relacionam, ou, se quiserem, na forma como a sua relação vai evoluindo ao longo da história. "Wind River" é para quem gosta de policiais que cumprem o que lhes é pedido: um drama negro e intenso. Apesar do gelo que alimenta toda a paisagem, o filme queima como água a ferver. É tudo o que se deseja.