sexta-feira, agosto 11, 2017

LÁ, ONDE ATÉ O SILÊNCIO DÓI

CRÉDITOS COMPLETOS

Poucos realizadores conseguem captar o país profundo com a intensidade que ele merece. Dois filmes vieram-me à memória durante este "The Levelling": "Despojos de Inverno", de Debra Granik, e "Vale Abraão" de Manoel de Oliveira, mas podiam se alguns outros. Cada um à sua maneira, contam histórias de pessoas e lugares onde não há histórias. Filmes de tal dimensão, onde até os silêncios fazem doer.


"The Levelling" é a estreia da realizadora e argumentista Hope Dickson Leach nas longas metragens. É uma história da Inglaterra rural, da relação entre pai (David Troughton) e filha (Ellie Kendrick) e de como uma morte obriga a segunda a regressar à terra natal, enfrentando o primeiro, que odeia. Enquanto vai percebendo o que sucedeu ao irmão (Joe Blackmore), Clover tem de refazer as relações conturbadas com o progenitor.


A morte é a grande niveladora do drama da veterinária Clover. O filme começa com alguém a dizer-lhe do sucedido e perguntando "posso ajudar nalguma coisa?". Ao que a jovem responde "pode fazer com que seja o meu pai em vez do meu irmão?". Estão lançados os dados para duas horas dum drama de tal intensidade, que o espetador quase nem consegue respirar. Não se pense em grandes aventuras. "The Levelling" tem tudo menos velocidade, apesar de espingardas e tiros estarem de certa forma presentes na ação. Este é um filme que se quer saboreado devagar, com lentidão, onde até as festas no cão demoram o tempo real, tão real como a vida no campo.


Hope Dickson Leach filma cada fotograma com tal paixão, que cada milímetro de fita pode ser transformado numa canção de amor ou de raiva, depende do ponto de vista. Os atores não representam apenas, incluindo os mais secundários, transformam-se no próprio personagem em cada instante e isso transforma o filme num hino dramático, tão contundente como um murro no estômago.


Não importa o que a Academia vai dizer em Março do próximo ano. Pode-se já antecipar, que estamos na presença de um dos melhores filmes ingleses do ano, seja qual for o reconhecimento público e oficial que mereça. Sob a direção de Dickson Leach, um grupo de atores exemplares dá-nos um vislumbre sobre a infelicidade, a morte e a redenção, numa quinta rural da Inglaterra que ninguém quer ver, ou que ninguém sabe ver.

AGRADAVELMENTE SIMPLÓRIO

CRÉDITOS COMPLETOS
 
Todos os motivos são bons para um romance, mesmo que seja a mais que batida paixão entre um nazi e uma judia, mesmo que seja uma história de espionagem disfarçada de história de amor, mesmo que seja uma mistura entre tudo isto. "The Exception" vai buscar pequenas coisas a todo o lado e constrói um filme que tanto faz que seja visto ou não.


Esta é a primeira incursão de David Leveaux nas longas metragens de cinema e, talvez por isso, parece sofrer de alguma timidez, que se acaba por refletir nas indecisões de "The Exception". O romance é pouco intenso, a aventura de espiões tem pouco suspense, o problema da dualidade nazis-judeus tem pouco drama. Salva-se a performance de Christopher Plummer no papel de Kaiser Wilhelm III, razão pela qual toda a trama se inicia.


O Capitão Brandt (Jai Courtney) é encarregado da guarda pessoal do ex-Rei da Alemanha, exilado na Holanda depois da derrota na Primeira Guerra Mundial. É nessa missão que conhece Mieke (Lily James), uma criada judia a servir na mansão do rei. Só que a defesa da vida do rei acaba por revelar-se uma aventura transformadora na vida da pequena comunidade onde habitam investigadores da SS à procura dum espião inglês ou leais seguidores do monarca.


Entre tantos motivos de interesse, o filme acaba por perder-se numa teia de motivos nenhuns. Sem nunca encontrar o Norte, Leveaux agarra-se à bússola da simplicidade, escorregando algures para o simplório. O filme não aquece nem arrefece, mas socorre-se de uma série de truques para se ir mantendo à tona do aceitável. O espetador nunca se perde, nunca se assusta, nunca se surpreende, no final vai para casa em paz e sossego como se não tivesse acontecido nada.


Se é verdade que não aborrece, que David Leveaux não estica a história nem mais um segundo que o aceitável, também é verdade que não há sumo, por muito espremido que seja. É apenas um filme feito de forma profissional, por atores profissionais e filmado por uma equipa profissional. Tudo polidamente agradável, mas sem chama. E esta história tinha pano para mangas, nas mãos de gente mais atrevida!