sexta-feira, fevereiro 10, 2017

BACH PEDE NAMORO A IGGY POP

Se Eu Ficar: CRÉDITOS COMPLETOS


Já não é segredo para ninguém: eu gosto de romances. Gosto de dramas românticos, comédias românticas, thrillers românticos... Eu gosto de beijos e abraços, encontros e desencontros. O problema é que Hollywood despacha histórias de amor como o McDonald despacha hambúrgueres e mais de metade não valem as duas horas sentado na sala escura.


Por isso, quando um "rapaz conhece rapariga" sai da mediania, já nos damos por muito contentes e já aqui falei de vários. Agora, quando atinge o nível deste "If I Stay", então, é como estarmos no paraíso, mesmo considerando que Adam (Jamie Blackley) não é assim tão consistente como isso e muita da química que podia emanar com Mia (Chloë Grace Moretz) se perde pelo caminho.


A música é um elemento central em "If I Stay" e não estou a falar na banda sonora, estou mesmo a falar da música como elemento central do filme, como um personagem a mais na história. Mia é filha de pais hipies, que educaram os filhos na cultura rock dos anos 70 e 80, cultura essa que o pequeno Teddy (Jakob Davies) assume sem hesitar, mas que a filha mais velha não partilha, preferindo os clássicos e dedicando-se afincadamente e com êxito ao estudo do violoncelo.


Desta dicotomia entre música clássica e rock urbano contemporâneo, nasce um amor entre Mia e o vocalista de uma banda em ascensão. Nada de novo, à primeira vista. Só que um acontecimento dramático vem alterar este choque de culturas e expor tudo o que de melhor tem o amor e a amizade - aqui na personagem de Kim (Liana Liberato).


A Mia resta-lhe uma única decisão para tomar e essa irá decidir o seu destino. E essa questão vital (nunca a palavra teve tanto sentido!...) vem embrulhada em Iggy Pop, Smashing Punpkins, Beethoven ou Bach, para todos os gostos. Há neste filme muito mais que um simples romance. E se Adam está mais familiarizado com a pergunta "should I stay or should I go?" é Mia que tem de saber a resposta.

CURRÍCULO ACADÉMICO

Juno: CRÉDITOS COMPLETOS

Há filmes que deviam fazer parte do currículo académico de todos os pais, professores e adolescentes. "Juno" devia ser visto na escola, juntamente com a leitura de "Os Lusíadas" e "Amor de Perdição". Ninguém pode dizer que sabe educar ou que é adolescente, sem nunca ter visto este filme; é o mesmo que querer ser católico sem nunca ter lido a primeira frase da Bíblia.


Na sua aparência mais superficial, "Juno" é uma comédia romântica, mas na sua essência, é verdadeiramente uma lição sobre a vida, sobre a família, sobre a amizade. Tudo isto servido com uma banda sonora de excelência para as situações que quer retratar, uma realização duma competência exemplar, sem se intrometer onde não deve, diálogos inteligentes e divertidos e um  leque de atores profissionalmente inexcedíveis, com empatia e sensibilidade para o assunto que estão a representar.


Juno (Ellen Page) pode parecer demasiado matura para a idade, mas na realidade é apenas mais uma adolescente em apuros, com sentido de humor para enfrentar a situação. Tem a sorte de ter uma amiga especial, Leah  (Olivia Thirlby) e pais atentos (J. K. Simmons e Eileen Pedde), que compõem parte do elenco dirigido com mão de mestre por Jason Reitman - o mesmo que, dois anos depois, nos daria o muito competente "Nas Nuvens".


Há uma critica que se pode fazer ao filme: Juno é um personagem irrealista. Tentando fazer de adolescente esquisita, acaba por ser uma caricatura disso mesmo. É justo. Parece mais um cartoon que uma pessoa, tanta a ironia adulta que destila do seu discurso. Mas no fundo, é precisamente isso que dá mais interesse ao drama dos outros personagens. E como ela própria diz, ser a esposa de Zeus, não é para todos!


Enquanto pai e educador, gostava de ter sido eu a escrever este "Juno" e isso é o melhor elogio que posso fazer ao filme, porque estamos a falar duma pequena lista que não ocupa os cinco dedos duma mão, mesmo considerando que toda a película está impregnada duma certa cultura pop dos anos 80, um pouco fora de moda hoje em dia e que, possivelmente, vai passar ao lado da maioria dos espetadores: as t-shirts, a música, algumas piadas com referência a séries e filmes.



O filme é uma montanha russa, amado na mesma medida em que é odiado. Metade dos espetadores acham-no irritante, com as suas piadinhas quase a desproposito. Afinal, quem é que atura uma adolescente que grita "Thundercats, aí vamos!" quando lhe rebentam as águas e começa o trabalho de parto? Mas isso é a superfície. Como se o argumentista Diablo Cody quisesse meter cá para fora toda a sua própria adolescência.


Podem dizer o que quiserem, mas "Juno" é inteligente, divertido e comovente. Começa como uma simples comédia e acaba como o retrato de um conjunto de personagens por quem nos vamos apaixonando. A diferença de opiniões só serve para sublinhar a importância do tema central.