sexta-feira, fevereiro 10, 2017

CURRÍCULO ACADÉMICO

Juno: CRÉDITOS COMPLETOS

Há filmes que deviam fazer parte do currículo académico de todos os pais, professores e adolescentes. "Juno" devia ser visto na escola, juntamente com a leitura de "Os Lusíadas" e "Amor de Perdição". Ninguém pode dizer que sabe educar ou que é adolescente, sem nunca ter visto este filme; é o mesmo que querer ser católico sem nunca ter lido a primeira frase da Bíblia.


Na sua aparência mais superficial, "Juno" é uma comédia romântica, mas na sua essência, é verdadeiramente uma lição sobre a vida, sobre a família, sobre a amizade. Tudo isto servido com uma banda sonora de excelência para as situações que quer retratar, uma realização duma competência exemplar, sem se intrometer onde não deve, diálogos inteligentes e divertidos e um  leque de atores profissionalmente inexcedíveis, com empatia e sensibilidade para o assunto que estão a representar.


Juno (Ellen Page) pode parecer demasiado matura para a idade, mas na realidade é apenas mais uma adolescente em apuros, com sentido de humor para enfrentar a situação. Tem a sorte de ter uma amiga especial, Leah  (Olivia Thirlby) e pais atentos (J. K. Simmons e Eileen Pedde), que compõem parte do elenco dirigido com mão de mestre por Jason Reitman - o mesmo que, dois anos depois, nos daria o muito competente "Nas Nuvens".


Há uma critica que se pode fazer ao filme: Juno é um personagem irrealista. Tentando fazer de adolescente esquisita, acaba por ser uma caricatura disso mesmo. É justo. Parece mais um cartoon que uma pessoa, tanta a ironia adulta que destila do seu discurso. Mas no fundo, é precisamente isso que dá mais interesse ao drama dos outros personagens. E como ela própria diz, ser a esposa de Zeus, não é para todos!


Enquanto pai e educador, gostava de ter sido eu a escrever este "Juno" e isso é o melhor elogio que posso fazer ao filme, porque estamos a falar duma pequena lista que não ocupa os cinco dedos duma mão, mesmo considerando que toda a película está impregnada duma certa cultura pop dos anos 80, um pouco fora de moda hoje em dia e que, possivelmente, vai passar ao lado da maioria dos espetadores: as t-shirts, a música, algumas piadas com referência a séries e filmes.



O filme é uma montanha russa, amado na mesma medida em que é odiado. Metade dos espetadores acham-no irritante, com as suas piadinhas quase a desproposito. Afinal, quem é que atura uma adolescente que grita "Thundercats, aí vamos!" quando lhe rebentam as águas e começa o trabalho de parto? Mas isso é a superfície. Como se o argumentista Diablo Cody quisesse meter cá para fora toda a sua própria adolescência.


Podem dizer o que quiserem, mas "Juno" é inteligente, divertido e comovente. Começa como uma simples comédia e acaba como o retrato de um conjunto de personagens por quem nos vamos apaixonando. A diferença de opiniões só serve para sublinhar a importância do tema central.

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