"The Girl On The Train" podia ser um grande filme, independentemente da novela de Paula Hawkins, que não conheço. Tem lá (quase) todos os ingredientes para um excelente thriller, apesar das inúmeras referências a Hitchcock - "Janela Indiscreta", "Vertigo" - incluindo a inevitável loira misteriosa. Mas confunde-se a si próprio e acaba por tornar-se numa confusão decepcionante.
Como diz o grande cozinheiro Marco White, "mais é menos", ou seja, não é preciso complicar para um prato simples ser fantástico. É o que o realizador Tate Taylor não faz, tendo na mão uma boa história e bons atores, mas tornando (o que poderia ser) um bom filme, num labirinto de banalidades.
Claro que Emily Blunt (a alcoólica e deprimida Rachel) é brilhante, acompanhada dum elenco profissionalmente irrepreensível. Mas isso só faz com o espetador se sinta mais frustrado, por todas as potencialidades que a película tem e que acabam por nunca se concretizar. O filme tem um motor Ferrari, mas nunca consegue andar melhor que um Fiat.
O filme tem tudo o que seria preciso para ser brilhante, incluindo o final surpreendente, o que faz acreditar que a história de Paula Hawkins deveria ser ingrediente suficiente para fazer uma obra brilhante. Mas a principal sensação do espetador, é ir a correr para uma livraria comprar o livro, em vez de saborear o filme que deixa um travo estranho na boca, como um prato que podia ser extraordinário, feito de ingredientes de primeira qualidade, mas que se complica a si próprio, com temperos e cozeduras demais.
Não me interpretem mal: não é um filme horrível. É apenas um filme que poderia ser excelente e não passa de medíocre. Complica o que é simples. Não basta o tradicional "o livro é sempre melhor que o livro", até porque não li o livro e, portanto, não estou a fazer comparações. Estou a falar de cinema puro e simples: "The Girl On the Train" tem tudo para poder ser o paraíso da degustação; acaba por não passar dum prato complicado, mas sem sabor.