O que primeiro chama a atenção em "The Revenant", é a extrema competência de Alejandro Iñárritu atrás das cãmaras - nada que surpreenda os mais atentos, depois de "Amor Cão", "21 Gramas" ou "Birdman".
"The Revenant" (O Renascido) tem o seu próprio ritmo e toda a acção segue esse passo a passo que vai marcando a aventura, sempre sem precipitação e sem sobressaltos. Tudo se desenrola como tem de ser, mesmo que para isso seja preciso abrandar a euforia das grandes correrias. Cada coisa no seu lugar; cada coisa no momento que tem de ser.
Às vezes parece que algum fogo de artificio hollywoodesco seria bem vindo, mas no fim percebemos que nada está a mais e nada está a menos. A ausência de espetacularidade fútil faz com as coisas sejam digeridas com calma e saboreadas com parcimónia.
Fica a ganhar Leonardo DiCaprio, Tom Hardy e (principalmente) Will Poulter, que poderia ter passado despercebido, mas ganha uma dimensão essencial.
A dinâmica metódica imposta por Iñárritu - em minha opinião o grande herói do filme - faz com que os atores se sintam confortáveis no que estão a fazer, desenvolvendo personagens consistentes. O filme poderia resvalar para uma pasta intragável, se a realização preferisse acelerar para satisfazer um público menos paciente.
"The Revenant" é um grande filme. Talvez venha a ser engolido pelas luzes efémeras da noite dos Óscars, mas merece muito mais. Também é verdade que não deixa de ser um produto típico de Hollywood, mas vem embrulhado num pacote muito pessoal, indo beber influências a outro cinema mais preocupado com o recheio do bombom que com o papel brilhante que o embrulha.
Até a música de Ryuichi Sakamoto - que, por vezes, pode parecer intrusiva -, feita de elementos audazes de cordas e eletrónica, parece diluir-se nos passos (aparentemente) lentos mas seguros do desenrolar do filme. Afinal, tudo se combina para ter um filme de qualidade superior. É por momentos como "The Revenant", que gostamos de ir ao cinema!