quarta-feira, agosto 30, 2017

CORTAR OS PULSOS DE PRAZER

CRÉDITOS COMPLETOS

Cheguei a este "Wristcutters: A Love Story" devido aos Gogol Bordello e não devido a qualquer pseudo-conhecimento sobre cinema. Isto é uma descoberta, não uma demonstração de eruditismo cinéfilo primário. Mas deixem-me já por os pontos nos "i's": se há cinema perfeito, está aqui! Uma verdadeira demonstração de inteligência, divertimento e non-sense, que devia ser a primeira aula de qualquer curso sobre filmes, que pretendesse ensinar seja o que for aos alunos.


Por desgosto de amor, Zia (Patrick Fugit) suicida-se e vai para a um local pós-vida, onde conhece Mikal (Shannyn Sossamon), que procura os responsáveis do local, afirmando que é um erro estar ali, e Eugene (Shea Whigham), um músico rock da Rússia que morreu electrocutado. Entre os três inicia-se uma aventura pelo deserto postmortem, rodeada de pneus velhos, carcaças de veículos queimados e sofás abandonados. Tudo isto embrulhado numa banda sonora de eleição, mas discreta.


A partir de um conto de Etgar Keret, Goran Dikic escreve e realiza um filme de fazer inveja à maioria dos realizadores consagrados, uma obra-prima de humor e divertimento, que não se submete a quaisquer interesses, regras ou politicas. Não é só um filme "fora da caixa", é um filme que não tem caixa de onde sair fora, um hino, uma sinfonia. Se o sublime de Kant pode existir, está mesmo aqui. É pena o filósofo alemão ter vivido há 300 anos, escusaria de escrever as 400 páginas da "Crítica da Faculdade de Julgar"!


Talvez as minhas palavras possam fazer com que os leitores destas crónicas pensem numa comédia romântica, só que mais perfeita que as anteriores que aqui falámos - e já falámos de muitas bem interessantes. Engano. Ninguém aqui vai rir às gargalhadas. "Wristcutters: A Love Story" é um filme agri-doce, considerando que lida com o suicídio e o desespero do abandono. Nada mais trágico, não é? Estamos a falar de divertimento - que começa logo no prazer que os actores parecem ter a representar o seu papel - não de comédia.


Se é um risco abordar o tema da vida depois da vida - sob pena de nos perdermos em moralismos sem sentido ou questões de metafisica duvidosa -, Goran Dikic, nascido na Croácia, pega num conto Etgar Keret, nascido em Israel, e serpenteia entre as gotas de chuva de todos os erros possíveis, parecendo ir inventando a história ao longo do percurso, mas com tal mestria, que nos deixamos arrastar por prazer e por amor.


Este filme é uma lição, mas não uma lição qualquer. É um daqueles raros momentos da nossa formação académica, em que se junta o professor que mais gostamos com a disciplina que mais gostamos. E todos nós sabemos que, em toda a nossa vida, se isso aconteceu duas ou três vezes, já foi muito! Em "Wristcutters: A Love Story" toda a lógica se inverte. É como se gritássemos bem alto: enquanto há morte, há esperança!

UM TRAMBOLHÃO SÉRIO

CRÉDITOS COMPLETOS

Pegar num filme baseado numa obra da rainha do mistério Daphne Du Maurier, remete-nos imeditamente para Hitchcock - "Os Pássaros" ou "Rebecca" - ou para "Aquele Inverno em Veneza" de Nicolas Roeg; ao mesmo tempo, pegar num filme de Roger Michell, remete-nos para a brilhante comédia "Nothing Hill". Com a fasquia colocada tão alto, é uma pena que "My Cousin Rachel" seja um enorme trambolhão.


Nem o mais desastrado conseguiria fugir à tensão que a história quer colocar entre os dois protagonistas, Rachel (Rachel Weisz) e Philip (Sam Claflin), mas depois os actores que interpretam os personagens não têm faisca que justifique os sentimentos que Roger Michell pretende filmar. Limitam-se a fazer o seu papel de forma competente, quando o tipo de suspense que Du Maurier pretende é muito mais psicológico que físico, muito mais subentendido que presente.


Como de costume, a reprodução da época, a encenação, toda a filmografia, remete constantemente para a perfeição inglesa. Mas para um apreciador de mistérios e de suspense, tudo começa e acaba aí. Um filme exemplarmente bem feito, mas com uma exasperante falta de tensão; bem construído, mas com demasiados andares para depois não se desmoronar. Sobe-se uma escada a pique por antecipação e, depois, dá-se uma queda do primeiro degrau, apenas porque a escada acaba exactamente lá.


Embora o espectador se possa esquecer disso ao longo do filme, "My Cousin Rachel" é um thriller. Um filme de mistério e vingança, onde o amor vem colocar um grão de poeira nas intenções do protagonista. Também é verdade que esta mesma história já tinha sido levada ao cinema em 1952 por Henry Coster, com Olivia de Havilland e Richard Burton como protagonistas, e, nessa altura, a própria autora teceu duras criticas ao filme. Será, então, problema do livro original, que deve ficar encerrado nas páginas escritas?



Ver um filme inglês nunca é totalmente uma perca de tempo. "My Cousin Rachel" é um drama de época cozido em banho-Maria, que faz um uso desadequado das potencialidades de que dispõe, não conseguindo desatar completamente o nó do envolvimento emocional e do perfil psicológico dos personagens. Por outro lado, tem algumas performances de registar, com Rachel Weisz à cabeça, embora o envolvimento com Sam Claflin seja pobre.


Conheço pelo menos uma pessoa para quem este é um dos livros da sua vida. Certamente irá ficar tão desiludida com esta produção, como ficou quando assistimos ao filme de 1952. A intensidade da obra original parece ficar sempre perdida algures num limbo sem direcção. Hitchcock e Roeg conseguiram captar a intensidade de Daphne Du Maurier como ninguém mais, antes e depois deles. É uma pena. Esta autora merecia muito mais.

terça-feira, agosto 29, 2017

O PONTO DE VISTA DE UMA LEICA

O Sentido do Fim: CRÉDITOS COMPLETOS


A Leica III é considerada, por muitos fotógrafos, a melhor máquina fotográfica de sempre. O objecto visto através de uma lente é uma excelente metáfora para este "The Sense of an Ending", um filme que fala precisamente da forma como olhamos para o exterior de nós e de como o tempo pode afectar o nosso próprio ponto de vista sobre nós mesmos, sobre os acontecimentos que nos afectaram e as pessoas que interagiram connosco.


Tony Webster (Jim Broadbent e Billy Howle), reformado de uma profissão indefinida e, aparentemente como passatempo, possuidor de uma loja de máquinas fotográficas em segunda mão, recebe um dia uma carta a informá-lo que é herdeiro do diário da mãe da sua ex-namorada de faculdade, Veronica (Charlotte Rampling e Freya Mavor). Um excelente ponto de partida para uma viagem ao passado, reformulando toda a perspectiva do presente.


Ritesh Batra - o génio que em 2013 já nos tinha oferecido o imperdível "A Lancheira" - filma este "The Sense of an Ending" com a sensibilidade necessária para manter os excelentes actores no local certo para representarem os personagens ao qual estão dedicados. E, sejamos claros, entre a actualidade e os flash-backs, entre filha, esposa e ex-esposa, namorada e secundários, circulam aqui mais de 20 identidades, cuja encruzilhada se precipita para o próprio Tony.


Não se pense que Ritesh Batra se deixa enredar num novelo confuso. Pelo contrário! Todo o caminho é percorrido com uma segurança exemplar, não deixando, por si, de requerer alguma atenção do espectador, que tem de se manter concentrado para seguir o percurso sem se perder. Ninguém aqui tem um papel passivo, todos têm o seu próprio ponto de vista, como se cada um tivesse a sua Leica III, através da qual vai observado o objecto a fixar.


"The Sense of an Ending" é mais sólido que atractivo, um belo e bem representado filme sobre as fraquezas e os dramas do passado e de como se cruzam no presente, alterando o foco da lente de tal forma que o protagonista das acções perde o sentido do enquadramento, mesmo quando o objecto principal é ele próprio. De repente, Webster está entre o nascimento do neto e o regresso da sua paixão da faculdade, sentindo-se perdido no seu próprio papel.


O que Ritesh Batra parece querer filmar é muito menos o fim e muito mais o caminho até lá. Isso acaba por deixar o espectador num vazio estranho quando o filme acaba. Mas o conjunto é um belo exemplar de como fazer cinema sem pressas, baseado numa história interessante e num conjunto de actores excelentes dirigidos com mão segura. Um desafio desconcertante ao poder da memória na influência do nosso ponto de vista para o presente.

quarta-feira, agosto 23, 2017

O SENTIDO DA VIDA É O BEIJO DE UM VAMPIRO

CRÉDITOS COMPLETOS
 

"The Transfiguration" corre o risco de não agradar a gregos e troianos, o que é uma pena porque é um daqueles filmes obrigatórios para os amantes de cinema com significado. Se é verdade que George A. Romero e os seus "horror-movies" estão presentes em referências directas e indirectas, também é verdade que esta é tudo menos uma história de terror, muito menos de vampiros.


Agredido pelos vizinhos e negligenciado pela família, o adolescente Milo (Eric Ruffin) gosta de filmes de vampiros. Um dia conhece Sophie (Chloe Levigne), mais velha mas nem por isso menos conturbada. Ele é mais sanguinário, prefere "Martin" de George A. Romero, ela é mais romântica, prefere "Twilight" a obra de Stephenie Meyer. Os espectadores vão ficar confusos: uns dirão que, para vampiros, tem muito romance; outros dirão que, para romance, tem muito sangue.



A verdade é que, em minha opinião, nem uns nem outros têm razão. O vampirismo e o romance são apenas a caixa onde se guarda uma profunda reflexão sobre o drama da adolescência, sobre a solidão humana, sobre como duas almas perdidas procuram desesperadamente um tronco flutuante na tempestade da vida, de forma a não se afogarem no turbilhão das águas revoltas da existência.


"The Transfiguration" tem sangue suficiente para poder ser considerado um filme de terror - ou, se quiserem, de horror -, mas isso funciona apenas como a sombra do Lucky Lucke, que vai mais lenta que o corpo que a projecta. É um filme arrastado para um banho de sangue, como Milo, apenas como um acto de auto-mutilação, como Sophie.
 

Só para acabar, em modo de aviso à navegação: esta é uma obra contemplativa, sem diálogos a mais e sem cenas que não façam sentido; os personagens não perdem tempo a dizer coisas que não tenham significado e a realização não perde tempo com acontecimentos que não encaixem no todo. É por isso que, no fim, o espectador se sente um grão poeira no drama a que assistiu. Provavelmente, para a maioria, nada mais será como dantes...

domingo, agosto 20, 2017

NEM MAIS, NEM MENOS

CRÉDITOS COMPLETOS


"Inconceivable" é um daqueles filmes que não oferece nem mais  nem menos do que aquilo que promete, desde a capa ao último fotograma: um thriller honesto, filmado de forma honesta, representado por actores honestos. A história pode parecer um dejá vu - e é, em certo sentido -, mas todo o produto final vem embrulhado numa competência que não desilude o espectador, se este for devidamente prevenido acerca do que vai encontrar.


Para fugir do seu passado, Katie (Nicky Whelan) muda de cidade, onde cria uma relação de amizade com o casal Brian (Nicholas Cage - em minha opinião, um actor excelente mas incompreendido) e Angela (Gina Gershon), de quem se torna baby-sitter. A partir desta premissa simples e directa, Jonathan Baker realiza um filme simples e directo, com momentos de suspense simples e directos. Um thriller certamente interessante, considerando que cada um faz o seu papel e todos o fazem bem feito.


O facto de nada estar a mais e nada estar a menos, podia perfeitamente ser o ponto de partida para qualquer coisa nova, mas o argumento de Chloe King não deixa muitas pistas para que Jonathan Baker se ponha a inventar. As coisas são o que são e "Inconceivable" é precisamente o que é. Se ninguém vai ficar desapontado, também é verdade que ninguém vai ficar surpreendido.


Aqui está um daqueles filmes do qual não se pode dizer mal porque é bem feito, mas também não se pode dizer bem, porque não passa nem um milímetro do risco. Talvez entusiasme os amantes de thrillers, que gostam de sustos e reviravoltas finais, mas mesmo esses, penso eu, têm muito mais e melhor com que se entreter. Aqui vão apenas passar o tempo.



"Inconceivable" contém pelo menos duas estreias em produções hollywoodescas: a realização de Jonathan Baker e a actuação de Nicky Whelan. Se a segunda não desilude (antes pelo contrário, compõe uma excelente Katie), o primeiro vai precisar de mais atrevimento, mais "punch" - como diz um amigo meu -, para criar ideias próprias. A honestidade, só por si, pode não ser um trunfo na selva do cinema.

sábado, agosto 12, 2017

UMA REVISTA PARA ADOLESCENTES

A 5ª Vaga: CRÉDITOS COMPLETOS
 

Eu adoro catástrofes, fins do mundo, aliens devoradores e toda a espécie de ameaças que a humanidade teme. Adoro viver a exterminação da espécie "homem" da face do planeta e a sala de cinema é o melhor lugar do mundo para o fazer, agarrado a um pacote de pipocas como se fosse o último salva vidas, qual astronauta Ripley na sua última nave salvadora em "o oitavo passageiro".


Foi essa a razão principal porque peguei neste "The 5th Wave"; foi isso e o facto de me ter apaixonado por Chloë Grace Moretz em "Se Eu Ficar", de que já falei aqui. Talvez por isso, a desilusão com esta produção seja maior. Embrulhado num ataque extraterrestre, vem um medíocre romance adolescente, tão mediocre que ao fim de 20 minutos - minimamente interessantes, mas não elevem muito as expectativas - mais parece que estamos a folhear uma daquelas revistas para adolescentes e, ao mesmo tempo, a furar o cérebro com uma chave de fendas.


Li algures que "The 5th Wave" é como um remake de "Twilight", só que trocando os vampiros e os lobisomens por aliens. Não é verdade. A saga de Bella e Edward - com todos os defeitos que possui, e conforme os episódios vão avançando, tem cada vez mais defeitos que qualidades, todos sabemos -, a saga, dizia eu, criou uma moda, (re)inventou o velho, fazendo-o parecer novo. Este filme, pelo contrário, é uma lixeira de plástico onde vagueia uma equipa de Hollywood, que não tem nada pior onde ocupar os dias.


Cassie (Chloë Grace Moretz) tenta sobreviver num mundo ameaçado por uma raça extraterrestre a que chamam "Os Outros" - como???!!! -, enquanto procura o seu irmão mais novo no meio do caos em que se transformou a vida no planeta. Pelo caminho, encontra um jovem atraente e simpático, em quem não sabe se pode confiar. Para os amantes do Apocalipse, durante cerca de 20 ou 30 minutos ainda há esperança. Mas depressa ela se perde num mar de vulgaridades, quer enquanto romance adolescente, quer enquanto ficção cientifica - se é que a definição se pode aplicar aqui.


O filme tem alguns efeitos especiais interessantes - o que é um lugar comum no cinema acerca do fim do mundo -, tem tiros e explosões, correrias e tudo o que pode servir para entusiasmar o espetador. Mas nada consegue salvar a história, a interpretação, a realização, a edição... Enfim, se alguma coisa pode ser salva aqui, são as pessoas que devem fugir do cinema tão depressa quanto puderem. E quem vos avisa, vosso amigo é!

sexta-feira, agosto 11, 2017

LÁ, ONDE ATÉ O SILÊNCIO DÓI

CRÉDITOS COMPLETOS

Poucos realizadores conseguem captar o país profundo com a intensidade que ele merece. Dois filmes vieram-me à memória durante este "The Levelling": "Despojos de Inverno", de Debra Granik, e "Vale Abraão" de Manoel de Oliveira, mas podiam se alguns outros. Cada um à sua maneira, contam histórias de pessoas e lugares onde não há histórias. Filmes de tal dimensão, onde até os silêncios fazem doer.


"The Levelling" é a estreia da realizadora e argumentista Hope Dickson Leach nas longas metragens. É uma história da Inglaterra rural, da relação entre pai (David Troughton) e filha (Ellie Kendrick) e de como uma morte obriga a segunda a regressar à terra natal, enfrentando o primeiro, que odeia. Enquanto vai percebendo o que sucedeu ao irmão (Joe Blackmore), Clover tem de refazer as relações conturbadas com o progenitor.


A morte é a grande niveladora do drama da veterinária Clover. O filme começa com alguém a dizer-lhe do sucedido e perguntando "posso ajudar nalguma coisa?". Ao que a jovem responde "pode fazer com que seja o meu pai em vez do meu irmão?". Estão lançados os dados para duas horas dum drama de tal intensidade, que o espetador quase nem consegue respirar. Não se pense em grandes aventuras. "The Levelling" tem tudo menos velocidade, apesar de espingardas e tiros estarem de certa forma presentes na ação. Este é um filme que se quer saboreado devagar, com lentidão, onde até as festas no cão demoram o tempo real, tão real como a vida no campo.


Hope Dickson Leach filma cada fotograma com tal paixão, que cada milímetro de fita pode ser transformado numa canção de amor ou de raiva, depende do ponto de vista. Os atores não representam apenas, incluindo os mais secundários, transformam-se no próprio personagem em cada instante e isso transforma o filme num hino dramático, tão contundente como um murro no estômago.


Não importa o que a Academia vai dizer em Março do próximo ano. Pode-se já antecipar, que estamos na presença de um dos melhores filmes ingleses do ano, seja qual for o reconhecimento público e oficial que mereça. Sob a direção de Dickson Leach, um grupo de atores exemplares dá-nos um vislumbre sobre a infelicidade, a morte e a redenção, numa quinta rural da Inglaterra que ninguém quer ver, ou que ninguém sabe ver.

AGRADAVELMENTE SIMPLÓRIO

CRÉDITOS COMPLETOS
 
Todos os motivos são bons para um romance, mesmo que seja a mais que batida paixão entre um nazi e uma judia, mesmo que seja uma história de espionagem disfarçada de história de amor, mesmo que seja uma mistura entre tudo isto. "The Exception" vai buscar pequenas coisas a todo o lado e constrói um filme que tanto faz que seja visto ou não.


Esta é a primeira incursão de David Leveaux nas longas metragens de cinema e, talvez por isso, parece sofrer de alguma timidez, que se acaba por refletir nas indecisões de "The Exception". O romance é pouco intenso, a aventura de espiões tem pouco suspense, o problema da dualidade nazis-judeus tem pouco drama. Salva-se a performance de Christopher Plummer no papel de Kaiser Wilhelm III, razão pela qual toda a trama se inicia.


O Capitão Brandt (Jai Courtney) é encarregado da guarda pessoal do ex-Rei da Alemanha, exilado na Holanda depois da derrota na Primeira Guerra Mundial. É nessa missão que conhece Mieke (Lily James), uma criada judia a servir na mansão do rei. Só que a defesa da vida do rei acaba por revelar-se uma aventura transformadora na vida da pequena comunidade onde habitam investigadores da SS à procura dum espião inglês ou leais seguidores do monarca.


Entre tantos motivos de interesse, o filme acaba por perder-se numa teia de motivos nenhuns. Sem nunca encontrar o Norte, Leveaux agarra-se à bússola da simplicidade, escorregando algures para o simplório. O filme não aquece nem arrefece, mas socorre-se de uma série de truques para se ir mantendo à tona do aceitável. O espetador nunca se perde, nunca se assusta, nunca se surpreende, no final vai para casa em paz e sossego como se não tivesse acontecido nada.


Se é verdade que não aborrece, que David Leveaux não estica a história nem mais um segundo que o aceitável, também é verdade que não há sumo, por muito espremido que seja. É apenas um filme feito de forma profissional, por atores profissionais e filmado por uma equipa profissional. Tudo polidamente agradável, mas sem chama. E esta história tinha pano para mangas, nas mãos de gente mais atrevida!