quinta-feira, julho 07, 2016

OS SEIS (OU SETE) INCOMPREENDIDOS

Há discos de que só nós mesmos é que gostamos. Pequenos monumentos, guardados no canto da prateleira, dos quais desfrutamos num prazer só nosso, silencioso e solitário.
São assim como uma coleção privada de prazeres obscuros, tão incompreendidos ao longo do tempo que, por mais anos que passem, serão sempre exclusivamente nossos.

 Billy Idol, "Cyberpunk" (1993)
 
 Billy Idol é um colecionador de hits, mas nunca foi um homem de grandes álbuns. Colocava canções avulso nos top's, mas parecia falhar sempre quando arriscava trabalhos de fundo. "White Wedding", "Eyes Without A Face", "Dancing With Myself", sei lá, a coleção é tão vasta, que nem vale a pena falar nisso, porque muitas destas músicas ainda nos martelam nos ouvidos, nas noites perdidas em discotecas e bares.
"Cyberpunk" é uma exceção. Não teve nenhum hit de remonta. Se calhar, é por isso que ninguém se lembra dele, lançado em 1993 já numa época decrescente para a notoriedade de Billy Idol. No final, é um disco bem mais homogéneo que os outros do cantor, sem a montanha russa dos sobes e desces.
E depois, tem uma versão de "Heroin" - sim, essa dos Velvet Underground -, que certamente Lou Reed gostaria de ter escrito, em vez da original.

 
 Pink Floyd, "The Final Cut" (1983)
 
Seria possível ir mais longe que o "tour de force" anterior? A opinião de Roger Waters foi acabar com tudo e seguir o seu caminho. Para isso, sob o nome do coletivo Pink Floyd, acabou a psicanálise que tinha começado em "The Wall" e, ainda com as crianças de "Another Brick In The Wall II" a martelarem na cabeça. fez este "The Final Cut".
Este disco foi completamente abandonado pelos fãs da banda. Hoje, ouvido com atenção e sem preconceitos, é um grande disco.

 Genesis, "A Trick Of The Tail" (1976)
 
 
 Genesis, "Wind & Wuthering"

Os Genesis a digerir a saída de Peter Gabriel, ainda sem assumirem o formato pop que viria a marcar os últimos discos, a balançar entre a antiga escrita mitológica - que tinha no ex-vocalista a sua alma - e aquele som rendilhado que estava destinado a terminar.
Foram os dois discos de transição entre o velho e o novo. Funcionam como se fossem dois de um só, não como as duas faces de uma moeda, que se opõem, mas como o mesmo lado partido ao meio e que se completam.
 
 Metallica, "Load" (1996)
 

"Load" é um disco fantástico, sucessor do mítico "black album". É também um disco de rutura, com a editora e com os admiradores do passado. Todo os disco balança entre um som quase herético para o metal - repleto de musicas lentas e baixos que fariam Cliff Burton dar voltas na campa - e as habituais letras negras e deprimentes da banda.
Os anteriores apaixonados da banda, odeiam este disco, porque é feito para recolher um público não habitual nos Metallica; os novos admiradores, amealhados com o disco anterior, não encontram nada parecido com "Nothing Else Matters" e desistem de "Load".
Quaisquer deles fazem mal. O tempo veio provar que este disco é Metallica completo e no seu melhor.

 Soft Machine, "Softs" (1976)
 

Entre os psicadélicos, "Softs" foi engolido por "Wish You Were Here" dos Pink Floyd; entre os apreciadores de jazz, foi engolido pela sua matriz assumidamente psicadélica. Uma contradição, porque, em ambos os casos, este disco deveria figurar como a maior fusão entre free-jazz, jazz-psicadélico, jazz-rock, o que quiserem. É uma viagem alucinada a novos sons e a ideias musicas totalmente originais.
 
Yes, "Tormato" (1978)

Os Yes nunca foram uma banda que estivesse no topo para as gerações atuais. Embora muitas das suas músicas aparecerem com frequência nos samplers das bandas de jovens, os discos dos Yes não passam de coisas redondas na prateleira dos pais, de quem, mesmo  estes, já só se lembram muito raramente.
"Tormato" foi mais uma tentativa dos Yes sinfónicos fazerem um disco mais próximo dos tops, com canções mais curtas. Ficou entalado entre a primeira tentativa "Going For The One" e o falhado "Drama", este sim, assumidamente mais pop que sinfónico.
"Tormato" é bem mais consistente que o seu precedente e que o seu sucessor. Se os Yes quisessem deixar as suas sinfonias de 30 ou 40 minutos, teria mesmo de ser assim.