terça-feira, maio 31, 2016

MAY YOU STAY, FOREVER YOUNG


Como todos os concertos, "A Última Valsa" tem momentos altos e baixos. Ao fim de 40 anos, esses momentos parecem ir variando um pouco, talvez porque haja coisas que gostávamos e já não gostamos, ou porque há outras coisas que não gostávamos e passámos a gostar.

"The Last Waltz" - disco completo

Para mim, ficarão para sempre a melhor versão de "Up On Cripplr Creek" e as fantasticas interpretações de "Helpless" com Neil Young e a invisível Joni Mitchell, "Manish Boy" com Muddy Waters ou "Mystery Train" com Paul Butterfield, isto apenas entre muitas outras. São aquelas que duraram 40 anos e hão-de durar mais 40.


O filme (ou "documentário"?) começa com um aviso: "Este filme é para ser ouvido alto"! Claro que há momentos estranhos como a atuação de Neil Diamond e o seu "Dry Your Eyes". É óbvio que o cantor não pertence àquele grupo, mas por outro lado serve para acentuar o à vontade com que os The Band acompanham quem quer que seja.

"Further Up The Road" - Eric Clapton with The Band

Na época de estreia, houve momentos que deram mais que falar que outros. O duelo de guitarras entre Robbie Robertson e Eric Clapton alimentou muita discussão. Mas se virmos bem, a versão de "Further Up The Road" que Clapton leva ao palco, não sendo desinteressante, é indiferente. O guitarrista parece pouco empenhado, como se estivesse a oferecer uma prenda a um amigo de quem não é especialmente próximo.


O filme (ou "documentário"?!) acaba em apoteose e essa apoteose contêm uma das melhores versões de "Forever Young" que Bob Dylan alguma vez conseguiu: elétrica, fanhosa e arrasadora. Aliás, Bob Dylan parece ser o grande mestre de cerimónias da celebração, nada de estranho se considerarmos que foi precisamente como banda de suporte de Dylan que os The Band ganharam notoriedade.

"Forever Young" - Bob Dylan with The Band

É verdade que "The Last Waltz" vai fazer 40 anos - o que é uma idade mais que suficiente para muitas das músicas que o integram -, mas permanece como um dos melhores filmes-documentário de um concerto que já foram produzidos. Isso deve-se muito mais a Martin Scorcese e muito menos aos músicos que vão passando pelo palco, alguns deles perfeitamente desconhecidos das gerações mais novas.
 
Martin Scorsese
São duas horas bem passadas, quer para quem gosta de música, quer para quem gosta de cinema. Scorsese vai entrevistando os membros dos The Band nos intervalos e  vamos colando um puzzle que é atirado para o público logo de inicio: porque é que uma banda de rock decide terminar a sua carreira no auge da fama? Ou, pelo menos, no auge da sua forma técnica e criativa?

quinta-feira, maio 26, 2016

UMA GERINGONÇA EM GLÓRIA



Seis meses foi o prazo que eu dei à coligação que governa Portugal desde Outubro. Depois, com a entrada - previsível e, ao mesmo tempo, inesperada - do PCP nas contas da coligação, emendei a mão e depositei alguma esperança na geringonça - sem esquecer que o ex-ministro Paulo Portas tem direitos de autor sobre a expressão.


É verdade que a maior parte das decisões tomadas até agora, foram apenas desfazer o mais impopular do governo anterior e, ao mesmo tempo, aprovar leis de mera propaganda: o aumento do ordenado mínimo, a redução de algumas taxas de IRS e os compromissos com o Bloco de Esquerda - a adoção  por casais do mesmo sexo, por exemplo. Mas mais tarde ou mais cedo, o governo vai ter de tomar opções sérias e a longo prazo.


A entrada em cena do presidente Marcelo Rebelo de Sousa desviou as atenções para a política dos afetos, fazendo o pessoal olhar mais para Belém que para a Praça de S. Bento. Isso deixou António Costa e a geringonça com algum espaço para respirar, apesar de algumas crises internas com os tabefes do ministro da cultura e a demissão de um secretário de estado que ninguém conhecia, João Meneses do Ministério da Educação.


Portugal tem um governo de esquerda - ou, pelo menos, controlado pela esquerda! - desde os dias da revolução. É um governo que vai andando entre a necessidade do Bloco de Esquerda de se fazer importante e a complacência do Partido Comunista, que parece estar assim a modos que a ver "onde as modas vão parar". Tal como qualquer geringonça, vai andadando e fazendo o seu trabalho. Não é grande coisa e, mais tarde ou mais cedo, vai ter de começar uma viagem longa, isto se realmente quiser durar os quatro anos da legislatura.


O que acontece com a maioria das geringonças, é que servem para dar umas voltinhas ali no bairro, ir ao supermercado e ao café, mas quando são chamadas a tarefas mais exigentes, acabam por falhar e encostar. Quem irá beneficiar se o governo-geringonça parar? António Costa e o seu PS, certamente, que irão prolongar este estado de dar o que não tem, até a coisa dar o badagaio. Enquanto isso, os dois partidos de esquerda que vão servindo de suporte, olham de lado um para o outro, a ver qual assumirá o ónus duma possivel queda do governo, quando as coisas começarem a encravar.


segunda-feira, maio 23, 2016

AVISO SÉRIO E HONESTO


 "Assalto a Londres" é tão mau, que devia haver um abaixo assinado para ser proibido!


 É verdade que há filmes tão maus, que se tornam filmes de culto - o meu favorito continua a ser "O Ataque dos Tomates Assassinos"! - e também é verdade que há filmes tão maus, que se tornam imperdiveis por isso mesmo - recordemos, apenas, o "Showgirls" do ex-"Instinto Fatal" Paul Verhoeven.


Não é o caso de "London Has Fallen". Este é mau, mau mesmo, por principio e for natureza. O realizador não sabe o que é uma câmara de filmar, os argumentistas não sabem escrever  - dos diálogos nem vale a pena falar!... - e o resto é uma espécie de dolorosa passagem de tempo entre o tédio e o espanto horrorizado.


 É verdade que trás Morgan Freeman, mas deve ter sido um erro de casting. Resta saber de o erro foi do ator quando leu o script, ou dos produtores quando o convenceram a entrar no filme.


Claro que todos somos livres, mesmo de ver os piores filmes do mundo. Mas vão munidos de muitos comprimidos para o enjoo, ou de muito sentido de humor, para se rirem de vocês próprios por terem entrado no cinema. E não digam que não foram avisados!

quinta-feira, maio 05, 2016

O QUE AMAMOS ODIAR


Quentin Tarantino é um homem de clichés.  Primeiro, os clichés que rouba a todos os filmes que gostamos, de "Saturday Night Fever" a "Rio Bravo", sem exceção nem pudor. Uma pilhagem descarada e indiscriminada a todo o cinema, de Leste a Oeste.
Segundo, os seus próprios clichés. Cenas que se parecem repetir de filme para filme e que nós sabemos que já lá estão, só não sabemos quando vão aparecer.


"Os Oito Odiados" não foge a nenhum dos clichés que amamos: o dos westerns e os do próprio Tarantino. E a mistura dos dois faz um cocktail dramático do melhor que se viu em 2015. Os espaços abertos dos cow-boys de John Ford e John Wayne e a tensão nervosa de "Cães Danados" ou "Django Libertado".


E Tarantino não se faz rogado. Vai buscar a velha Panavision e filma em 70 milímetros - coisa que a maior parte dos espetadores não verá, nos cinemas atuais -, e vai buscar o próprio Ennio Morricone para a banda sonora - o padrinho de todas as bandas sonoras e, provavelmente, o único homem à face da terra que sabe meter em música uma boa cóboiada!


Depois há a escolha dos atores. Se há alguém que sabe meter o homem certo no lugar certo é Tarantino e estamos cheios de exemplos que não mentem: o Vicent Vega de John Travolta, "A Noiva" de Uma Thurman ou o Coronel Hans Landa de Christoph Waltz. Quem mais poderia ser Daisy Domergue, para além de Jennifer Jason Leigh? Ou John Ruth, para além de Kurt Russell?


"Os Oito Odiados" é tudo o que se espera dum Tarantino, com a violência de Django, o nervosismo de "Cães Danados" e o humor de  "Sacanas Sem Lei". Tudo alargado em Panavision e com música celestial. Tal e qual como nos nossos tempos de criança, quando Sergio Leone atirava às feras um Clint Eastwood quase adolescente.

quarta-feira, maio 04, 2016

O MELHOR DE DOIS MUNDOS


Juntar a ficção cientifica com o policial é o melhor de dois mundos. O problema de "Synchronicity" é que acaba por não ser nem uma coisa nem outra.


A ver se nos entendemos: o filme é ligeirinho, rola sem aborrecer e é um bom entretimento para uma tarde domingo. Mas quando acabar, sai tudo do cinema para a cervejaria beber umas imperiais e não sobra nada. Fica uma espécie de vazio, tipico do cinema que não aquece nem arrefece.


Os argumentistas Jacob Gentry (também realizador) e Alex Orr tentam bater à porta da ficção cientifica, tentam bater à porta do policial, tentam bater à porta da teoria da conspiração. Tentam entrar em tantas casas, que depois perdem-se e não saiem do corredor sem escolher nenhuma.


Nem sequer falta a meteriosa mulher fatal, só que Brianne Davis não é Lauren Bacall nem Chad McKnight é Humphrey Bogart. E muito menos "Synchronicity" é "The Big Sleep" ou "Blade Runner" (apesar da tentativa, através das sombras e de toda a atmosfera cinzenta).

Agora que o calor aperta, talvez a praia seja melhor opção. A não ser que sejam cinéfilos absolutamente viciados e não consigam deixar de lado filme nenhum. Um bom mergulho é tempo mais bem passado, mas cada um sabe de si!