sexta-feira, abril 01, 2005

DOMÓNIOS INTERIORES

Sentei à minha mesa
Os meus demónios interiores
Falei-lhes com franqueza
Dos meus piores temores

Tratei-os com carinho
Pus jarras e flores
Abri o melhor vinho
Trousse amêndoas e licores.

Chamei-os pelo nome
Quebrei a etiqueta
Matei-lhes a sede e a fome
Dei-lhes cabo da dieta

Conheci cada um
Pus de lado toda a farsa
Abri a minha alma
Como se fosse um comparsa.

E no fim já bem bebidos
Demos abraços fraternos
E de copos bem erguidos
Brindámos aos infernos.

Saíram de mansinho
Aos primeiros alvores
Fizeram-se ao caminho
Sem mágoas nem rancores

- Adeus foi um prazer –
Disseram a cantar
- Mantêm a mesa posta
Porque havemos de voltar.

(Jorge Palma, in “Norte”)

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