sexta-feira, janeiro 01, 2016

HITCHCOCK JANTA COM DOSTOIÉVSKI




É gratificante quando podemos ter um romance que não seja uma colagem de clichés. É verdade que Woody Allen não é consensual e, principalmente, é uma montanha russa, capaz do melhor e do pior nun curto espaço de tempo. Aquelas viagens pelas capitais europeias, deixaram "Match Point" e pouco mais.


 "Irrational Man" tem Kant, Kierkgaard, Heidegeer e, de repente, tem Hitchcock e Patricia Highsmith no "Desconhecido do Norte Expesso". E tem crime e tem castigo. Um cocktail de moral, imperativo categórico e Dostoiévski.


É um filme para quem gosta de ler e de ouvir. Woody Allen não abdica dos diálogos longos e dos planos fixos em travelings lentos, enquanto os personagens debitam ideias cruzadas, que vão discutindo ao longo de caminhadas (aparentemente) infindáveis, embora aqui não chegue aos extremos de "Comédia Sexual Numa Noite de Verão"


E depois tem o regresso da adolescente apetecível - um fetiche que só Woody Allen consegue manter sem parecer ridículo -, só que Jill (Emma Stone) não anda perdida em "Manhattan", nem tem a candura e a inocência virginal de Mariel Hemingway.


Há uma coisa que posso garantir: não é um filme que irá rebentar com as bilheteiras, nem fazer o grupo sair do cinema com as ideias consensuais. Mas há outra coisa: não há nada melhor que possam fazer hoje, do que enfiarem-se num cinema a ver "Irrational Man", para curar a ressaca da noite de passagem de ano.

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