sexta-feira, outubro 28, 2016

ESPERAR TUDO


O que se pode esperar, quando se pega num filme com 30 anos, filmado num esplendoroso preto-e-branco? Esta é a pergunta central do espetador que pega (mais ou menos distraído) em "Down By Law" ("Vencidos Pela Lei").


E a resposta, quando o filme vem de Jim Jarmusch, é: TUDO! Ainda por cima, quando tem lá dentro Tom Waits, John Lurie e Roberto Benigni, todos juntos e sem desconto, então pode-se esperar ainda mais que tudo. E, apesar do que diz a descrição, não é uma comédia - mesmo que faça rir -, nem é um policial - apesar de ter policias e ladrões (guardando as devidas distâncias aos verdadeiros "ladrões").


Dois inocentes são presos e a eles junta-se na prisão alguém com um sotaque estranho. É tudo o que é preciso para transformar o espetador num sem-abrigo cinematográfico, perdido numa cidade que se fecha numa sala de cinema claustrofóbica. O preto-e-branco ajuda, mas não é tudo.


A minha intenção é dizer-vos para correrem para o cinema para ver "Down By Law", mas é tarde. Não está no cinema. Também tencionava explicar-vos o que faz um filme de culto, mas para isso precisava de vos estragar alguma da surpresa que vem com o filme. Podia ainda contar-vos porque é que as maiores críticas a Jarmusch envolvem os termos "lento" ou "devagar", mas posso adiantar-vos que não é verdade. Os filmes do realizador têm a velocidade que têm de ter, nem mais nem menos.


Se gostam de ser surpreendidos com ironia, como se alguém estivesse a gozar com a vossa paciência, então este é o filme que têm de ver, com diálogos inteligentes, uma história superior e uma realização de fazer inveja a muito doutorado de Hollywood. Depois, tem o resto: interpretação e banda sonora. Se isso não é tudo, então não sei!...

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