sexta-feira, julho 14, 2017

PELA ESTRADA FORA


"Três anéis para os Reis Elfos debaixo do céu,
Sete para os Senhores dos Anões nos seus palácios de pedra,
Nove para os Homens Mortais condenados a morrer,
Um para o Senhor das Trevas no seu negro trono
Na Terra de Mordor onde moram as Sombras.
Um anel para a todos dominar, um anel para os encontrar,
Um anel para a todos prender e nas trevas os reter
Na Terra de Mordor onde moram as Sombras."

CRÉDITOS COMPLETOS: "A Irmandade do Anel", "As Duas Torres", "O Regresso do Rei"


 Conheci o Frodo teria os meus 16 ou 17 anos, devido a uma banda de rock-progressivo (ou "sinfónico", como quiserem) chamada Tantra, cujo vocalista adotou o alter-ego artístico do personagem de Tolkien. A minha leitura da trilogia não envolveu quaisquer metáforas sobre o nazismo, limitei-me a sair disparado da primeira página do primeiro volume, só tendo parado na última página do último volume. Voltei a pegar nos livros por volta de 2000, quando Peter Jackson (quem?!...), o mais improvável dos realizadores, pegou na aventura para fazer um filme.


Há uma enorme diferença entre ler um livro com 17 anos e repeti-lo com 40. Mesmo antes de ver o primeiro episódio da saga, percebi que Jackson ia ter um problema: os personagens, os locais, eram demasiado fictícios para poderem ser retratados de forma eficiente e credível no ecrã.  Demasiados pormenores eram deixados à imaginação do leitor: a beleza de Liv Tyler, apenas como exemplo, está longe de corresponder às minhas fantasias indescritíveis sobre a princesa Arwen. No entanto, esse foi o primeiro trunfo que Peter Jackson (quem?!...) jogou de forma eficiente: apesar de tudo, existe um elevado consenso entre os novos e os antigos leitores, que as paisagens, os heróis, os ambientes, podiam muito bem ser aquilo que tinham imaginado durante a leitura.


O segundo trunfo de Jackson, foi a escolha dos parceiros na escrita do argumento: Fran Walsh e Philippa Boyers, com quem já tinha trabalhado na história do dramático "Visto do Céu", puseram-se a limar as arestas das quase duas mil páginas da obra de J. R. Tolkien, que estava repleta de episódios intermédios que teriam de ser atirados para o lixo. O que é realmente fundamental e o que é acessório? O que pode ser retirado sem afetar a narrativa central e o que tem mesmo de ficar incólume? No final, com maior o menor desacordo, a linha condutora da aventura ficou intacta nos três episódios da saga.


E agora, o filme propriamente dito. O que esperar de uma aventura começada a escrever nos anos 30, acabada no final dos anos 40 e editada pela primeira vez a meio dos anos 50? O que esperar duma película baseada nessa obra, dividida em 3 episódios, em que o capitulo final fará 15 anos no ano que vem? É que, pensando bem, os efeitos especiais da atualidade, quase fazem com que um troll animado há um quarto de século, pareça pouco mais que um boneco do inicio da Disney!


Esse foi, afinal, o terceiro trunfo jogado por Peter Jackson: não fazer mais do que era possível, de forma a que a credibilidade se sobrepusesse à espetacularidade. Os efeitos especiais conseguem mais e melhor hoje em dia, é verdade, mas os bonecos de "O Senhor dos Aneis" são atuais à sua maneira, não se tornaram mais ridículos que que eram à época da estreia e, sejamos claros, nessa altura não o eram muito. Afinal, quem quiser hoje saborear o filme, vai encontrar exatamente o mesmo que encontraram os espetadoras na estreia: a mais épica aventura do bem contra o mal. Nada mais nem nada menos. E para que não haja confusão, os bons são bonitos e bem comportados, dizem coisas como "há sempre esperança" mesmo nas situações mais dramáticas, e os outros são feios, porcos e maus, mesmo maus até ao tutano.


A história de "O Senhor dos Aneis" é sobejamente conhecida. Embora J. R. Tolkian a tenha escrito como um só volume, por razões editoriais foi dividida em três: "A Irmandade do Anel", "As Duas Torres" e "O Regresso do Rei". Peter Jackson decidiu seguir a lógica da trilogia e realizou uma saga dividida em três capítulos, estreados em 2001, 2002 e 2003, cada um com um sucesso superior ao antecedente. De tal forma, que só quando ficou completa a obra pareceu começar a atrair as atenções para o projeto completo. O último episódio tem mais de 190 prémios espalhados pelo mundo, incluindo 11 Óscars, onde estão "melhor filme" e "melhor realizador".



Sauron, o senhor das trevas, distribuiu por todas as raças - Elfos, os eternos, homens, os mortais ambiciosos, e anões, os gananciosos mineiros - 19 anéis, que certamente os conduziriam à perdição. Nessa perspectiva, criou um vigésimo anel, forjado na lava da própria montanha do mal, que acabaria por dominar todos os outros. É esse último anel que terá de ser destruído nas entranhas de Mordor, a morada de todo o terror, guardada for exércitos de gigantes trolls e assassinos orcs. Essa tarefa titânica acaba por ficar a cargo de um pequeno Hobbit, Frodo (Elijah Wood), que inicia uma viagem cujo regresso não é garantido, saindo da sua pequena terra, o Shire, para aniquilar o objeto da maldição, encetando uma aventura onde se vão cruzar os mais diversos personagens fantásticos: Elfos e Anões - inimigos figadais -, mágicos, reis e belas princesas, horrorosos monstros e Urks implacáveis.


Esta história simples serviu para J. R. Tolkien realçar o melhor e o pior da humanidade: o amor e o ódio, a generosidade e a ganância, a coragem e a amizade contra a opressão. Eu sou um fanático de "O Senhor dos Aneis", como era do livro - ou dos livros, como quiserem -, assisti a todas as estreias na época e entre essa data e hoje já repeti a saga de enfiada 3 vezes. Não é de esperar um profundo debate filosófico sobre estes filmes, que no fundo não passam de uma jornada fantástica, talvez um dos melhores filmes de aventuras e de guerra de todos os tempos.


A trilogia de "O Senhor dos Anéis" dura cerca de 6 horas e (quase) não tem tempos mortos, não aborrece nem por um segundo. Está sempre a acontecer qualquer coisa, os nossos heróis enfrentam constantemente situações que os colocam em perigo, sem que isso crie o que se possa chamar de verdadeiro suspense. Tudo é delineado ao sabor do puro entretenimento e é para isso que foi feito. Como todas as histórias de "bons e maus", os bons ganham e os maus perdem, como tem de ser para o Universo funcionar na perfeição, para cada peça encaixar no seu lugar que lhe pertence - tal como acreditavam os gregos antigos, antes de saber que o Kosmos é caótico e infinito.



O último episódio da saga vai fazer 15 anos em 2018 e a trilogia vale hoje exatamente o que valia quando estreou: uma aventura clássica sobre um grupo de pessoas que, para fazer o bem, tem de enfrentar o poder das forças do mal. Dito assim, pode fazer lembrar alguns filmes de cow-boys de John Ford ou a saga da Guerra das Estrelas. É verdade, Hollywood não renuncia às suas raízes. Às vezes, algumas obras querem fazer parecer o que não são. Neste caso, Peter Jackson não caiu nessa asneira. O que há, é o que está à vista: porrada bem feita, da melhor, durante 6 horas sem parar. Vamos a eles!

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