segunda-feira, julho 02, 2018

ENTRE O INTERESSE E O DEJÁ VU

CRÉDITOS COMPLETOS

Não faltam no cinema histórias de estranguladores a atacar meninas em desespero, a maioria deles de qualidade duvidosa e como veiculo para servir cenas de jovens em topless. Há, por outro lado, exemplos de excelência, no topo dos quais coloco "Frenzy" de Alfred Hitchcock e o seu Robert Rusk que aterrorizava Londres de gravata na mão. Mas há mais: "The Hillside Strangler" de Cuck Parello, precedido em 1989 pela série de TV "The Case of the Hillside Stranglers" de Steve Gethers, ou o negro "The Boston Strangler" de Richard Fleischer, com Tony Curtis e Henry Fonda a brilhar como nunca. Não esquecer ainda que uma das cenas mais famosas de "Halloween" de John Carpenter é a morte da bela Lynda, às mãos de Michael Meyrs, que apesar de preferir brincar com facas, decide usar a corda do telefone para a sua vitima seminua e de camisa aberta.


É por tudo isto que um filme como "A Martifüi Rém" (traduzido para o inglês como "Strangled") corre o risco de passar completamente despercebido ou, o que é ainda pior, ser olhado de lado como mais um "despacha beldades de mamas à mostra", pelo que passou directamente para as prateleiras do clube de vídeo, se é que alguma vez teve a mais pequena oportunidade numa sala de cinema em Portugal, por mais obscura que seja.


O principal defeito de "A Martifüi Rém" é as inúmeras referências que lhe vêem coladas e às quais nunca renuncia, assumindo-as como suas sem pudor. O realizador Árpád Sopsits faz uma pilhagem descarada a todas as cenas que o cinema já nos mostrou antes, mistura-as, agita-as em cocktail e devolve-nos tudo tal e qual como já tínhamos visto anteriormente. À primeira vista, não há nada de novo aqui, apenas a história (neste caso, verdadeira) de um psicopata que se excita a estrangular mulheres - literalmente, neste filme especifico.


Mas este filme também tem qualidades e a principal é a honestidade de não querer parecer o que não é, fazendo com que o espectador nunca se sinta enganado. Durante toda a acção, os actores desempenham um papel que representam honestamente, sem brilhantismo mas com sinceridade, o realizador não se mete onde não deve, dirigindo honestamente uma produção que não tem nada mais a desejar do que o que está à vista. É uma obra que faz jus ao ditado português que "quem dá o que tem, a mais não é obrigado".


Por outro lado, a simplicidade: parco de recursos - pelo menos para os padrões a que estamos habituados -, o filme consegue criar um interesse inusitado na investigação policial, apesar da história nos ser contada em flash-back pelo próprio assassino, o que, vendo bem as coisas, anula qualquer sensação de suspense. Apesar disso, os espectadores que gostam de juntar pedaços de pistas não ficarão desiludidos com o desenrolar da acção, olhada do ponto de vista da equipa de inspectores.


"A Martifüi Rém" irá desagradar a alguns: é um óbvio dejá vu; irá, no entanto, agradar a muitos: os que gostam de juntar peças de puzzles e os que gostam de simples histórias de "stalkers" e serial-killers. Afinal, é uma excelente alternativa à massificada produção americana, servida por uma realização competente e por actores empenhados.

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