sábado, abril 15, 2017

BONS MOTIVOS

CRÉDITOS COMPLETOS

Todos os motivos são bons para dar beijinhos e abraços e "The Sweet Life" usa-os todos, por mais vulgares e batidos que sejam, sem renunciar a nenhum dos habituais clichés do género. Só que fá-lo de forma surpreendentemente interessante, usando toda a previsibilidade tradicional num sentido quase original. O filme começa e acaba de todas as  formas normalmente gastas, mas vai deixando um perfume muito a seu gosto pessoal, quase como se fosse novo.



E isto é tanto mais espantoso quanto Chris Messina (Kenny) e Abigail Spencer (Lolita) não têm nenhuma química especial e Rob Spera - o homem de muitos episódios da série de TV "Mentes Criminosas" - é o mais improvável dos realizadores para este género de filmes. Tudo isto a juntar-se à escrita de Jared Rappaport, do qual retivemos apenas o pseudo-erótico-envergonhado "Blindness" de 1998.


"The Sweet Life" nunca quer parecer o que não é e logo ao fim de dez minutos já sabemos ao que vamos: Lolita introduz-se a Kenny, que olha perdido sobre uma ponte, para as águas do rio de Chicago: "está a ocupar o meu espaço...", o que não sendo a forma mais original para meter conversa é, certamente, a deixa ideal para o espetador não ter mais ilusões. Estamos aqui para os rapazes se conhecerem e se amarem - isto, lá mais para o fim, claro.


O filme fala dum pacto suicida, que leva Kenny e Lolita de Chicago a São Francisco, envolvendo pelo caminho cow-boys homossexuais e transplantes de órgãos, enquanto ambos vão fazendo as pazes com o seu passado tortuoso, que os levou à depressão do presente. E isto, dito assim, sem mais nem menos, não parece ter nada de especial, soa como um evidente deja vu de muitos outros filmes do género. Mas depois, o que está guardado lá dentro, é muito interessante e apelativo.


O que Rob Spera consegue, com a cumplicidade competente de Messina e Abigail, é um romance sempre movimentado, inteligente sem ser pretensioso, composto de situações que poderiam cair numa vulgaridade desesperante, mas às quais vai conseguindo sempre emprestar uma originalidade naif, é certo, mas que fascina pela honestidade e pela simplicidade de meios.


"The Sweet Life" tem comédia, drama e romance nas dozes certas para fazer um filme equilibrado, capaz de manter o espetador interessado do principio ao fim, mesmo que prevaleça aquela sensação de saber como tudo vai acabar. O segredo, neste caso, são pequenas surpresas que vão nascendo sem esperarmos e que funcionam como aqueles pedacinhos de amêndoa que irrompem dum gelado de chocolate, lambido com um prazer inconfessável.

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