sábado, abril 29, 2017

DEPRESSÃO EM CASSETES

CRÉDITOS COMPLETOS

Tem dado muito que falar esta "13 Reasons Why", uma série de TV da Netflix, que tem andado a meter em água a cabeça de pais e adolescentes. No entanto, se querem a minha opinião, por motivos errados, como se não falar nas coisas fizesse com que elas desaparecessem - como aquela ideia idiota do Feng-Shui que "o que não se vê, não existe", coisa que, como sabemos, só serve para confundir os que adoram curar-se com paliativos, renunciando à farmacologia cientifica, mas só até as dores se tornarem insuportáveis. Depois, é um ver se te avias de comprimidos!...


"13 Reasons Why" fala de suicídio adolescente e isso é um assunto que incomoda. Fala das razões que levam uma rapariga de 17 anos a pôr termo à vida, só que em vez de escrever uma tradicional carta, Hannah Baker (Katherine Langford) grava 6 cassetes audio - cassetes, sim, daquelas que levávamos nos enormes "walkman" nos anos 80! - onde vai explicando, lado A a lado A e lado B a lado B, o que a levou aquele acto dramático.


Embora o motivo final e mais importante seja algo previsível, pelo menos a partir do último terço dos episódios, isso não impede que o espetador seja levado numa espiral de outros motivos tão ou mais decisivos, chegando à insuportável conclusão que todos são, de uma maneira ou de outra, responsáveis pelo sucedido. Os amigos e os inimigos, os mais próximos e os mais afastados.


Fazendo uso de uma excelente banda sonora, que vai de Echo & The Bunnymen a Joy Division ou The Cure, de Selena Gomez & Drew Seeley a  Lord Huron ou The Japanese House - todas elas metidas a propósito e sempre com algum significado na ação -, o que mais incomoda em "13 Reasons Why" é a forma como os responsáveis olham para o lado, tentando parecer inocentes. Não há inocentes; somos todos culpados!


Durante 13 episódios - que representam seis cassetes de ambos os lados e um episódio sem cassete, mas nem por isso menos dramático -, "13 Reasons Why" fala de bullying, de sexo, de álcool e de depressão, e de como, mesmo os mais chegados, podem estar desatentos e distantes, ainda que no seu intimo acreditem estar a fazer o seu melhor. É o que Clay Jensen (Dylan Minnette) vai descobrir tarde demais.


Talvez fosse melhor fazer séries de TV sobre zombies, nerds ou viagens espaciais, deixando os assuntos incomodativos para trás. Mas "13 Reasons Why" está aqui para atirar pedras para o charco e fazer ondas, mesmo que isso faça doer o cotovelo das mentes que preferiam ficar sossegadas no sofá, a fazer de conta que não se passa nada lá fora. É que, à primeira vista, esta pode parecer uma brincadeira de adolescentes, mas vai muito mais longe, com inteligência e sem preconceitos. É a vida!... Temos pena!...

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