quinta-feira, maio 11, 2017

CONTROLO MENTAL

CRÉDITOS COMPLETOS

Fazer uma crónica sobre "Upstream Color" é, antes de mais, fazer uma crónica sobre Shane Carruth, o realizador que foi aplaudido de pé no Festival de Sundance em 2004 com "Premier" e que regressa em 2013 com mais um puzzle desconcertante, que, novamente, vai deixar os espetadores dias e dias a tentar colocar as peças no lugar.


Posso garantir que nunca viram "Upstream Color" e, se pensam que viram, é porque consumiram um verme branco que vos deixou em estado alucinado, de mente vazia e completamente à mercê de quem quiser destruir-vos a vida. Foi o que aconteceu com Kris (Amy Seimetz).


"Upstream Color" é tudo: um thriller, um thriller romântico, um thriller romântico de ficção científica. Mas é acima de tudo uma forma extraordinariamente original de contar uma história, que se tem principio, meio e fim é por mero acaso, ou por consequência do consumo de alucinogénios. Se o espetador sabe sempre onde está, não é porque Shane Carruth o guie, é apenas porque viu o principio. O fim, a Deus pertence!...


Kris é vitima de um assalto peculiar, perpetrado com um alucinogéno peculiar. Quando consegue acordar, deu tudo - literalmente - e está arruinada. Mais tarde conhece Jeff (Shane Carruth) com quem parece ter muito em comum. O filme parece então ser dividido em capítulos: o assalto, a relaçao e o epilogo. O espetador que se oriente pelo caminho. Mas uma coisa posso garantir: ninguém vai sair do cinema indiferente.


"Upstream Color" parece ser uma analise dos conceitos de sensibilidade, identidade, memória e perceção, tudo - ou cada um - observado como se estivesse num microscópio, uma espécie de fenomenologia macabra do mais básico da objetividade humana. A metafisica da escuridão. Este é um daqueles filmes obrigatórios, para quem gosta de cinema, independentemente do critério de gosto que vier ao de cima no fim.


Tal como Kris, o espetador é colocado sob um estranho feitiço, que o leva pela mão - não sem enormes solavancos - através dum sonho em várias dimensões. Não há como resistir. No final, a plateia tomará a sua decisão: haverá os que sucumbem ao fascínio; haverá os que vomitarão devido à pressão no estômago. Em qualquer dos casos, vai ser uma experiência para recordar.

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